O Anel do Tempo

A Águia e o Tigre

Se existe algo que a Sr. Baker e a Sr. Lawrence adoram, é atenção e uma fofoca daquelas. Elas vivem caçando maneiras de animar a pequena vila no distrito de Cotswold, e costumam fazer um pequeno acontecimento bobo se transformar numa notícia exageradamente espantosa. Há quem diga, no entanto, que a rua Green Lake não seria a mesma sem elas. Mas dessa vez a coisa merecia toda atenção. Aqueles que já as conhecem costumam ignorar, no entanto, até aqueles astutos, que não caem em suas novelas chatas, não puderam deixar de dar atenção. E  não deu outra, dias depois os jornais foram publicados, e nele:

Alerta vermelho!

Condado de Gloucestershire é alvo de tempestade descomunal. Meteorologistas afirmam que é a maior do século, rajadas de vento de 150 km/h e tornados deixarão as coisas ainda piores. Com forte agitação marítima, estima-se que a costa inglesa atinja incríveis 20 metros. Centenas de vôos cancelados, anunciaram as companhias de vôo British Airwayz e EasyJett. O Instituto Meteorológico Britânico (IMB) emitiu um alerta vermelho para o sudeste do país. O governo e autoridades meteorológicas do condado de Gloucestershire recomenda aos cidadãos que se distanciem até tempestade passar.

No entanto, mesmo com todo o estardalhaço dos moradores e as notícias - que cresciam exponencialmente - cada vez piores, a pequena casa, igual a todas as outras da rua, excerto que a caixa de correios fora retirada, estava silenciosamente estranha. Na casa moravam apenas duas pessoas, onde o dono, desconhecido até pelas Sra. Baker e Sra. Lawrence que, pelo menos uma vez por mês, tentam descobrir quem é, bisbilhotando e dando desculpas para se aproximarem da casa, estava sempre ausente. Thomas J. Miller era o dono da residência, e, junto com seu filho e único morador conhecido de sua casa, Theodore Miller, eram moradores da pequena casa na rua Green Lake, 12. Diferente de outras famílias onde havia apenas pai e filho, ressentia Theodore, seu pai estava quase sempre ausente.

A Sra. Baker, sua vizinha, que disfarçava sua curiosidade sobre o pai de Theodore em um ato de generosidade e pena, oferecia à Theodore pãezinhos, tortas e bolos de morango toda semana em troca de informações sobre o pai. Theodore, por outro lado, achava a sua companhia um tanto desagradável, mas a suportava graças aos pães e doces, algo que não estava acessível graças a sua situação financeira; seu pai, apesar de deixar tudo que precisa, não o deixa nenhuma mesada para que possa comprar algo. Graças a isso, a relação mútua entre Theodore e a Sra. Baker sobreviveu por anos. Com o passar desses anos, a Sra Baker sentia-se cada vez mais maternalmente responsável por Theodore, e este, por sua vez, ainda a achava uma velha caduca e desagradavelmente chata, o que era ainda pior agora que suas visitas se tornaram mais frequentes.

- Toc.. Toc.. - com uma batida forte e rápida, alguém batera na porta.
Theodore, que estava deitado na sala, aproveitando a insolarada tarde jogando xadrez, onde seu oponente era ele mesmo, levantou-se num susto, derrubando algumas peças. Olhou para a porta, relutante em abrir, e aproximou-se. - Toc.. Toc.. - tornara a bater na porta, dessa vez um pouco mais lenta e gentilmente. Theodore, sabendo quem seria, colocou as mãos na maçaneta e, hesitante, abriu a porta lentamente. A medida que a porta se abria, a corpulenta Sra. Baker revelava-se defronte Theodore, que a olhava irritado por ter estragado sua partida de xadrez. Ela, por outro lado, não notara a expressão de Theodore. Em uma de suas mãos gorduchas segurava uma sacola com - Theodore recuou - doces e pãezinhos, e com a outra acenava para ele, fitando-o distraidamente com seus grandes olhos azuis e balançando a cabeça junto com seus cabelos louros.

- Olá, pequeno Theo. Como vai? Olhe só o que tenho para você. - disse a Sra. Baker mostrando-o a sacola, sorridente.

- Obrigado, Sra. Baker, mas não sei se... - o menino procurava uma desculpa para não aceitar; seu estoque de doces oferecidos pela Sra. Baker era enorme, não aguentava mais comer, mas aceitava apenas pela gentileza.