Primeiro dia (Noite)

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Habilidosamente, Temari amassou a ricota com um garfo. Levantou a cabeça para olhar o relógio do lado da geladeira, teria tempo de sobra para terminar o kunafa antes do ramen ficar completamente pronto. Enquanto jantavam, a sobremesa esfriaria – sendo servida no ponto perfeito.

A loira sorriu. Sempre gostou de cozinhar, então o acerto com sua nova casa não seria um problema. Segundo as regras, de segunda a sexta a cozinha iria se dividir entre ela, Sasuke, Neji, Shikamaru e Naruto — café da manhã e janta, pois como a maioria estudava ou trabalhava até a parte da tarde, o almoço era dispensável — já nos finais de semana não tinham janta, mas as duas primeiras refeições ficavam por responsabilidade do Shino — descobriu se tratar do namorado de Kiba que dormia lá aos fins de semana, com frequência o bastante para justificar sua tarefa fixa. Por não saber cozinhar, o Inuzuka ficava incubido da limpeza dos locais comuns do apartamento — basicamente tudo, tirando os quartos e banheiros.

Hoje era o dia dela, mas por ser o primeiro, os garotos não resmungaram por ficarem sem o café da manhã.

— Uzumaki, se você comer mais uma noz no lugar de descascá-las, teremos um problema — o ameaçou com um olhar que sempre causava efeito em Kankuro, seu irmão do meio.

O loiro barulhento lhe deu um sorriso inocente, e voltou a colocar no prato a noz que iria levar a boca. Temari o tinha persuadido/obrigado a ajudá-la com a refeição, quando Naruto ficou zanzando a sua volta perguntando o que teria para comer, mexendo nas panelas e devorando tudo que pudesse colocar nas mãos.

Depois de um grito, Kiba havia desistido de participar e agora jogava videogame com Neji na sala. Sasuke ainda não tinha chegado – nem Shikamaru.

— Nunca comi uma sobremesa feita com macarrão – o loiro falou ao terminar de descascar as nozes. Naruto começou a juntar as cascas que haviam caído pela mesa em um montinho para jogá-las na lixeira.

— Imagino que não, a comida de Konoha é muito diferente de Suna. — se esticou para diminuir o fogo do fogão, abriu a tampa da grande panela e jogou dez ovos cozidos e partidos ao meio, depois voltou a fechá-la. – Cozinhar algo típico me traz lembranças de casa, espero que gostem.

— Bem, ramen é minha comida preferida e é feito de macarrão, isso não pode ser tão mal. — Naruto falou sendo simpático.

Temari abriu a boca para dizer que, muito provavelmente o outro comeria até mesmo pedras temperadas, visto seu apetite, porém, foi interrompida pela chegada de Shikamaru.

Ele tinha os braços lotados com duas bolsas de compras, havia amarrado o casaco na cintura e dobrando as mangas da camisa social, o que deixou suas tatuagens tribais completamente amostra.

Temari gostou mais daquilo do que deveria.

— Me ajuda com isso, — se dirigiu a Naruto — tem mais bolsas lá fora.

— Sem problemas, — com sua habitual energia, o Uzumaki levantou e saiu pela porta.

Essa era outra regra da casa, não existiam etiquetas ou divisão em relação a comida, afinal, com o apetite voraz e descuidado de alguns moradores, a confusão seria certa — explicação feita por Neji — então, todos contribuiam mensalmente com um valor, e uma vez na semana alguém tinha a missão de fazer as comprar de acordo com a lista deixada na porta da geladeira. Toda vez que algo acabasse, ou que você precisasse, era só colocar na lista — se fosse algo muito específico, acompanhado de marca e quantidade.

— Conseguiu dar sua aula? — perguntou a loira sem tirar os olhos do que fazia.

Ainda se sentia um pouco culpada por sua atitude imatura de mais cedo. Agora, depois de martelar a questão durante o dia todo, podia admitir a verdade: havia ficado magoada por ele não estar lá para recebê-la quando chegou, e aquela tinha sido a forma encontrada para uma retaliação. Mas no fim das contas, apesar de ser seu colega de quarto, Shikamaru não tinha obrigação de ser cortês ou fazê-la se sentir confortável — no lugar de uma intrusa inconveniente que teria que aguentar.

