oneshot

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Ele estende a mão, e ela, hesitante, aceita.

Seus pés esmagam poças através das ruas,

Apesar de tudo, eram apenas crianças.

E os pingos de chuva escorrem por seus cabelos,

E pela primeira vez ele a vê sorrir.

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Quando o céu está cinzento e a chuva torrencial lava as janelas, ele sempre se mantém em silêncio. As gotas escorrem rápidas pelo vidro, como se estivessem com pressa de chegar a algum lugar, e ele as acompanha com o olhar, debruçado sobre o braço do sofá. Aquilo o faz se lembrar de alguns anos atrás, onde a chuva das tardes de verão era sempre encarada como um desafio, como um obstáculo a ser superado, enquanto ele corria por entre as ruas com seus cabelos molhados grudados no rosto, a água fria encharcando suas roupas. Naquela época ele ainda não sabia o que era se sentir cercado por todos os lados, como era sufocante ser como um pássaro preso por trás das grades de ferro, como era ter muralhas que pareciam prendê-lo em seus próprios pesadelos.

Mas ele ainda podia se reconfortar nas lembranças.

Os olhos dele estão nublados, opacos, como se há muito tempo tivessem desaprendido como demonstrar propriamente as emoções. Eren olha para os vincos do teto e passa a escutar o barulho das gotas que correm pelo telhado, ficando assim por muito tempo, perdido dentro de sua mente, alheio ao que acontece ao seu redor – mesmo sabendo que não está sozinho. Mikasa coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e caminha pela sala, sua voz melodiosa cantando alguma cantiga de infância que Carla costumava cantar para os dois antes de dormirem. E ao ouvir aquela voz, pouco a pouco ele se dissolve de seu torpor, seus olhos verdes fixando-se nela.

— O que você está fazendo?

O clarão de um relâmpago ilumina os dois por um instante, tornando a desaparecer. Ela dá de ombros, ignorando a pergunta. Dobrando um pouco a manga de seu quimono, ela coloca alguns livros no lugar na estante, a música ainda soando como um mantra em sua voz, e ele a observa em silêncio, como se pela primeira vez estivesse se dando conta da presença dela ali. O vento passa a soar mais alto, penetrando pelas frestas das janelas, fazendo os cabelos escuros dela se movimentarem de leve, e Eren se deixa levar por aquele sentimento tão familiar que parecia ficar mais forte toda vez que ela estava por perto. E ele sabe que ela é a luz que ainda consegue livrá-lo da escuridão que povoa seus pensamentos mais profundos, e às vezes ele acha que ela também sabe disso.

— Por que você não saiu hoje também? — ele pergunta, olhando tão diretamente para ela que a faz corar.

— Porque eu sabia que você ia ficar.

Mas o tom dela não é muito convincente.

— Você sabe que eles não me deixam ficar sozinho aqui — ele poderia substituir o "eles" por "Levi", mas apenas resmunga, jogando-se no sofá novamente e escondendo os olhos com um dos braços. — Tenho certeza que te pediram pra ficar, senão você não estaria arrumada desse jeito. Parece que você estava pronta pra sair.

Mikasa encara as mangas decoradas de seu quimono vermelho que havia comprado na cidade semanas antes, um calor repentino surgindo em seu rosto. Aquelas cores e bordados lembravam vagamente das roupas de seda que sua mãe costumava usar e ainda estavam bem vívidas em suas lembranças, e era apenas por isso que ela o havia escolhido, jamais imaginaria que ele notaria esse tipo de coisa.

— De vez em quando minha mãe se vestia assim dentro de casa — ela se senta na beirada do sofá, próxima a ele, mas desvia o olhar de um jeito que procurasse alguma desculpa. — Não é novidade pra mim.

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