XI - Meg na Feira das Vaidades

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— Penso que seria a maior felicidade do mundo aquelas crianças terem sarampo agora — disse Meg, num dia de abril, enquanto arranjava a mala de viagem no quarto, cercada pelas irmãs.

— Foi tão bom Annie Moffat não se ter esquecido de sua promessa! Uma quinzena inteira de divertimentos é coisa verdadeiramente deliciosa — replicou Jo, parecendo moinho de vento, a dobrar os vestidos com seus longos braços.

— E com um tempo lindo deste; estou tão satisfeita! — acrescentou Beth, guardando com cuidado as fitas para o cabelo em sua melhor caixinha, emprestada para a grande ocasião.

— Tenho esperança de algum dia também poder usar todas estas bonitas coisas — dizia Amy, com a boca cheia de alfinetes que ia artisticamente espetando na almofada da irmã.

— Gostaria que todas vocês fossem; mas, como não é possível, contar-lhes-ei minhas aventuras quando voltar. É o que posso fazer de melhor para pagar a bondade de todas, emprestando-me os seus objetos e auxiliando-me nos apertos — disse Meg, relanceando um olhar pelo quarto.

Pareciam quase terminados, a seu ver, os simples preparativos.

— Que lhe deu mamãe das suas preciosidades? — perguntou Amy que não estivera presente na hora da abertura de certa arca de cedro, na qual a sra. March guardava umas relíquias do esplendor passado, destinadas às filhas na ocasião própria.

— Um par de meias de seda, aquele lindo leque com relevos e um belo cinto azul. Eu preferia o vestido de seda violeta; mas não é ocasião para pedi-lo, portanto, devo contentar-me com o meu velho de tarlatana.

— Ficar-lhe-ia bem minha saia de musselina, na qual assentaria otimamente o cinto. Pena é que eu tivesse quebrado o meu bracelete de coral, senão você poderia levá-lo — disse Jo, que gostava de dar e de emprestar, mas cujos objetos estavam frequentemente estragados devido ao muito uso.

— Há na caixa uma linda pérola antiga, mas a mamãe acha que as flores naturais são o melhor ornamento para uma moça e Laurie prometeu mandar-me todas as de que eu necessitasse — sobreveio Meg. — Agora, vejamos: aqui está o meu vestido de passeio, o pardo... Encrespe a pena de meu chapéu, Beth... O de popelina é para os domingos e para reuniões íntimas... Parece um tanto pesado para a primavera, não acham? O de seda violeta ficaria tão bem...

— Não pense nele; leve o de tarlatana para as grandes reuniões; de branco você sempre parece um anjo — disse Amy, pensando na pequena coleção de objetos luxuosos que lhe deliciavam a alma.

— Não é decotado, nem bastante comprido, mas não faz mal. Meu vestido azul ficou tão bonito depois de virado pelo avesso e enfeitado de novo, que me parece um vestido novo. Meu manto de seda não está muito na moda e meu chapéu não é bonito como o de Sallie; não gosto de dizê-lo a ninguém, mas estou muito desapontada com a minha sombrinha. Pedi à mamãe uma sombrinha preta com cabo branco, porém ela esqueceu-se e comprou verde com um cabo amarelado e feio. É um artigo forte e elegante, portanto não devo queixar-me, mas sei que me vou envergonhar ao compará-lo com o de Annie, que é de seda e de ponteira dourada — suspirou Meg, olhando para a sombrinha com grande desdém.

— Pois troque-a — aconselhou Jo.

— Não farei isso; iria melindrar mamãe que faz grande sacrifício para me dar as coisas. É uma ideia tola de minha parte, a qual devo abandonar. Tenho para me consolar as minhas meias de seda e dois pares de lindas luvas. Você foi muito delicada em emprestar-me as suas, Jo. Sinto-me rica, elegante, com dois pares novos e as velhas limpas para o uso.

E Meg lançou um olhar satisfeito à caixa das luvas.

— Annie Moffat usa laços azuis e cor-de-rosa em suas loucas de dormir; devo pôr alguns nas minhas? — perguntou ela ao trazer-lhe Beth uma pilha de toucas de musselina, brancas como a neve, saídas de pouco das mãos de Hannah.

Mulherzinhas (1868)Onde histórias criam vida. Descubra agora