O5. "Letras de Sangue"

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Uma melodia sombria. O sonoro soprar dos lábios de trevas. Aquela canção proibida na qual se alastra medo, imersa numa escuridão total, em um timbre lúgubre como um sussurro. Afinal, de quem foi a maldita ideia de cantá-la antes de dormir?

Dizem que a noite carrega consigo uma maldição. Existem coisas que nunca sequer tiveram uma explicação, coisas que, cobertas por um mistério infundado e ocultas em segredos obscuros, não conseguem ser desvendadas por mais que se fosse tentado. Mas, e quem tentaria? Quem teria a ousadia de brincar com o mal?

O sobrenatural é vasto, interpretado de diversas maneiras, julgado por duvidosas fontes. Espíritos que vagam, demônios em busca da perdição, o terror que habita por cada canto escuro ou aí mesmo, ao seu lado; você não está segura. Nunca está. Pecado após pecado, seu corpo é consumido. Medo após medo, a alma, irrecuperável.

Não que isso seja algo para você se preocupar à toa, afinal, estou apenas narrando uma estória.

Mas...não se deixe levar. A realidade pode ser mais obscura que um conto de ficção.

[...]

Um sussurro, outro cochicho. Sua respiração abafada e zunida, o ar lento que saia trêmulo da boca de Jimin e soprava contra o colchão, tudo num harmonioso tom; ríspido e pesado. Podia sentir a ponta de seu nariz congelar, assim como os dedos mínimos do pé que obstinadamente tentavam se manter aquecidos no tecido quente que os cobria.

– Shhh. – Com o dedo indicador pressionado aos lábios e as bochechas gordinhas em tom de rosa, Chul encolheu o corpo uma outra vez ao lado do Loiro, contraindo o pequeno sorrisinho ansioso. Jimin se encolheu junto.

A escuridão abafada por debaixo daquele lençol fazia com que a impaciência de Jimin e inquietação ultrapassassem os limites do suportável. Sua curiosidade mal se suportava ali dentro ao ver os flashes de luz que se distendiam ao lado de fora vez ou outra, até que, finalmente, se apagaram por completo. Ele queria espiar. Seus dedos já coçavam por procurar uma oportunidade de se livrarem daquela coberta que ia da cabeça até os pés.

Apenas precisavam de um sinal. Sinal esse que lhes foi dado alguns segundos depois, em um timbre alheio quase inaudível. A cama rangeu. Um fungando baixinho soou isolado e seu corpo se encolheu ao ter a brisa gelada mais uma vez tocando em sua pele. Deixou que o cobertor descobrisse somente sua cabeça, assim como Chul, que mais parecia ter apenas a ponta vermelhinha do nariz para fora.

Na cama da frente, a cabeça de Kyu surgiu por entre os lençóis. Com uma lanterna fraca na mão, o mesmo franzia o nariz enquanto se aconchegava melhor na cama, afastando os cabelos negros de seus olhos e ajeitando a franjinha mal cortada sobre a testa. O quarto permanecia em silêncio. Todas as fileiras de camas se encontravam no mais absoluto repouso, nem mesmo um chiado sequer. Naquele cômodo, apenas a cortina que balançava suave acompanhando o movimento do vento e os cochichos alheios irrelevantes tomavam o silêncio do lugar.

– Vamos continuar agora? – Kyu pigarreou fraco, ajeitando melhor a postura sobre o colchão e folheando o grande livro que tirará de baixo da coberta. A capa negra não tinha sequer uma letra, um título ou um desenho qualquer que fosse, era apenas a capa e seu pequeno tracejado dourado nas pontas.

– E se a Sra. Lee voltar? É melhor a gente dormir. – divagou Jimin, recebendo um olhar repreensivo de Kyu.

– Eu me sinto um fugitivo da lei. – Chul sussurrou empolgado, sacudindo o corpo de um lado para o outro animado. – Isso é o máximo!

– Não acho que seja uma boa ideia. Nem sabemos o que esse livro é. – Ditou Jimin, agora recebendo os olhares desconfiados dos dois garotos.

Claro, era ele o que mais tinha curiosidade por coisas assim: sombrias, proibidas. Ele que se arriscava nas coisas mais perigosas mais que qualquer um dentro daquele quarto, era ele o maior bisbilhoteiro daquele casarão. Park Jimin já era sinônimo de encrenca, mesmo que ele fosse mais velho que todos ali.

Às 03:00am | myg + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora