All-In

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O Fora-da-lei pediu um conhaque mas não chegou a bebê-lo. Um andarilho sentado a seu lado foi mais rápido, pegou o copo do homem, virou na boca e para terminar sua provocação arrotou bem alto.
- Com sede amigo? - Riu o procurado.
O Andarilho permaneceu em silêncio. O Fora-da-lei perdeu a paciência.
- Espero que esse silêncio seja de arrependimento, você vai pagar por esse desaforo.
O Andarilho arrotou novamente, despejando uma nuvem de mal hálito no rosto do procurado.
- Você é só mais um idiota que vai perder a vida tentando ganhar a recompensa pela minha cabeça.
- E quem disse que quero sua recompensa? - Comentou o andarilho olhando pro garçom. - Me de mais um conhaque, mas um forte mesmo, não sou frágil como esse coitadinho aqui.
O insultado ficou indignado.
- Se você tá me tratando que nem cachorro, é porque sabe quem eu sou. Vou me certificar de te fazer sofrer por isso.
- Além de um covarde, um grande jogador de pôquer, dizem. O que acha de uma partidinha? 50 Coroas na mesa.
O Andarilho tirou um maço de notas e colocou na bancada.
- Então temos um apostador por aqui... Não jogarei jogos para crianças. 200 Coroas é o mínimo pra me convencer.
- Então temos um negociador por aqui... - Remedou o andarilho. - se quer mesmo se divertir que tal 300 Coroas? E com as suas regras.
O Fora-da-lei foi pego de surpresa. Ele sentiu que havia algo errado e sacou sua arma.
- Se você queria jogar valendo porque começar com uma aposta tão baixa? Qual é o seu plano? Ninguém faz o Chacal de tolo! Ninguém!
- Duas perguntas e nenhuma resposta. Esperava mais de alguém com 1000 Coroas pela cabeça, vivo ou morto. Ninguém além de você mesmo tá te fazendo de tolo. Que tal aceitar um sim como resposta?
Chacal tocou o gatilho mas o tiro não saiu. Por que recusar uma aposta alta de dinheiro fácil? O coitadinho já está morto mesmo.
- Você me convenceu, seu merdinha. Vamos jogar pelas minhas regras. 300 Coroas.
Agora em uma mesa própria, com um baralho marcado e um capanga no cangote do andarilho, Chacal dava as cartas.
Ao recebê-las ele olhou discretamente mas o capanga em suas costas gritou:
- Dois de paus! Rainha de ouros!
E o Chacal sorriu. Ele virou a primeira carta e começou apostando alto. Essa rodada foi péssima para o Andarilho. Na segunda rodada, ele recebeu as cartas mas olhou somente uma delas.
- Rei de copas! 8 de paus! - Disse o capanga.
O andarilho olhou a segunda carta só para verificar e o homem tinha razão.
- Parece que a sorte não está a seu favor hein? - Zombou Chacal.
Essa rodada também foi péssima.
No início da terceira, o Andarilho decidiu que ela seria a última.
- Bom, já estou morto mesmo... - Disse o Andarilho conformado. - Vou jogar pra ganhar.
- Esse é o espírito! - Celebrou o Chacal.
As cartas foram dadas mas o Andarilho não as virou. Ele seguiu de braços cruzados. O capanga começou a se preocupar, e se aproximou das cartas para verificar.
- Três de espadas e... ás de espadas. - Ele suspirou com mais tranquilidade.
- Certeza? - retrucou o Andarilho.
Chacal se levantou e atirou no teto para assustar.
- Se você tiver roubando no meu jogo...
- Claro, claro. Eu sei o que vai acontecer. Tá com tanto medo de perder assim?
Chacal tremeu de raiva, mas olhou pra sua própria mão e ela não podia estar melhor.
- Eu aposto tudo. - Disse o Andarilho.
- Esse seu "tudo" é muito pouco.
- Aqui tem mais 200 Coroas. - Disse jogando o dinheiro na pilha. - All-in.
Chacal começou a rir. Ele nunca tinha visto tanto dinheiro fácil assim em toda a sua vida.
- Muito bom. Agora estou gostando. All-in.
- Quero aumentar ainda mais minha aposta. Um puro-sangue preto. Meu cavalo. É herança de família. Deve valer mais de 500 Coroas. Só espero que você não arregue agora.
- Não tenho esse dinheiro aqui nesse momento e nem um cavalo pra apostar, vou ficar te devendo... - Disse babando de tanta satisfação.
- Quero sua arma. Seu revolver pelo meu cavalo. Dizem que a arma de um assassino nunca erra o seu disparo.
- Você pode me chamar de muita coisa mas não de covarde. - Disse o Chacal tirando a arma do coldre. - Você está fazendo isso por que? Já sabe que ganhando ou perdendo você já está morto não é? Quer partir com o orgulho de ter me vencido numa queda mas sinto muito, não vai acontecer. Finalmente entendi seu plano, seu merdinha.
- É, você me pegou. Agora apostas na mesa por favor.
Chacal riu e colocou sua arma junto ao dinheiro. - Hora de virar as cartas!
- Faça essa gentileza. - Disse o Andarilho deslizando suas cartas viradas até o adversário. - Você se lembra de todos que matou? Pergunto pra saber se vai se lembrar do dia que pedeu no baralho.
- Raramente. Especialmente quando mato merdinhas como você.
- Você por acaso se lembra de algum trabalho a muito tempo, onde te pagaram para matar um garoto?
- Já fiz tantos trabalhos assim, que tal me ajudar a refrescar a memória? - Disse entorpecido com o gosto das apostas.
- Um homem que ensinava o filho a jogar baralho. Você o baleou pelas costas e fugiu.
Chacal engoliu seco. Ele se lembrava desse dia pois ouviu as juras de vingança do pai por anos em seus pesadelos. E ao ver que havia na mesa uma carta que não pertencia ao baralho, ele tremeu.
- Essa é minha carta da sorte, que tal virá-la também?
Nessa hora chacal tentou pegar sua pistola na mesa mas o Andarilho foi mais rápido. Ele puxou o cão para disparar mas gritou de dor e errou o disparo. O capanga atrás dele então terminou de descarregou o tambor e o defunto caiu sobre a mesa jogando todas as cartas para cima.
- Não devia ter se afastado da sua arma chefe. Você pareceu uma criança caindo na armadilha dele.
- Se disser mais uma palavra você vai fazer companhia a ele no cemitério! - Disse o Chacal vendo a carta que não era do seu baralho caída no chão.
Era um Ás de espadas, marrom devido ao sangue já seco a anos.

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2020 ⏰

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