Annabeth saltou do carro e sentiu os grãos de areia grudarem na sua pele, tomando espaço no chinelo e entrando para debaixo do pé e entre os dedos. Tinha a sensação de que, caso decidisse seguir em frente, algo grande a esperava. Sabia que um encontro com os amigos era tudo o que precisava para espairecer a mente depois de tanta confusão, sabia que eles iriam a tirar dessa bagunça que ela própria havia criado dentro da sua mente após tantos anos.
A praia de Long Island continuava a mesma, percebeu, encantada, enquanto caminhava em direção ao único grupo de pessoas presente na praia vazia. Eles estavam jogando voleibol, seis para um lado, cinco para o outro. Magnus e Alex discutiam sobre o saque mal feito do seu primo e ela sentiu uma súbita vontade de chorar de rir. Não sabia que eles estavam ali, imaginou que seriam apenas o pessoal do acampamento de verão. Mas isso não a impediu de continuar andando. Ela nunca foi de hesitar; não por muito tempo.
Claro que, a cada passo que Annabeth dava, sua mente processava mais e mais coisas ao mesmo tempo. A areia no pé, incomodando e grudando; os gritos dos amigos, rindo como se não houvesse nenhum problema no mundo. Leo fazia Reyna rir de uma forma que Annabeth não sabia se já havia visto antes, era tão lindo e natural que ela quase chorou — de novo.
Tinha algo de especial em voltar para Long Island depois dos cinco anos longe. Todos ali agora já eram maiores de idade, diferente de quanto ela saiu; todos estavam na faculdade ou já haviam terminado; mas ainda eram todos amigos. Annabeth sabia que isso nunca iria mudar, não importa quantos anos ela ficasse fora. E, talvez, acima de tudo isso, o mais especial ainda era ver Percy Jackson, ver seus cabelos escuros misturado com o céu, unicamente iluminado pela lua. Ver seus olhos cor-do-mar sob a luz do luar mudarem de cor quando a pupila dilatava, deixando-os mais escuros. Ver seu corpo se mover de um jeito tão simples e familiar, sem a camiseta por conta do calor e de bermuda tactel verde ciano. Ele era a coisa mais linda ali, Annabeth não podia negar isso. E enquanto andava, e se aproximava dele, cada vez menos acreditava que ele poderia ser real; ou que um dia ela já o chamou de seu.
A noite de verão do dia 18 de agosto estava agradável. Annabeth se deixou aproveitar da brisa que o mar lhe proporcionava. Percy foi o primeiro a vê-la, ver seus cabelos louros escuros pela noite balançarem ao vento. Ver seus olhos azuis acinzentados se fecharem e os braços se abrirem. Ver o vestido branco que, assim como o cabelo, se balançava de acordo com o vento.
— Ei! Sabidinha! — Ele gritou e na mesma hora Jason segurou a bola, parando o jogo. Annabeth abriu os olhos e a primeira coisa que sua visão focalizou foi Percy Jackson correndo ao seu encontro. — Estamos precisando de mais um no time, o que acha?
— Vôlei não é muito minha praia — respondeu. — Mas o que acha de uma volta? Fica cinco pra cada lado e eu tenho um tempo com você, a sós.
Ela não viu sinal de hesitação nos olhos dele, rapidamente Percy disse:
— Claro. Sim, vamos lá!
Annabeth ficou vendo ele pegar a camiseta do chão e a vestir. Acenou para os amigos, que não a forçaram a jogar porquê sabiam que os dois precisavam de um momento antes de ela ser totalmente do grupo de novo. Percy voltou com um sorriso brilhando nos lábios, os dentes brancos pareciam reluzir e Annabeth soube que estava sob os feitiços de Percy Jackson novamente — se é que havia saído deles algum dia.
— Vamos? — Ele estendeu o braço, como se fosse a tirar para dançar valsa nos anos mil e quinhentos.
— Vamos. — Entrelaçou o seu braço no dele. Sua pele fria contra a quente de Percy. Não havia nada de novo naquele toque, naquela sensação de borboletas no estômago que só ele trazia à tona.
Os primeiros passos que eles deram foi em total silêncio. Até os gritos e risos dos amigos ficarem totalmente para trás e o único barulho ser o quebrar das ondas, houve silêncio. Não aquele tipo de quietude desconfortável, ambos sabiam que era impossível se sentir desconfortável de alguma forma ao lado do outro.
Percy chutava a areia enquanto caminhava, mas isso não incomodava Annabeth de jeito nenhum. Não esperava outra coisa vindo dele. E amava isso. Amava saber cada passo dele, cada mania, cada traço do seu rosto. Percy ainda era o mesmo de cinco anos atrás, assim como ela. E Annabeth agradecia por isso, porque significava que ainda era fácil falar com ele, independente qual fosse a pauta da vez.
— E aí — ele começou a falar, indo em direção ao mar. — O que a traz de volta à Long Island?
Annabeth segurou uma risada.
— Como se vocês não soubesse, Cabeça de Alga.
Percy jogou as mãos para cima, rendido.
— Você é a sabidinha, Annabeth. Você que é.
— Voltei para casa, Percy — Annabeth não sabia se ele entendia o conceito de casa naquela frase, então prosseguiu: — Voltei pra você. E feliz aniversário, aliás. Vinte e três anos, uh?
— Obrigado, Sabidinha. — Ele chutou uma onda, gotículas de água voaram por todo lugar. — Voltou para mim? Sério?
Annabeth deu de ombros. Não esperava que ele falasse "Sério?" assim, mas o que ela podia esperar? Ser recebida de braços abertos e beijos no rosto pelas pessoas que ela deixou pra trás? Só que Percy era diferente, ele tinha que receber Annabeth assim. Senão, de quê adiantou tudo isso?
— Só se você me aceitar de volta — ele não respondeu, então ela continuou. — Sei que cinco anos em São Francisco, longe de vocês, foi difícil. Pra mim também foi, sabe Percy? Ficar longe de você foi... dolorido.
Annabeth caminhou até o lado dele. As costas de suas mãos se tocaram e Percy sentiu o impulso de entrelaçar seus dedos, mas não o fez.
— Mas você tinha que fazer isso, eu sei Annie. Eu sei. Era seu futuro. É o seu futuro. Tudo bem, eu entendo — ele disse tudo de uma vez, rápido. Queria pular essa parte e ir direto para os beijos e abraços de boas vindas de volta.
— Obrigada por entender — Annabeth disse e segurou a mão de Percy —, Cabeça de Alga.
Ele riu e a puxou, abraçando seus ombros. Annabeth abraçou a cintura de Percy bem forte. Tudo bem, tudo bem, disse para si mesma. Você está em casa agora; está em casa Annabeth. Casa. Percy abraçou seu corpo com ainda mais força, não havia nada melhor no mundo do que sentir os braços dele a apertarem desse jeito e ela sabia. Ele beijou o topo da cabeça de Annabeth e fez um carinho em seu couro cabeludo, sentindo os fios louros se emaranharem nos seus dedos.
Percy segurou o queixo de Annabeth, fazendo-a olhar em seus olhos. Annabeth se lembrou de algo que leu na internet uma vez: "O azul encontrou o verde, a floresta encontrou o mar." Eles eram isso? Uma floresta densa e um mar aberto? Olhando nos olhos de Percy, ela não soube dizer ao certo. Não sabia como as árvores encontravam o mar sem a areia da praia atrapalhar, mas gostava da analogia.
A respiração dele bateu em seu rosto, então ela percebeu o quão perto eles estavam. A pontinha dos seus narizes se tocaram, e logo estavam encostando em suas bochechas e seus lábios se tocaram de leve. Annabeth impulsionou o corpo pra cima e o toque entre eles deixou de ser apenas algo leve e se tornou um beijo.
A boca de Percy ainda conhecia a de Annabeth tão bem que assustava a garota. A língua dele tinha um toque familiar, com sabor de saudade. Tudo naquele beijo era familiar para ela, na verdade. A forma que Percy segurava seu queixo com uma mão e deixava a outra espalmada em suas costas, puxando Annabeth cada vez mais para perto como se eles pudessem se fundir em um ser só. O jeito que ela acariciava a nuca dele, puxando os fios rebeldes que cresciam ainda e sentindo a pele de Percy se arrepiar sob seu toque. A sensação de estar em casa, de pertencer à algum lugar, de ter alguém, de ter Percy Jackson. As borboletas na boca do estômago que não iriam embora, nem se alguém lhe desse um soco com toda a força.
— Sabe de uma coisa? — Percy disse quando seus lábios se desprenderam do de Annabeth.
— O quê?
— Não tem como eu não te aceitar de volta, Annabeth. Tipo, de jeito nenhum. Se eu não aceitasse você de volta eu seria o cara mais idiota e burro do mundo! Cara, você já se olhou no espelho?
