O início

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Era a rua principal. O meu relógio marcava 05:40 da manhã e o tempo estava gélido. Isso mesmo, eram quase 6 da manhã e eu estava na beira da estrada a espera que um automóvel milagroso passasse. Fazia tanto frio que era capaz de sentir todo o meu sangue congelar, os meus olhos estavam vidrados na estrada, não sabia no que pensar, nem sabia realmente se aquela era a paragem do autocarro escolar, nunca precisei apanhar um.

Queria que o tempo passasse mais rápido, queria que aquele dia terminasse. Senti a minha mochila vibrar. Provocou uma sensação desagradável, mas parte de mim já sabia quem estava a ligar. Debra, minha mãe. Com muito esforço tirei a mochila das costas e procurei pelo meu telefone, havia tanta porcaria lá dentro que perdi a noção do que estava a procura. Encontrei três maços de cigarro, um vazio, fones de ouvido, que foram logo para o bolso direito do meu casaco, chaves de casa, pastilhas elásticas, guardanapos usados, folhas amarrotadas, pacotes vazios de doritos e material escolar. Cadernos, livros e canetas. Encontrei o telefone. Não consegui atender, os meus dedos vacilaram.
Procurei a lata de lixo mais próxima.

A rua estava bem escorregadia, sentia a humidade entrar pelos meus ténis, e por mais que eu estivesse a usar duas meias senti mal conseguia senti-los, devem estar enrugados. Logo que me aproximei do lixo senti o cheiro agonizante, tomei coragem e me aproximei mais. Passei por cima das poças de água e joguei todo lixo.

Voltei ao mesmo ponto e acendi um Black Djarum, olhei para o relógio, 05:47. Sabia que não podia ficar naquele ponto por mais tempo, já sentia as primeiras gotas de chuva do dia a cair. Não conhecia muito bem a geografia daquela cidade, mas me lembrava de um pequeno café, passamos por ele quando chegamos na cidade. Não tinha bem a certeza, mas decidi ir sempre em frente virando para a direita. Claro que a essa hora não deveria estar aberto, mas precisava de um sítio para me abrigar. Conectei as fones de ouvido ao telefone, começou a tocar LetterBomb – Green Day. A chuva aumentava a pressão gradualmente, comecei a correr, foi inútil, as minhas roupas já estavam encharcadas. Passei 5 quarteirões e nada do café. Parei de correr com as mãos nos joelhos para recuperar o folego. Olhei a volta, nada me parecia familiar. Continuei andar, não sabia para onde ir, mas não conseguia ficar parada.

- Hey! Entra no carro… essa chuva não vai parar agora

Não sabia de onde aquela voz estava a sair. Com a chuva conseguia ver pouca coisa, um carro estava parado no meio da estrada. Não sabia se estava realmente a falar comigo

- Desculpa?

- Só quero ajudar… a chuva vai piorar

Não estava a ouvir bem. Algo não soava bem

- Não ando com estranhos

- Estou a convidar uma estranha para andar comigo

Não disse nada e atravessei a rua com cuidado.

Início, meio e fim.Onde histórias criam vida. Descubra agora