A rainha estava entediada. Imortalmente entediada daquele concelho patético. Por que existia um concelho se Zeus sempre insistia em fazer sua decisão prevalecer a dos demais? Estava prestes a enfiar pregos em seus ouvidos, não havia dúvidas de que todos os outros deuses planejavam fazer o mesmo se escutassem mais um. "Eu sou Zeus, Deus dos deuses, rei do Olimpo." Hera suspirou mais alto de que esperava e diversos pares de olhos se viraram para a mesma.
"Gostaria de dizer algo querida?" Aqueles olhos azuis faiscantes a observavam de perto, Hera sorriu friamente para o venenoso "querida".
"Sobre o que é mesmo esse concelho?" Perguntou a rainha observando suas belíssimas unhas recém pintadas de dourado. "Parei de ouvir no primeiro "eu sou Zeus." A mesma não tinha paciência para os apelidos que seu marido dava e nem para as ameaças silenciosas que as vezes ecoavam sobre o monte Olimpo.
"O concelho está encerrado!" A ordem de Zeus ecoou pela estrutura como um enorme trovão, e mais rápido do que deveria ser possível, Hermes correu pra fora. Hera deixou uma risada escapar, daqueles deuses que ela criará como seus próprios filhos jamais deixariam de impressiona-lá. "Hera queira me acompanhar."
"Sinto muito querido, mas prometi a Éris e Hebe que passaria minha tarde com elas." Como sempre a deusa respondia cordialmente, embora aquele tom apenas disfarçasse a frieza em sua voz. Não sentia absolutamente nada em relação a ele, apenas um seco amargor em sua boca.
"Isso não foi um pedido Hera,e as meninas não irão se importar que eu tome o tempo de sua mãe." Hera quase bocejou quando se deu conta de que estava recebendo uma ordem do grande Zeus. Seguiu-o por entre os corredores que adentravam ao escritório de Zeus, sua túnica da mais bela seda se mexia graciosamente, seguindo os paços firmes de seu marido. "O que deu em você?" Hera sentiu a porta de fechando por atrás dela enquanto Zeus a olhava fazendo com que a mesma se virasse para ele.
A rainha não gostava do escritório onde estavam,era muito impessoal, gelado e de Zeus. As paredes era cinzentas e lhe faziam questionar se aquela sala não era um reflexo menos áspero do Deus. Sentou-se na poltrona preta que ocupava o centro da sala, ainda que ele não houvesse lhe convidado a se sentar, e arqueou uma de suas perfeitas sobrancelhas castanhas. Só de pensar que estava perdendo uma adorável tarde com suas filhas para falar com o marido, sentia seu paladar se perdendo, tinha certeza que nem mesmo o mais puro néctar seria saboroso tão saboroso ali.
"Em mim?" Perguntava cinicamente. "Creio que absolutamente nada." Não havia percebido sua lenta transformação em todos os séculos em que transcorreu, não merecia suas respostas, nem mesmo a mais grosseira delas.
"Não seja impertinente, Hera." Brandiu novamente cheio de fúria mal contida.
"Não estou sendo Zeus" irônica nunca fizera parte de si, ou de seu humor, mas as vezes a morena achava-a muito conveniente.
"Onde está sua coroa?" Perguntou, parecendo só se dar conta daquela falta no momento.
"Eu não a uso faz uma semana", Hera ouviu uma voz em sua mente gritar, mas ao invés disso, agiu como se nem se lembrasse daquela falta. "Decidi não usa-lá hoje." Comentou desinteressada, mexeu num anel de diamantes que ganhara de Hades em seu aniversário de dois bilhões de anos, onde todos lembraram menos o glorioso e ocupado Deus dos céus.
"Por quê? Você gostava daquela coroa." Aquele comentário estúpido lhe rendeu um olhar gelado e um sorriso irritado.
"Tem razão, eu gostava dela." Dizia cheia de convicção e com um tom sínico. "Não gosto mais!"
Hera não queria aquela coroa nem os vestidos que ele lhe dera no início do casamento, não que ainda os tivesse, queimara-os com fogo grego juntamente com o vestido que usou em seu fatídico casamento, e nem mesmo as joias vindas dele. Já haviam nesses que apenas usará jóias que ganhara de seus irmãos e irmãs, e de seus filhos e sobrinhos, e aquelas que acolherá por si só, sem interferência deles.