Annabeth sabia que era uma pergunta retórica, mas, com um sorrisinho ladino no rosto, respondeu:
— Todos os dias pela manhã.
Percy revirou os olhos.
— Então você sabe que é a garota mais perfeita do mundo, Sabidinha. Você tem uma parte de mim consigo, desde a primeira vez que eu prendi meus olhos em você. É injusto, sabe? Eu ser mais seu do que de mim mesmo.
— Bom... na verdade não é. Considerando que eu sou mais sua do que de mim mesma. Considerando que você tem noventa por cento de mim desde a primeira vez que eu te vi, babando enquanto dormia.
Percy fez careta.
— Ei! Eu não babo enquanto durmo!
— Pra quem você está tentando mentir? — Eles riram. — Sabe, Percy, ir embora foi a decisão mais difícil que eu já tomei na minha vida. Não espero que você me receba de braços abertos assim, sem nem reclamar; talvez nem seja justo. Mas eu voltei, pra você, pra ficar para sempre.
Percy colocou as mãos no rosto de Annabeth, uma de cada lado da mandíbula, e segurou firme, como se ela pudesse escapulir pelos seus dedos como areia. Mas ela não iria embora, não de novo.
— Ei, ei, ei, ei... tudo bem. Eu sei, Annie. Eu sei.
— Me perdoe...
— Eu perdoo, mil vezes se precisar. Perdoo por o que você quiser que eu lhe perdoe.
Annabeth balançou a cabeça em concordância e Percy a puxou para outro abraço, cada vez mais perto. Ela deitou a cabeça no ombro de Percy e respirou fundo, sentindo o aroma de maresia natural do garoto. Não sabia se era possível alguém cheirar a praia, mas Percy tinha esse exato cheiro; mar, areia. A combinação perfeita.
— Hoje quando eu acordei... — ele começou a dizer, sem mover um músculo sequer. Annabeth olhava para as ondas batendo em sua perna, leves como o vento. Imaginou Percy olhando as estrelas no céu brilhante, e se perguntou o que ele achava das constelações. —... desejei um presente bom, que fizesse essa noite valer a pena. Não queria nem vir, mas quando Jason me disse que Magnus e Alex viriam eu imaginei... tive a esperança que você poderia aparecer.
— E apareci.
— E apareceu. Eu estava esperando por você desde que chegamos aqui. Estava já pensando que não viria, mas ouvi o Nico reclamar pro Will que "A Annabeth tá demorando taaanto." — Annabeth riu, imaginando um Nico impaciente dizendo ao namorado isso. E daí você veio e eu entendi que esse era o meu presente, um presente muito melhor do que eu jamais poderia desejar.
— Então eu sou o seu maior desejo, Perseu Jackson?
Eles se olharam. Dessa vez havia algo a mais naquela troca de olhares, algo que fazia com que não fosse mais algo simplório como antes, um desejo incontrolável que faziam seus corações pulsarem mais rápido. Um desejo quente e obscuro. Único, deles.
— Você sempre foi meu maior desejo, Annabeth Chase. Desde os onze. Desde aquele verão de 2005.
Annabeth sorriu.
— Bom saber, Cabeça de Alga.
Eles riram e se beijaram de novo. Annabeth se sentiu como uma pequena criança apaixonada novamente, como no verão de 2005 quando eles se conheceram e seu coração bateu mais rápido pela primeira vez, em sintonia com o coração dele.
— Acho que estou sonhando — Percy murmurou entre um beijo e outro.
— If I'm dreaming baby, please don't wake me up — Annabeth cantarolou e Percy soltou uma gargalhada alta e gostosa de se ouvir.
— Desde quando você escuta esse tipo de música? — Ele perguntou.
Annabeth, agora mais afastada dele, começou a desenhar círculos em cima do peito dele, onde o coração fica dentro da caixa torácica. Seus olhos estavam no rodopio de seu dedo, mas sua atenção estava totalmente voltada pra Percy.
— Desde que minha colega de alojamento ouvia esse tipo de música o tempo todo, vinte e quatro horas por dia nos sete dias da semana.
— I'm free falling all in you — Percy cantarolou contra a boca de Annabeth. — Eu amo você, Sabidinha.
— Eu amo você, Cabeça de Alga.
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Falling all in You • Percabeth OneShot
FanfictionAnnabeth volta à Long Island, depois de cinco anos na faculdade, na noite do dia 18 de agosto. Então resolve fazer uma surpresa a Percy Jackson. Depois de cinco anos, como que ele vai reagir ao ver ela novamente?