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Dara P.O.V.

     E lá estava eu, arrumada da cabeça aos pés plantada no sofá de casa esperando Liz sair do banho, nada fora do normal. 

— Ô Liz, a gente vai se atrasar de novo porra, toda quarta é essa agonia pra sair de casa, VOU TE DEIXAR — berro da sala na esperança de ter um retorno. Nada. 

     Liz sempre foi o meu porto seguro, em quem eu me amparei durante esses 3 anos longe de casa. Na esperança de mudar de vida, vim morar na casa da minha tia na Carolina do Sul para cursar o último ano do ensino médio e tentar uma bolsa na faculdade — que por não sei que milagre, consegui. Por ter condições financeiras melhores e um coração do tamanho do mundo, minha tia materna Claire me acolheu como se fosse sua própria filha, e de quebra ganhei uma irmã, que por sinal se atrasa todas as vezes em que decidimos sair de casa. 

— Acordou estressada hoje né, meu anjo?! A Daisy vai entender nosso atraso e o grupo já tá acostumado com essas situações — ela chega na sala deixando um perfume doce pelo ar, além do deboche de sempre. Respondo com um legal e corro pra pegar as chaves do carro e a bolsa que deixei na mesa de jantar. 

     Nosso destino não é nada mais nada menos do que um grupo de caridade que começamos a frequentar há aproximadamente 1 mês, toda quarta líamos cartas de estranhos da cidade que pediam 3 desejos, geralmente não envolviam coisas materiais e eram resolvidas com um passeio no parque ou uma longa conversa num bar, na sua maioria, eram pessoas que precisavam de serem ouvidas, carentes de atenção, e nos dávamos isso a elas, em troco de vê-las menos tristes, menos sozinhas e mais acolhidas nesse mundo tão egocêntrico. 

   Chegamos na casa de Daisy, a organizadora do grupo, a que tomou a iniciativa e sempre fazia questão de nos receber com cookies de chocolate, um bolo de cenoura fenomenal e um café que só ela sabia fazer, bom, era um dos frutos bons do projeto, devo confessar. 

— Bom dia pessoal — adentramos de fininho na sala aconchegante, pois sabíamos que já tinham começado a pegar as cartas e nos atrasamos pra parte mais importante. Recebemos vários "bom dia" como resposta, umas piadinhas sobre o horário de outros participantes do grupo e um olhar fuzilante de Daisy. 

    Uma roda sempre era formada em torno de um centro de vidro com uma caixa cheia de cartas no meio, todos os 13 integrantes estavam bem acomodados sentados em cadeiras, banquinhos e no sofá, por fim, tivemos que ficar em pé como consequência do atraso. 

— Meninas, peguem uma carta por favor — Daisy aponta para a caixa de cartas. 

    Obedecemos seu comando e eu e Liz retiramos uma carta cada, toda vez esse momento me deixa ansiosa, saber qual a próxima pessoa que eu iria ajudar, vez ou outra pervertidos escreviam cartas dizendo 3 desejos sexuais deles e isso às vezes me assustava (eles eram ignorados, claro). Li as primeiras linhas que eram bem diretas no assunto.

"1. Ir para a praia usando um biquíni sem me importar com o que os outros irão falar das minhas curvas.

2. Me impor diante dos meus pais sobre querer ser artista, e não médica.

3. Dizer para o menino que sou apaixonada que o amo. 

Lindsay Brown, 18 anos

Endereço: Rua(...)

    Eu sentia muito por essa jovem, de verdade, é notável que sofre diariamente com os padrões estéticos impostos sobre nós, mulheres, pois o primeiro desejo envolvia esse tópico. Liz passou a adolescência inteira lutando contra seu peso na esperança de ser aceita socialmente e se encaixar nos padrões inalcançáveis, então eu tinha um exemplo próximo, apesar de não saber na pele o que seria passar por isso.

— Preciso lembrar a vocês toda semana sobre as principais regras: Não se deixem envolver emocionalmente com ninguém, procurem os antecedentes criminais dessas pessoas antes de baterem na porta delas, sempre mandem a localização em tempo real para mim quando estiverem realizando os desejos e se tiverem qualquer problema com os emitentes das cartas, me contatem. — escutávamos isso toda a semana.
  
    Daisy se preocupava bastante com a segurança do grupo e com o andamento do projeto, então sempre que podia, pautava as principais regras.

    Logo depois, alguns foram embora e nós e mais outros integrantes tivemos a sorte de comer o lanche preparado por Daisy, enquanto me deliciava com o bolo de cenoura, dessa vez coberto de chocolate, refletia sobre como eu iria ajudar Lindsay.

— Liz, lê minha carta — entrego a Liz o papel que antes estava em minha bolsa e aguardo sua resposta enquanto dou mais uma mordida nessa amostra grátis de felicidade.
— Dara, troca de carta comigo? — ela pede friamente
— Tem certeza?
— Eu acho que eu sei como ajudar essa menina, entende? — ela justifica e me faz entender o porque do questionamento, ela passou por isso, sabe mais do que ninguém como é difícil, além de ter tido mais experiências amorosas do que eu, podendo ajudar também no terceiro desejo.
— Tudo bem, cadê a sua? Recebo o papel em minhas mãos e o leio.

" Não sei como se faz isso, é só citar o que quer mesmo? Bom, eu queria mesmo era viajar o mundo como sempre sonhei e tentar experimentar o sabor da liberdade. Mas sendo realista e menos melancólico:
primeiramente, quero conseguir um emprego.
segundamente, quero arrumar um amor.
terceiramente, quero ir numa cartomante pra saber sobre meu futuro.

Colin Morris, 20 anos
Rua (...)"

— Peculiar, né? — Liz esboça um sorriso
— Beeem peculiar — respondo igualmente e retribuo o sorriso, e de fato, era algo diferente, acho que vai ser meio complicado realizar essa carta, não envolve desabafos e sim ações mais difíceis, é recusável, já que tem grandes chances de não dar certo, mas eu aceito o desafio. Eu só recuso cartas de pervertidos e assassinos.

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  Primeiramente, obrigada se você leu até aqui, isso já me deixa feliz demaaaais, vou atualizar duas vezes na semana, e espero que gostem, deixem o feedback e apertem na estrelinha se gostaram, isso ajuda demais.

thami.

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⏰ Última atualização: Jun 10, 2020 ⏰

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