Estática

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Novamente a mesma coisa.

Ele tentava dormir, caía no sono por algumas horas e acordava misteriosamente.

Agora estava apenas contemplando sua própria existência enquanto ouvia músicas depressivas, pesadas. A própria atmosfera de sua existência era pesada, carregada de incerteza.

"Nada me tira mais daqui.

Sua presença me sufoca

Quero ir embora daqui.

Por favor, me leve embora."

Ele estivera ouvindo a mesma música por horas a fio. Às vezes o tempo não passava para ele, era como se estivesse preso.

"Sim, embora."

Não aguentava mais, ele precisava sair daquilo, mas não podia. Sentia-se preso na própria mente.

"Eu lhe imploro, me deixe ir embora!"

O instrumental da música começou a tocar aquela amarga melodia, tão doce para seus ouvidos. Fazia algum tempo que ele estava na mesma situação.

Ele pausou a música e deixou seu celular de lado.

Sanidade.

Ele não se lembrava mais da última vez que tinha se sentido bem consigo mesmo. Estava afogado na própria miséria e na própria condição. O sofrimento tinha se tornado hábito.

Já tinha procurado psicólogos, psiquiatras, neurologistas, padres, pais de santo, tudo o que podia. Ninguém lhe dava ouvidos.

"Por que ninguém me ouve? O que foi que eu fiz?"

Cinco horas haviam passado desde tudo aquilo.

Tempo.

O tempo passava tão rápido.

Às vezes ele olhava para o único registro de quando era criança. Seus pais o seguravam no colo sorridentes.

Onde estavam seus pais?

Ele não sabia. Não pensava nisso.

Ele não pensava em nada, seus pensamentos não eram mais definidos.

Seu mundo era a estática.

"Estática" era o único conceito que ele podia usar para descrever o que passava pela sua cabeça.

Duas horas haviam passado.

Era a hora do almoço. O que ele tinha comido ontem? Nem ele sabia. O que ele ia comer naquele dia? Não sabia também.

Algo o impedia de sair de casa, ele não sabia o que era.

Talvez a mesma coisa que o impedia de ser feliz.

Uma hora havia se passado.

"Quem me impede de ser feliz?"

"Eu mesmo."

"Eu não nasci assim."

"Como você nasceu?"

"Não sei."

"Quando você nasceu?"

"Não sei."

"Onde você mora?"

"Não sei."

"O que-"

Seus pensamentos foram cortados de novo. Era o fim de um dos raros monólogos. Ele sabia que não sabia de nada, mas não percebia. Não sabia que não era normal.

"O que é normal?"

Nenhuma resposta de si mesmo.

"Por que-"

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