Laurens encarava o celular, incrédulo. Martha estava com câncer. Ele teria que cuidar de Frances quando Martha se fosse, e, de acordo com os médicos, isso seria logo.
Frances era a filha de John. A filha que ele tivera com Martha. Você pode estar se perguntando por que John, que é gay, dormiu com Martha. Simples: Francis Kinloch. Laurens e ele namoraram por cerca de dois anos e meio até Kinloch o trair. Laurens ficou mal por isso e resolveu beber com Martha, sua melhor amiga. Ele deixou o álcool o levar e engravidara-a. Ele foi pai aos 21 anos.
O pior não era a criança em si. O pior seria contar à Hamilton.
Hamilton e Laurens namoravam a quatro anos. Começaram cinco meses depois de John e Kinloch terminarem. Se John soubesse o quanto ele seria feliz com Hamilton ele nunca teria perdido seu tempo com Francis. Esses foram os anos mais felizes da vida de Laurens. Agora ele corria o risco de terminar a relação por Hamilton não aceitar que John iria ter que cuidar de uma criança.
Seria difícil falar sobre isso com Hamilton, mas John teria que falar.
Dentro da mente de John flashes de seus momentos com Alexander não paravam de chegar. Desde o pedido de namoro em cima da roda gigante até as tardes de sábado preguiçosas no parque. Um turbilhão de emoções estava atuando, e não iria dar trégua tão cedo. Uma parte dele achava que Alex aceitaria, pois ele sempre apoiara seu Jack. Outra dizia que Hamilton o largaria, já que ele não poderia ser obrigado a cuidar de uma criança que não era sua.
Foi após isso que Laurens percebeu que ele estava desviando o foco do mais importante: Martha.
Sua melhor amiga estava com câncer em estágio terminal e tudo que ele havia pensado era sobre sua própria vida. John desatou a chorar. Sua melhor amiga de infância estava morrendo. Sua amiga de infância que lhe ajudou a estudar para as provas de matemática e também ajudou mas suas travessuras. A amiga que ia junto dele tocar a campainha dos vizinhos e sair correndo. A melhor amiga que já tivera.
Enxugou as lágrimas e rumou para o hospital. Não era o hospital de seu bairro, nem de sua cidade. Ficava a quase 100km da casa de John, mas ele não se importou. Ele tinha que ver Martha uma última vez. Não que John amasse Martha, mas era o certo a se fazer. Ela era sua amiga.
Chegando lá, Martha já estava deixando esta Terra, mas ficou o suficiente para ouvir as desculpas de John por tê-la abandonado. Em um sussurro quase surdo, Martha murmurou um "Está tudo bem" e deixou John sozinho no quarto do hospital. Laurens começou a chorar, até que uma garotinha loira abriu a porta do quarto lentamente:
- Mãe?
John enxugou, ou ao menos tentou enxugar suas lágrimas. Levantou da poltrona em que estivera chorando, se ajoelhou perto da garotinha e acariciou seu rosto:
- Sua mãe está dormindo, pequena.
- Quando ela acorda?
- Ela estava muito cansada. Talvez durma muito tempo.
- Mas quem vai cuidar de mim? - a garotinha deve ter entendido o que John quis dizer, pois soluçava enquanto falava.
- Eu - Laurens já não se importava se Hamilton aceitaria continuar com ele após Frances. Aquela garotinha precisava dele. Ele estaria lá para ela.
Laurens pegou a mão da garota e saiu do hospital com ela. Durante o caminho iam conversando sobre como ia ser daí para frente.
- Vai ser muito diferente sem a mamãe?
- Vai ser diferente. Mas nem por isso vai ser ruim.
- A mamãe disse que você tem um namorado. Ele vai gostar de mim?
- Provavelmente, mas se ele não gostar eu vou ficar com você do mesmo jeito.
Frances abraçou o pai, antes de fazer uma última pergunta:
- Posso tomar um sorvete?
Laurens riu e comprou um sorvete de morango para sua filha. Uma filha. O John de alguns meses atrás mal imaginaria que estaria criando uma filha. Ele iria fazer o que fosse preciso, ele ia cometer um milhão de erros, mas ele faria o mundo seguro e bom para Frances, e, se não conseguisse, ele estaria ao lado dela ela. Nós tempos bons e ruins, nós tempos fáceis e difíceis.
Afinal, essa é a definição de um bom pai.
✨
Bônus
- ...Então Frances vai morar com você? - Alexander perguntou, após John contar o que acontecera.
- Sim. Mas se você quiser terminar comigo tudo bem. Sabe, caso você não queira cuidar da Frances.
- Jack, eu quero isso. Eu quero você em cada parte da minha vida. E se isso significar que a Frances vem junto tudo bem! - Alexander se ajoelha no meio do parque, perto do lago, e tira uma caixinha de veludo preto do bolso da calça. John já entendera e começara a chorar, emocionado - John Laurens. Meu Jack. Você me deixa cuidar da Frances com você? Você aceita casar comigo?
- Sim, Hammie!
Hamilton levantou-se do chão e pegou a mão de Laurens para colocar uma aliança em seu dedo anelar. John pega a outra aliança e coloca-a no mesmo dedo da mão de seu amado. Laurens olha Alexander nos olhos e puxa o para um beijo doce e demorado. Hamilton retribui o beijo e coloca sua mão direita nos cachos de John, enquanto sua mão esquerda repousa em sua cintura.
Um pouco afastada, Frances observa a cena do topo do escorregador do parquinho:
- Aquele ali é meu pai - diz ela para uma outra criança, que brincava ao seu lado.
- Qual deles?
- Os dois.
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Notas finais
No começo estava pensando em escrever sobre como o Laurens contou ao Hamilton que Martha estava grávida. Mudei de ideia.
Depois pensei em escrever sobre como o Laurens contou ao Hamilton que teria que cuidar de Frances. Mudei de ideia.
Daí eu percebi que eu, assim como Laurens no começo da história, estava prestando atenção no ponto errado: não era sobre como Hamilton lidaria com o fato de que Laurens teria que cuidar da Frances. Era sobre como Laurens lidaria com isso.
Um jovem de 25 anos cuidando de uma garotinha. Hamilton era só o namorado, poderia pular fora se quisesse. Laurens não.
Acabou nessa história que acabei de ler. Nunca li algo exclusivo sobre a Frances e o Laurens. Acho que foi por isso que gostei tanto.
Não é a melhor One-Shot do Wattpad, mas é uma história que eu gostei de escrever. Acho que isso conta, não?
É isso
Sincerely me,
Giovanna