Epílogo

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Oi ahsers, tudo bem? Só quero avisar que aqui vocês vão reconhecer partes dos diálogos encontrados na série, mas vou logo avisando que aqui NÃO VOU seguir a mesma linha. O final alternativo tem referências a alguns acontecimentos da série, mas outro são totalmente fictícios.
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 "A tentação a qual nos rendemos... é uma prova que era pura timidez o que antes evitava o pecado." –– Oswald Chambers.




Era uma sala pouco iluminada pelo fogo da lareira. Langdon estava sentado em sua mesa quando acenou para mim, indicando que eu fechasse a porta. Assim eu fiz, antes de sentar do outro lado da mesa, um pouco receosa.

– Olá, Mallory. –Ele inclinou-se um pouco para frente, girando o anel que tinha em mãos. Seu olhar era intimidador, como se quisesse me analisar e prever minhas ações. – Sinta-se à vontade, minha querida. Não há o que temer.

Concordei, balançando minha cabeça. Michael abriu um sorriso leve, voltando a apoiar as costas na cadeira em que estava. Eu não sabia o que deveria dizer, não sabia o que ele queria que eu dissesse, então por alguns minutos ficamos apenas nos encarando, e nenhum dos dois fazia questão de desviar o contato visual. Era como se estivéssemos conversando só por olhares, e o mais estranho, é que eu conseguia entender o que ele queria me “dizer”; como uma conexão silenciosa.

Mas aquilo estava ficando desconfortável. O olhar dele não era só fixador, era realmente intimidador. Lembrava o olhar dos Leões nas planícies do Serengeti, na África, que eu vi quando Coco resolveu que faríamos um Safári. Era um olhar caçador, e eu estava começando a me sentir como a presa.

– Por que exatamente me chamou aqui, Sr. Langdon? –Arqueei as sobrancelhas, finalmente quebrando o contato visual para encarar a lareira. – Não tenho muito a dizer, provavelmente a Coco já disse tudo a meu respeito. Depois de falar dela, claro.

– Na verdade, ela só fala sobre si.

Consegui ver com o canto dos olhos que Michael tombou levemente a cabeça para um lado, ainda me encarando com o mesmo olhar de antes. Seu cabelo longo cobriu uma parte de seu rosto por alguns segundos.

– É, ela tem esse costume mesmo.

– É um costume irritante, sem dúvidas. Mas não me entenda mal, eu não vejo o egoísmo como um defeito. Muito pelo contrário, é uma coisa necessária. Você não concorda?

– Mais ou menos –Suspirei, voltando a olhar para o garoto – no geral eu acho isso algo negativo. Por um lado, se eu não fosse egoísta não estaria aqui, não teria sobrevivido até agora. Por outro, haviam pessoas muito melhores do que eu que deveriam ter sobrevivido e deveriam estar no meu lugar, e o meu egoísmo me fez fechar os olhos para isso.

– O que eu acho, é que você não gosta do egoísmo das outras pessoas, mas sente-se confortável em praticar atos egoístas conforme a sua vontade. É pura hipocrisia, Mallory.

– E quem é você para me julgar? –Arqueei as sobrancelhas, enquanto respirava fundo. Langdon ainda mantinha uma expressão calma, embora agora estivesse formando um discreto sorriso em seus lábios – Olha, você claramente não me conhece. Acha que eu estaria usando esse penteado ridículo e essas roupas se fosse egoísta? Se eu fosse egoísta, acha mesmo que eu estaria servindo essas pessoas mimadas e limpando até a bunda da Coco?

– Ninguém está lhe culpando de fazer o necessário para sobreviver.

– As vezes eu tenho vontade de...

– Do que?!

Michael pareceu se animar de repente, abrindo seu sorriso enquanto levantava-se da cadeira e andava serenamente até o meu lado. Ele se inclinou, chegando perto o suficiente para que eu conseguisse sentir seu perfume forte e adocicado. Prendi a respiração por alguns instantes, sentindo meus olhos começarem a lacrimejar ao pensar do que eu queria dizer. Era horrível dizer aquele tipo de coisa, e eu nunca diria aquilo. Mas a presença de Michael tornava aquilo algo impulsivo, como se ele mesmo estivesse manipulando minha mente para desejar aquelas coisas.