— Sim, meus alunos não são muito mais pontuais. — ele começou a tirar as coisas de dentro das sacolas e guardar nos armários — O que está cozinhando? Tem um cheiro bom.

— Se chama kunafa, é uma sobremesa da minha terra natal.

— Uma feita com macarrão?

— Sim, — o reconhecimento aqueceu seu coração — já comeu?

— Sim, uma vez. — começou a colocar garrafas de leite dentro da geladeira — Meu amigo Chouji é obcecado por comida, sempre me arrastava até restaurantes novos para experimentar pratos diferentes, — parou para encará-la daquela forma preguiçosa que fazia coisas estranhas reviraram na barriga da loira, fazendo Temari prender o ar por alguns segundos. — é muito gostoso.

— Cara, diz que trouxe meu Konnyaku, todo mundo sempre esquece. — um Naruto esbaforido entrou na cozinha, despejou suas sacolas em cima da mesa sem o mínimo cuidado.

— Se está na lista, eu comprei. — o Nara respondeu ameno.

— Todo mundo esquece porque esse troço é horrível, só você come. — Kiba se meteu na conversa ao entrar na cozinha — Quem teve a ideia brilhante de fazer uma geleia de batata, de BATATA?

— É mais gostoso do que as porcarias de morango que você fica se entupindo — o Uzumaki se defendeu.

Enquanto terminava de preparar a refeição, Temari foi engolfada pelos diálogos dos meninos. Ao terminar de guardar as coisas, Shikamaru foi tomar banho e em dado momento Neji apareceu para oferecer ajuda — que ela aceitou de pronto. O Hyuga era metódico em seus movimentos, sua presença muito sólida, mas apesar da postura serena, de tempos em tempos soltava um comentário sarcástico que fazia Naruto, Kiba ou ela, rir.

Tinha mentido na entrevista, apesar de ter dois irmãos, sua convivência poderia ser considerada muito incomum. Órfã de mãe, ainda muito jovem, cresceu à sombra de um pai extremamente autoritário e os problemas psicológicos do irmão mais novo, Gaara, que mesmo não intencionalmente, roubou qualquer pequena chance dela ser uma criança normal. Fora obrigada a amadurecer muito rápido, afinal, Kankuro não iria se virar sozinho, precisava da sua ajuda.

Quando decidiram sair de casa já era tarde demais. Mesmo dividindo o mesmo teto, sua relação com Kankuro era... comedida. É claro que existia amor e afeto, mas não existiam demonstrações abertas, piadas internas, longos diálogos. Ambos tinham seu próprio mundo e estavam satisfeitos em não compartilhá-lo.

A realidade de uma refeição barulhenta, cheia de risos, era completamente nova.

E Temari estava adorando.

-)(o)(-

Temari se encolheu mais nas cobertas. Sabia o que tinha que fazer, postergar não faria com que fosse mais fácil, muito pelo contrário. A covardia não era parte da sua natureza.

Com um suspiro resignado deitou de lado para encará-lo do outro lado do quarto. O cômodo estava um verdadeiro breu, o que talvez facilitasse um pouco as coisas.

— Shikamaru — chamou-o, não era possível que ele já estivesse dormindo, havia acabado de escovar os dentes e deitar — Shikamaru?

— Que foi?

Sua voz estava arrastada, mas esse era o normal dele — ela descobriu no decorrer do dia.

— Desculpa por mais cedo, eu não queria te atrapalhar. — sentiu seu rosto corar e agradeceu pela escuridão.

— Tudo bem, só não demore mais tanto tempo.

— Tudo bem.

Satisfeita por não ter doído tanto assim, a loira fechou os olhos, porém, voltou a abri-los quando o Nara completou:

— Desculpa por desligar a energia.

— Sem problemas, – ela sorriu, mesmo que ele não pudesse ver – foi uma boa estratégia, perdedor.

Seu sorriso aumentou ainda mais quando Shikamaru resmungou um: "mulher problemática".

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NOTA DA AUTORARecebi a proposta de postar essa história na plataforma Dreame e resolvi aceitar!Lá, "Colega de Quarto" está sendo postado diariamente (tenho meta de postagem, então nem posso dá uma de doida). E o melhor de tudo, com um final auternativo, menos corrido e com cenas extras com desfecho dos outros casais (a treta do Neji e Tenten, por exemplo).Segue o link para acompanhar por lá: https://www.dreame.com/story/2431867648

Colega de quarto [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora