17 de novembro de 2014.
Às 20:27.
"ᴇᴜ ᴅᴇᴠᴇʀɪᴀ ɪʀ ᴀɢᴏʀᴀ sɪʟᴇɴᴄɪᴏsᴀᴍᴇɴᴛᴇ
ᴘᴀʀᴀ ᴏs ᴍᴇᴜs ᴏssᴏs ᴇɴᴄᴏɴᴛʀᴀʀ ᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ
ᴘᴀʀᴀ ᴅᴇɪᴛᴀʀ ᴇ ᴅᴏʀᴍɪʀ"
- sᴍᴏᴛʜᴇʀ ʙʏ ᴅᴀᴜɢʜᴛᴇʀ"A dor é parte da vida e pode se tornar a própria vida."
Era isso que pensava Frida Kahlo.
Seria então, a morte o eterno lenitivo?
Era isso que perguntava-se London, enquanto sentia todo o seu corpo anêmico.
O teto de cores neutras e misturadas de sua sala de estar eram vistos de forma totalmente aturdida por si.
Ela sempre ouviu falar que antes de morrer, sua vida inteira passa diante de seus olhos. Nunca acreditou em tal confirmação, é claro. Porém, Langford foi completamente enganada por sua certeza.
Toda a sua vida estava passando diante de suas orbes escuras. Passavam em forma de déjà vu. Lembranças rondavam sua mente, ao passo que ela não se esforçava mais para respirar.
Sentia uma leve dor. Dor ao tentar fazer o ato involuntário. Sentia desespero pela falta de oxigênio e raiva pelo organismo humano. Todavia, de certa forma, seus sentidos não estavam mais funcionando corretamente. Ela perdia todos eles, em cada segundo que passava.
O sentimento soturno de proporção enorme acometeu-lhe inteiramente.
London e toda a cena em que a morena se encontrava, estavam rodeadas de tal aura.
Mas talvez, quem deveria sentir determinada aura era as pessoas que ficariam. Afinal, para Langford, depois da morte as pessoas apenas descansam. Os sofredores eram os que ainda viviam.
Seu epítome pelo carma universal era de que depois dela, não existia mais nada. Não existia almas vagando por aí. Poupe-a dessas teorias um tanto equivocadas.
Até o paradoxo da borboleta¹ parece fazer mais sentido para si, do que isto.
Quando as memórias lhe trouxeram os acontecimentos recentes, o desespero tomou conta de seu corpo levemente. A pouca consciência que tinha fê-la pensar nas consequências de sua ausência. Fez ela pensar nas pessoas quais se importava.
Afinal, alguém sentiria sua falta?
Por que Matteo não refletiu sobre tal questão antes de deixá-la? - London perguntou-se aborrecida em completa melancolia, ao sentir a saudade preencher todo o seu interior por se lembrar dele.
A vida é imprevisível, e o controle é uma ilusão.² - Era isso que dizia seu amável irmão, e ironicamente aquela simples frase definia tal situação.
London tentava arduamente respirar, pois a ação era involuntária. Todavia, não aguentava mais o universo odiando-a e procrastinando o acontecimento seguinte.
A morte, seu presságio. Pois já era tarde demais.
No entanto, Libitina³ estava sendo um tanto cruel consigo, pois sua morte estava longe de ser uma ortotanásia⁴.
Langford ainda podia sentir o sangue jorrando de forma rápida e absurdamente exagerada do corte em seu pescoço. O objeto que resultaria em seu exílioª, ainda estava cravado profundamente ali. O cheiro forte de sangue incendiava toda a sua casa. Mas ela não se incomodava com tal odor.
Estava acostumada.
Sua profissão - um tanto exótica e risível para alguns - lhe dava tal fedor todas as vezes que o exercia. Entretanto, ela nunca se importou. Sempre foi boa na profissão e apreciava-a. Achava engraçado o fato de na atual situação parecer inverter os papéis. Ela quem seria fotografada.
Nunca imaginou que isso viesse acontecer um dia. Porém, os fatos atuais não ignoravam a alternativa. Ela quem teria seu corpo estampado nos jornais em uma situação excruciante, no dia seguinte.
Era tudo tão irônico.
Se conseguisse, a morena desataria-se em risadas antes de cair em sono profundo e eterno. London podia ouvir Asleep do The Smith tocando no fundo de toda aquela cena taciturna.
Às vezes, ela se preocupava com coisas banais.
Bufou calmamente, ao sentir a consciência deixando-a devagar enquanto certificava-se de que estava decente naquela noite. Ela não queria ser encontrada sem vida de forma vergonhosa.
Seu último suspiro foi carregado de esperança.
London não achava sentido no paradoxo da borboleta, ou em vida pós-morte. Mas no fundo, ela hipoteticamente pensava sobre universos paralelos.
E se houvesse universos paralelos depois da morte, ela esperava encontrá-lo.
Dilacerada, London esperava desesperadamente encontrar Matteo em um desses universos.
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¹http://malomil.blogspot.com.br/2015/03/o-sonho-da-borboleta.html?m=1
²Frase dita pela personagem Hannah Baker da série Os Treze Porquês.
³Libitina era considerada a deusa da morte, cadáveres e funerais na mitologia romana. Seu nome é usado como sinônimo de morte.
⁴Ortotanásia é a morte natural; morte sem sofrimento
ªExílio é um sinônimo pouco usado para a palavra morte; morte humana.
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Inquérito 47
Mystery / ThrillerApós cumprir seu horário de trabalho, Langford - renomada fotógrafa na área pericial - é encontrada morta em sua própria casa. Seu corpo tem hematomas brutais, aumentando a suspeita de ter sido um assassinato. O Inquérito 47 é aberto pela insigne de...