O que não era verdade. Eu sempre tive esse tipo de pensamento, mas sempre fui cautelosa e paciente demais para colocar tudo para fora. Langdon me deixava nervosa o suficiente para me tornar impulsiva.

– Sabe, Mallory...Eu tenho um tipo de dom. Uma espécie de visão noturna das almas. Eu consigo ver lados sombrios nas pessoas que tentam os esconder

– Eu não tenho lados sombrios.

– Serio? –Michael se afastou, indo até a lareira e apoiando sua mão em cima dela enquanto encarava o fogo. – Mesmo depois de trabalhar para a Coco durante tantos anos, e ela ter trazido você para cá, porque eu não acreditaria que você amaria pegar algo afiado e cortar a garganta dela? Isso é sombrio, Mallory.

Respirei fundo, pensando na resposta que daria. Langdon não estava errado. Mas eu não podia falar aquele tipo de coisa em voz alta para outra pessoa ouvir.

– Ela pode ser mimada, e sim, as vezes me força a fazer coisas que eu não faria...Mas não significa que quero matá-la.

Michael acentiu, sorrindo como se não tivesse levado meu último comentário a sério. Ele agia com um ar de superioridade até em momentos assim. Era frustrante.

– Você supõe que procuro pessoas de coração puro e sem pecados. O básico do conjunto de regras do antigo mundo. –E então, ele novamente aproximou-se do meu rosto. – Mas eu quero um novo mundo sem hipocrisia. Com pessoas que não apenas provem o fruto proibido, mas também derrubem a árvore para fazer lenha. Eu penso que você foi feita para esse mundo, Mallory. Sinto isso em você.

– Quero ir embora.

– Está com medo. Medo de aceitar quem você é.

– Eu não faço ideia de quem eu sou.

– ...O que quer dizer?

– Sinto que tem alguém dentro de mim, tentando sair. Eu tento controlar isso todos os dias, mas tem ficado cada vez mais difícil.

– Ah Mallory... – O sussurro de Michael fazia cócegas em minha bochecha, onde ele limpou uma lágrima que eu havia deixado escapar. Seu sorriso ainda se mantinha presente. – Essa é sua melhor parte...pare de prende-la aí dentro, escute ela um pouco.

Acompanhei os movimentos de seus lábios enquanto tentava processar o que havia me dito. Eu não conseguia pensar em nada. Só sentia raiva. Raiva de Coco, raiva da Srta. Vanable, raiva do mundo. Raiva de Michael por me fazer sentir tanta raiva.

– Eu...preciso ir.

Não conseguia mais ficar ali. Levantei, na intenção de sair da sala mas Langdon andou atrás de mim.

– Não tenha medo, Mallory. Sou sua chance de viver aqui e...

No momento em que segurou meu braço, senti que meu coração ia saltar pela minha boca. Senti ele bater tão rápido, que meu único pensamento era afastar o garoto.

– ME DEIXE IR.

Gritei e, nesse momento, o fogo da lareira se intensificou, como uma leve explosão, enquanto Michael afastou-se de forma apressada. Ele me encarou,  primeiro assustado, mas logo sua expressão mudou completamente. Sua pele empalideceu, e eu pude notar seus olhos sendo corrompidos por uma escuridão. Era algo assustador, o que me fez recuar alguns passos para trás.

Durou poucos instantes até sua face voltar ao normal, enquanto Michael respirava fundo. Ele parecia tentar agir como se aquele momento não tivesse acontecido, enquanto eu ainda estava paralizada.

– Não deixe esse seu lado escondido, Mallory. Sem ele, quem é você?

–Eu não sei...quem é você?

Não tive resposta. Se tive, era tarde demais para ouvi-la. Eu já havia saído correndo pelo corredor em direção ao meu dormitório.

· Eden · ahs;Onde histórias criam vida. Descubra agora