Appreciation

157 17 6
                                    

Riza Hawkeye, como era de conhecimento geral, era uma pessoa muito exigente consigo mesma. Dona de uma aparência invejável, os famosos olhos mais precisos do exercito de Amestris e a, mais famosa ainda, disciplina, a Primeiro Tenente orgulhava-se de ser respeitada e temida. Orgulhava-se também, de sua imagem de mulher bem-resolvida.  Mas mesmo sendo muito exigente, mesmo sendo tão disciplinada, havia um assunto pendente em sua vida, o qual ela não conseguia resolver. Ela simplesmente tentava, com todas as suas forças não pensar nisso, por puro medo ou, talvez, falta de talento para lidar com a situação. Tal assunto tinha, como era de se esperar, nome e sobrenome, além por volta de um metro e oitenta centímetros de altura.

Apesar do que se possa pensar, Riza Hawkeye estava muito bem assim. Quer dizer, era do que ela tentava se convencer.

O relógio anunciou que o expediente estava quase terminando e seus companheiros começavam a bocejar e demonstrar sinais de cansaço e por mais que a loira mantivesse sua postura, para ela também havia sido um dia bem cansativo. Não via a hora de sair daquele quartel.

Foi quando um assunto surgiu entre eles. O local do Happy Hour. A tenente não lembrava de que aquele seria o primeiro Happy Hour que passariam juntos depois de terem voltado a formar o Mustang Team. E na Cidade do Leste, onde tudo havia começado. Sendo assim, mesmo que estivesse cansada, ela teria de ir. Ficou decidido que iriam para um bar.

Algum tempo depois, Riza andava apressada pela rua, em direção ao local. Estava atrasada, pois insistira que precisava tomar um banho antes de ir.

Quando chegou à porta, precisou de alguns segundos para recuperar o fôlego. Arrumou o cabelo e a gola de sua camisa, certificando-se de que sua nuca estaria coberta quando tirasse o casaco e empurrou a porta. 

O ambiente era meio mal iluminado, com jazz tocando, pessoas conversando e fumaça de cigarro.  Sentados em frente ao balcão estavam os militares conhecidos, conversando casualmente, bebendo, tudo como de costume. Eles se viraram, acenaram para Riza, quando ela se aproximou, alguns alegremente, talvez já um pouco afetados pelo efeito da bebida e abriram espaço para que ela se sentasse entre Roy e Breda. Assim que o fez, pousou seu casaco sobre balcão e pedindo uma taça de vinho tinto, passou a se sentir um pouco mais a vontade.

Apesar de terem-na interado na conversa e falassem animados, a tenente estava um pouco incomodada com algo: Roy agia de forma estranha. Normalmente ele estaria bebendo menos e conversando mais, mas no momento o coronel se encontrava com o rosto apoiado na mão, os olhos perdidos, uma expressão séria e interagindo pouco. Ele nem tomara conhecimento das mulheres que tentavam chamar sua atenção a qualquer custo, a sua volta. Não que ele normalmente se importasse, mas como pensava Riza no momento quase ironicamente, havia uma que estava prestes a se despir.

O tenente Havoc notou que olhava a cena um pouco intrigada e lhe falou de forma que Mustang não pudesse ouvir:

-Está assim desde que chegou. Também acho que bebeu um pouco além da conta, se é que me entende.

A loira não respondeu, apenas balançou a cabeça em compreensão.

Bebida, tempo passando, risadas, vozes embargadas, jazz. A noite corria rápida e nada mudava apenas o fato de que Riza se sentia cada vez mais cansada. Todos já haviam dado risadas das tentativas de um Havoc, bêbado, levar uma mulher para a pista de dança e quando ele enfim  conseguiu, instalou-se um silêncio entre o grupo. Não era um silêncio incômodo, era um silêncio bom, um silêncio entre pessoas que eram capazes de se divertir depois de tudo o que haviam passado, de tudo o que haviam visto. Um silêncio que representava uma compreensão e uma paz que não precisavam de palavras.

Ainda sorrindo, eles se encararam, um por um e Riza pôde sentir aquilo, aquela confiança, porém quando seu olhar cruzou com o de Roy o seu esboço de sorriso se esvaiu quase imediatamente. Ele não a olhava da maneira que ela esperava, da maneira de sempre. Aqueles olhos negros tinham um brilho diferente do que ela estava acostumada. Talvez fosse a bebida, ela não sabia, mas a tenente ficou sem fôlego. O que ela sabia era que ele queria lhe dizer algo que pela primeira vez, em muitos anos, não conseguia decifrar.

AppreciationOnde histórias criam vida. Descubra agora