Como de costume, no domingo de manhã, já estava me arrumando para ir ao culto, acompanhada de minha família. Estava vestida adequadamente, com um vestido que cobria totalmente qualquer parte volumosa do meu corpo, na tentativa de afastar olhares maldosos dos homens, satisfazendo o desejo de minha mãe, que havia comprado o vestido justamente com esse propósito.
Ser a filha mais nova do Pastor da pequena cidade em que morámos, exige bastante de mim, pois os olhares estão sempre voltados há mim, para eu servir de bom exemplo de filha, para os outros irmãos da igreja. Estou sempre me esforçando ao máximo, para não envergonhar a família, ao contrário do meu irmão Jackson, a ovelha negra da família, como meus pais o chamavam.
Ao contrário de mim, ele sempre expôs suas verdadeiras vontades, não deixando-o levar pelas regras dos nossos pais. Ele era totalmente livre, e eu o invejava, de certa forma.
Mas não posso reclamar, tão pouco fazer o mesmo que ele, senão o final desta história seria plágio, acabar tendo que morar de favor na casa de seu amigo. Apesar de tudo, eu tinha algumas regalias em casa.
Desço desajeitadamente as escadas, pois era a terceira vez que chamavam por meu nome, para irmos logo para igreja. Apesar de ser praticamente há duas ruas da minha casa, sempre gostavam de chegar com antecedência aos cultos, para poder dar atenção aos congregados da nossa igreja.
Como havia dito, não era nada fácil ser a filha do Pastor.
Ao chegar na igreja que foi repassada de geração para geração da família Santiago, pude observar atentamente, o quanto as pessoas acabam se apegando a fé a Deus quando estão precisando de amparo.
Estávamos na metade do culto, e minha cabeça parecia que estava prestes a explodir, embora não estivesse fazendo nada demais, além de ouvir a voz de meu pai ecoar pela igreja, pregando as palavras de Deus e da salvação eterna aos seus filhos. Era um tanto quanto cansativo, me esforçar ao máximo para não cair no falatório da igreja, como a outra filha desinteressada da família, isso nunca poderia acontecer, meus pais morreriam de desgosto.
Respiro fortemente, até o andar de cima da igreja, vulgo meu esconderijo, onde consigo escapar sem ninguém me ver, sem nenhum olhar curioso colocado sobre mim.
Tinham alguns restos de latas de tinta espalhadas pelo chão, da última reforma que fizemos, o local era utilizado como sótão, para guardar algumas coisas velhas, sem muita serventia.
Estava vasculhando o que podia, quando uma voz me faz tirar a atenção de alguns papéis.— Desculpe, não sabia que tinha alguém aqui. — Uma voz totalmente suave adentrou em meus tímpanos.
Era um garoto, de aparentemente minha idade. Seus olhos chamaram-me muito atenção, eram verdes como safiras. Era muito bonito.
— Sem problemas, tem bastante espaço aqui! — O respondo, colocando as mãos em meus quadris olhando ao redor.
— Isso é verdade, mas certamente haveria mais se colocassem algumas coisas fora. — Ele riu, enquanto olhava as velharias espalhadas.
— Concordo plenamente, a propósito, irei dar essa dica para o meu pai. — Gargalho, colocando as mãos em meu rosto.
— Mas quem é seu pai? — O garoto dos olhos verdes semi-cerra os olhos, tentando adivinhar. — Afinal, quem é você? Meu Deus, estou sozinho em um sótão com uma desconhecida! — Falou fazendo drama, como se eu fosse uma maluca, que o mataria e logo após rezaria por sua morte, por estar em uma igreja.
— Amélia, prazer. — Ignoro totalmente a primeira pergunta, para não ter que ser tratada de forma diferente.
— Eu sou o Harry! — Disse ele apontando para seu corpo, fazendo graça como uma criança.
Harry me pareceu ser bem interessante.
— Tenho que ir, em breve minha mãe estará chamando a polícia para tentar me encontrar.
— Que exagero, você nem deve ser tão importante assim...
— Ela é louca!!!
Dou risada, largando em qualquer canto o velho quadro que estava em minhas mãos, que acaba por deixar minhas mãos completamente empoeiradas, fazendo com que eu bata uma na outra, para fazer a poeira sair.
— Espero te ver outro dia, Amélia. — Ele disse baixinho enquanto descia, mas pude ouvir sua fala.
— Me verá, mas enquanto isso, sinta saudades minhas, meu querido Harry! — Grito para que ele pudesse me ouvir.
Ao aterrizar na realidade cristã, vejo minha mãe me olhando de longe, com uma cara de desaprovação total, me alertando que mais tarde iríamos conversar. Minha dor de cabeça iria piorar ainda mais.
Peço ajuda dos anjos, de Deus, para qualquer divindade desse mundo existente, para ouvir o sermão ao chegar em casa de Eloise Santiago, minha mãe.
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A Filha Do Pastor
RomanceSer conhecida como a filha do pastor Santiago, não era nada fácil. Principalmente na minha cidade, onde todos nos conhecem pelo sobrenome e constantemente geram comentários sobre isso. Ser a boa moça não era nada fácil, principalmente, quando os jov...