Pedaços de papel

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    Não sabia como começar a escrever isto, mas acho que desta vez corre melhor. Já rasguei imensos papeis por pensar que seria um conteúdo demasiado inapropriado. Mas também, o que sou eu para tal coisa? Um mero educador de primeiro ciclo.

    Sabem, até acho giro, agora que não sou eu na pele de quem sofre, talvez eu até gostasse. Ver uma criança a ser torturada, sem pais, amigos, ninguém à volta. Está aqui sozinha, sem mais ninguém, de lágrimas nos olhos. Faz-me lembrar alguém, alguém... alguém? Oh sim, mas não foi nada demais, apenas estive sozinho. É normal, não é? Fiz uma vida normal, estudei até ter o emprego que sempre quis... olha que coincidência, uma pétala da minha bela magnólia acabou de cair... onde é que eu ia? Ah sim, talvez estivessem a perguntar do porquê de ser este o meu emprego de sonho? Sabem, acho que é um emprego relaxante, eu via os meus professores de segundo ciclo nas cadeiras, mesmo quando a sala estava toda desorganizada... é, nem todos são assim, mas o que me impede? Simplesmente pensei que ser educador de primária seria ainda mais... satisfatório. Por mais que diga estas coisas, não consigo ver uma criança a aproveitar-se de outra... dirijo-me de seguida e dou uma lição ao que se atreve a fazer tal coisa. Creio que está a correr bem. Pena não conseguir oferecer-vos imagens, talvez devesse gravar um vídeo, não? Se calhar por leitura também dá, então cá vai... 

    Esta é a primeira vez que faço isto. Nunca levei ninguém cá a casa... é estranho. Antes era mais direto, um castigo na sala de aula. Vou tentar repetir o processo, mas apenas por ser a primeira vez, talvez da próxima surja mais alguma ideia, uma daquelas boas à maneira antiga... Alguma vez levaram com uma pedra no braço? E bem na barriga? Não dói assim tanto quanto pensava, por isso é que as crianças devem sofrer com este tipo de pequenos castigos... Podia ser pior, não podia? Querem saber qual foi dos um meus maiores medos e ao mesmo tempo confortos? Uma vez em que o meu pai colocou a minha cabeça debaixo de água quente... eu contei... sim... lembro-me bem, foi um minuto e vinte e sete segundos. Vocês sabiam que quando estão há muito tempo debaixo de água sem respirar, começam a sentir um género de conforto? Parece que o corpo não nos deixa sofrer. Porque será que o meu pai o fez...? Será que ele me queria ver mesmo sofrer? Ou era apenas por ser pai? Cá para mim ele deveria ter usado a técnica "submarino", mas isso lá vos irei contar mais para a frente... Não sei. Bom... Para este rapaz, tenho uma cadeira normal, no entanto, sim... vão dizer que sou um génio por ter pensado nisto. Existe um método de castigo muito antigo chamado: A Cadeira de Ferro. Eu baseei-me nessa mesma cadeira para criar o meu próprio castigo, chamado Pulso de Ferro. A criança senta-se numa cadeira normal, com os pulsos nos braços da cadeira e à volta do próprio bracinho, tem uma argola de espinhos, que, há medida que eu clico num pequeno botão, a argola começa a encolher, apertando assim, o braço da criança. Mas não é nada demais... apenas vou perfurar um pouquinho, de forma a que não cause uma cicatriz tão grande quanto a que eu tenho. Sim, eu próprio testei a máquina... não dói muito. 

Atualização: a criança gritou de agonia(?) mas creio que foi mais do susto. Também, que exagero. Creio que seria boa ideia parar por aqui. Estou alegre... demasiado até.

Finalmente posso dormir descansado e sonhar com o prazer da outra criança quando lhe contar que castiguei o rapaz que o aleijou... coitado.

Fui entregar a criança a casa dos pais, deixei-a à porta e, para ter a certeza de que a mesma não irá fazer queixa aos pais, surgiu-me a ideia de lhe sussurar ao ouvido. Sussurrei, é verdade, as mesmas palavras de há 23 anos atrás: " És um rapaz educado não és? Vais portar-te bem e não preocupar os teus pais.... A ferida passa, o ódio não".

Atenciosamente,

O professor.

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⏰ Última atualização: Sep 29, 2020 ⏰

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