Capítulo Único

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  Estava encarando o celular à pelo menos cinco minutos. Estava criando um perfil em um site de encontros. Me recomendaram aquele site havia alguns meses, dizendo que era bom se você quisesse um "encontro às cegas". Você coloca seus interesses de música, filmes e séries e a sua cidade. Preenche a sua idade e o site faz o resto. Te recomenda algumas pessoas, homens, mulheres, não-binários. É só escolher alguém e começar a conversar.

  Estava prestes a confirmar e criar o perfil quando me perguntei se deveria mesmo fazer aquilo. Eliza terminou comigo havia quase um ano e eu ainda não tinha saído com mais ninguém. Às vezes eu saía com Lafayette, Hercules e John para beber, mas não para paquerar. Eu precisava fazer aquilo. Eu tinha que esquecer Eliza e só conseguiria fazer isso dando o primeiro passo.

  Confirmei a criação do perfil e o site pediu para eu aguardar enquanto ele escaneia minhas informações e procura pessoas com interesses em comum. Alguns segundos depois eu tinha 10 perfis diferentes na minha frente. O site só mostrava o primeiro nome, por isso não conseguiria saber se eu já conhecia essa pessoa em questão. Não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

  Dois perfis eram de cidades vizinhas, então já descartei. Não queria gastar tanta gasolina para conhecer alguém que posso não gostar. Um perfil tinha o nome de Angelica. Eu só conhecia uma Angelica: a irmã de Eliza. Não sabia se era ela mas achei melhor não arriscar. Não que eu não gostasse de Angelica, pelo contrário, eu já tivera um crush nela, era só que não é legal tentar esquecer a ex com a irmã dela. Acabei descartando mais alguns perfis por motivos variados até que só sobrou um: um tal de John. John não era um nome tão incomum como Angelica, então assumi que não fosse o John Laurens, meu melhor amigo. Eu conhecia vários outros Johns. John Adams, John Jay, entre vários outros. Resolvi conversar com esse tal John, afinal, não tinha nada a perder.

  Após poucos minutos de conversa percebi que tínhamos muito em comum. Gostávamos da mesma banda, assistíamos as mesmas séries e concordávamos que "A Nova Onda do Imperador" era injustiçado. Conversa vai, conversa vem e chamei ele para um encontro. Algo banal, um almoço no restaurante preferido dele (que era o mesmo que o meu) no sábado.

  Quando contei para Laf sobre meu encontro ele pareceu estranho. Parecia estar escondendo algo de mim. Resolvi ignorar, afinal, o que poderia ser? Conversamos mais um pouco e Laf me desejou boa sorte. Ele alertou que encontros desse tipo podem servir uma torta sabor climão de vez em quando. Não soube o que ele quiz dizer com isso mas agradeci, de qualquer modo.

  Sábado chegou e me surpreendi por não estar nervoso. Eu estava mais tranquilo do que quando chamei Eliza para sair. Acho que é porque eu já conhecia Eliza. Eu estava preocupado em agradá-la. Já John eu não conhecia pessoalmente. Eu não tinha aquele peso de fazê-lo gostar de mim. Era um encontro por aplicativo, se não desse certo tudo bem. Eu não teria que ver essa pessoa no dia seguinte ao encontro.

  Isso era o que eu pensava.

  Vesti uma roupa casual, uma camisa vermelha e uma calça jeans. Peguei minha carteira, meu celular e lá fui.

  Cheguei alguns minutos antes do horário então já peguei uma mesa para dois. Estava me sentando quando me dei conta que eu não sabia como John era e ele não sabia como eu era. Mandei uma mensagem avisando que estava na mesa 7 e John assentiu. Cinco minutos depois eu vejo alguém vindo na minha direção... John Laurens!? Senti meu rosto arder levemente e John parecia tão confuso quanto eu. Se sentou na minha frente com um sorriso desconcertado:

  – Oi Alex...

  – Olá John...

  Silêncio. Acabara de descobrir o que Laf quis dizer com torta sabor climão. O francês sabia de tudo, mas não contou nada. Senti certa raiva dele, mas o que eu poderia fazer? Bem, John estava na minha frente. Nós tínhamos marcado um encontro juntos sem nem saber. Só o que restava fazer era seguir com o encontro.
 
  – Me desculpa por te fazer passar por isso – disse, lembrando de todos os flertes que tinha enviado para John antes de saber que era aquele John.

  – Não tem por que pedir desculpas. Você não sabia que era eu.

  – E nem você que era eu... – John olhou para mim, levemente corado e depois desviou o olhar. Ele sabia que era eu?! Laf deveria ter contado a ele, mas... por que?

  – Laf me ligou logo depois que você falou sobre o encontro – admitiu, como se lesse meus pensamentos –, ele queria saber se eu continuaria com o encontro se eu soubesse que era com você.

  – E você continuou...

  – Sim – mais silêncio – Eu sempre gostei de você, Alex, só não sabia se você gostava de mim. Não sabia se você também gostava de garotos...

  Vários flashes invadiram minha memória. Meus momentos com John Laurens. Desde nossas partidas de boliche mensais até os momentos que ficávamos deitados no sofá assistindo um filme qualquer. Lembrei do cheiro dos cachos dele quando estava deitado no meu ombro. Deus, aqueles cachos! Eu gostava de Laurens, só não sabia disso. Achava que era por ele ter sido meu primeiro amigo, mas não era. Eu amava John, mas era muito bobo para perceber.

  – Eu... – comecei. Laurens ergueu seus olhos verdes na direção dos meus – eu também gosto de você, John Laurens...

  Coloco minha mão na de John, que repousava em cima da mesa. Ficamos assim até que nosso almoço chega. Comemos em silêncio, absorvendo tudo aquilo que aconteceu. Pagamos a conta e resolvemos dar uma volta no parque. Enquanto andávamos, Laurens quebrou o silêncio:

  – Ham, você acha que isso pode dar certo? Quer dizer, eu e você?

  – Isso deu certo pela internet – observei – não vejo porque não possa dar certo fora dela também.

  Laurens pareceu satisfeito com a resposta, pois não perguntou mais nada. Apenas pegou minha mão e olhou para o infinito céu azul. Observei-o enquanto admirava suas sardas. Não sabia como ia ser daqui pra frente, mas ia fazer o possível para dar certo

Essa foi minha primeira One-Shot, espero que tenham gostado!

Desculpe se ficou meio curta, não tive criatividade e nem coragem para fazer mais do que isso.

Talvez algum dia eu escreva sobre o desfecho dessa história, mas por enquanto o final é tão feliz quanto sua imaginação permitir.

É isso então.

Your obedient servant,
Giovanna

Às CegasOnde histórias criam vida. Descubra agora