"Infelizmente Zeus, me cansei de todas as peças que parecem um certificado de estupidez. Desde aqueles vestidos que você teria dado para qualquer uma de suas amantes mortais, até aquelas jóias que eu sempre odiei, mas pensava que você gostava. E então aquela maldita coroa, que já me parece mais um par de chifres do que algo que deveria me orgulhar!" Proclamou com a voz fina de fúria, se levantou tempestuosamente, os olhos cor de mel finalmente mostravam que ela era bem mais do que uma esposa ciumenta, era a poderosa deusa da vida. "Então, espero que tenha uma excelente tarde ajudando a povoar o lar dos semideuses." E e tão sumiu. Desaparecerá no ar, deixando para trás um perfume de rosas, que se aquele Deus houvesse se importado, saberia ser sua flor favorita.
Hera piscou seus belos olhos tentando afastar as lágrimas, eram de raiva, dizia para si mesma, mas sabia que em certa parte eram de dor. Pesar por ter que deixar algo que por longo tempo amou. A sensação irritante de que sua missão não havia sido comprida socou seu estômago. Não era culpa sua, tentará por muito tempo ajudá-lo, tentará manter seu casamento mesmo que a fizesse sofrer, mas não era a mesma mulher. Não era a mesma Hera ingênua, que acreditava em insistir naquilo que era livre.
Sentiu a falta de ar em seus pulmões, braços finos a rodeavam ao mesmo tempo em que um bolo loiro e liso de cabelos acertou seu rosto e se deixou sentir o cheiro de baunilha enquanto retribuía o abraço animado de Hebe, a garota afrouxou o abraço e soltou-a deixando que visse a belíssima imagem que era seu rosto, a pele branca e os olhos azuis, e o sorriso sempre alegre, a garota não aparentava ter mais do que dezesseis anos e era toda Zeus. A garota saiu de sua frente permitindo que Éris a cumprimentasse, a garota tinha o rosto pálido beijou uma de suas bochechas e lhe ofereceu um sorriso gentil, não havia como não ver ambos os pais no rosto da garota, Ela tinha os olhos e o sorriso de Zeus, já em Hera tinha um jeito fechado e tímido cheia de gentileza.
"Estava me perguntando se não tinha esquecido nosso piquenique." Hebe falou, segurou uma de suas mãos e a de Éris as puxando até uma toalha xadrez forrada na grama. Hera sentou-se e admirou o jardim das ninfas que se abria a sua volta, o cheiro delicioso de brownies mortais se misturavam com o aroma das flores, afastando aquela sensação ruim de si.
"Você quis dizer que estava perguntando, a mim não é, Hebe?" Éris perguntou em um tom sarcástico, a garota lhe mostrou a língua sem se importar se a faria parecer infantil. Era por isso que Hera adorava aquelas duas. Conseguiam afastar qualquer preocupação de si.
"Zeus quis falar comigo após o concelho, por isso acabei me atrasando." Explicou a suas filhas, rindo da careta que ambas faziam. Era só ditar o nome que emburravam o rosto.
"Ainda acho que você deveria juntar duas coisas, falar que cansou dele e aí viveria com a vovó, tudo bem que ela é meio chatinha e exigente, mas a gente que manda e fica tudo na paz." Logo se deitaram olhando o céu azulado.
"As coisas não são tão simples na vida real Hebe." Hera se arrependeu do comentário no mesmo instante, algo mudou na feição da garota, como se lembrasse de que realmente não eram, mas em segundos voltou a sorrir e abriu a cesta espalhando a comida pela toalha.
"Talvez não sejam." Ponderou mordendo uma das maçãs douradas do jardim de sua mãe. "Mas pelo menos temos comida."
"O que Zeus queria?" Éris perguntou em seu tom de voz tipicamente doce,mas que se tornou um pouco inexpressivo,mas seus olhos azuis eram preocupados.
"Nada de mais querida." Respondeu delicadamente acariciando as bochechas rosadas de sua filha. E então começaram a discutir sobre banalidades e espantando qualquer tristeza da rainha.
Em pouco tempo os céus estavam nublados e com alguns raios, Hera correu com as garotas para dentro, sabia bem que algo estava errado com seu marido, pois Zeus ecoou o sinal vermelho e aquilo era sinal de que haviam problemas.
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The Olympus problems
FanfictionComo qualquer família mundana os deuses também tinham problemas e a cada palavra dita haviam ainda mais brigas,não Tinha um dia o qual não houvessem brigas,tanto entre irmãos quanto entre os casais. Era tão difícil assim de conviver?