Capítulo Único

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Analisei a foto sépia que quase despedaçava em minhas mãos. Era velha e desgastada - pelo tempo e pela quantidade de vezes que já foi manuseada. A foto representava uma caverna pequena e que parecia esquecida por todos. A passagem para o tempo que permeava a maioria das histórias da adolescência da minha avó. Abaixei a foto, vendo que me encontrava diretamente em frente a essa mesma caverna, na pequena ilha galesa de Cairnholm. Guardei a fotografia no bolso do jeans rasgado e respirei fundo, tentando ignorar o quão trêmulas estavam minhas mãos. Esse era o momento que eu esperava há anos, desde que minha avó começou a me contar histórias sobre esse loop e eu me apaixonei. Respirei fundo, sabendo que esse momento mudaria minha vida e eu não voltaria para meu tempo novamente. Eu estava preparada para deixar tudo o que conhecia para trás, com as devidas despedidas feitas.

Apertei a alça da mochila que continha alguns dos meus pertences e entrei na caverna. Eu pude perceber quando entrei em 1943. O ar se alterou ao meu redor, se tornando mais denso antes de aquietar. Os sons se tornaram mais calmos e minha respiração mais pesada apesar de estar em um tempo menos poluído - mas eu podia culpar a emoção. Quando retornei para a praia, o céu não estava mais terrivelmente nublado. Ao invés disso, o azul era predominante, com apenas algumas nuvens. Sorri, porque isso queria dizer que eu havia conseguido. Segui pela praia pelo caminho que eu tinha feito no dia anterior, quando visitei os destroços do orfanato. Não havia sido uma visita agradável. Mesmo sabendo da existência dos loops e em como todas as crianças estavam salvas, ver o lugar aos pedaços foi de cortar o coração. Não é de se admirar que vovó nunca mais retornou àquele lugar. Mas, enquanto refazia o trajeto - familiar e ao mesmo tempo inquietantemente diferente -, fui tentando controlar minhas emoções. Eu não sabia como todos reagiriam à minha presença. Vovó ainda mantinha correspondência com a senhorita Peregrine, mas não sabia qual a extensão do conhecimento deles sobre mim. Muito menos se eles sabiam que eu viria e se seriam receptivos à minha chegada.

Comecei a hiperventilar ao imaginar a possibilidade de não ser aceita, por todos e por um peculiar em especial. Parei onde estava, há alguns metros de cruzar o pequeno riacho antes das árvores que escondiam o orfanato, e tentei respirar fundo. Mesmo não sendo aceita, eu não tinha outra escolha. Vovó já estava ficando velha para me proteger sozinha dos Etéreos e eu não tinha escolha a não ser seguir para um dos loops ao redor do mundo marcados no mapa que vovó me deu - e claro que minha escolha óbvia seria aquele onde minha avó passou quase uma década morando. Quando me senti mais calma, continuei minha caminhada. Ao ver a grande casa - com tijolos avermelhados e flores crescendo pela estrutura - que abrigava os melhores amigos de infância de vovó, eu não consegui evitar um sorriso em meus lábios. A primeira a me ver foi uma garotinha loira e pequena, com um vestido rosa que balançava em volta do seu corpo enquanto corria até mim.

- Eloise! Você voltou!

Meu coração de apertou e o sorriso sumiu.

- Eu... Eu não sou Eloise. Sou neta dela, Wendy. - respondi. Ela parou a minha frente, analisando meu rosto.

Ela pareceu um pouco triste, mas logo abriu um grande sorriso. - Você parece muito com ela. Eu sou a Claire. Vem, você tem que conhecer todo mundo! Vão ficar muito felizes!

Ela começou a me puxar pelo braço e, por mais que eu estivesse ansiosa para conhecer a todos - mesmo que eu já soubesse através das histórias que ouvi toda a minha vida - tinha algo que eu precisava fazer antes.

- Eu realmente adoraria, mas acho que preciso falar com a Senhorita Peregrine primeiro. Pode me levar até ela? Depois você pode me apresentar a todo mundo.

- Claro! Vamos!

Claire me levou até a porta. A cada poucos metros que andássemos, alguma nova criança se virava para ver quem Claire guiava tão animosamente. Murmúrios e cochichos após alguns segundos de silêncio. Minha chegada deixou as outras crianças em alvoroço. Olhos arregalados e faces surpresas, elas começaram a cochichar entre si, mas nenhuma se aproximou enquanto Claire me levava até a porta. Talvez pela minha semelhança com minha avó ou as roupas atuais que usava. Olhei entre as crianças que me espiavam, mas o rosto que eu procurava, no entanto, não estava entre elas.

Idyllic - Enoch O'ConnorOnde histórias criam vida. Descubra agora