Capítulo 1 - Bury a Friend

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Eu não me lembro nitidamente de como tudo começou, mas creio que um bom ponto de partida para contar minha versão dessa história: foi no último dia em que permaneci morando debaixo do mesmo teto em que meu pai.

Eu me recordo de ter sido acordado com batidas suaves na porta do meu quarto. Assim como me lembro de a forte iluminação dos raios solares entrando em contato com meus olhos sensíveis. E tudo o que eu mais queria naquele momento era me embolar nos lençóis de seda, virar para o outro lado e voltar a dormir. Contudo, por mais que os punhos não tenham aumentado sua força em nenhum momento, as batidas se tornavam cada vez mais insistentes, e minha cabeça doía na mesma intensidade com todo aquele barulho repetitivo.

Por alguns bons segundos eu ponderei se deveria realmente atender aquelas batidas ou apenas continuar ignorando, mas eu logo me sentei em meu colchão e, com o lençol não mais cobrindo a parte superior de meu corpo, senti a corrente de ar se chocando na minha pele desnuda, me fazendo perceber a minha falta de roupa naquela área. Com os meus olhos semicerrados e a vista embaçada, procurei pela minha camisa do pijama, encontrando-a toda revirada em cima da cama. Vestindo-me e cobrindo meu corpo, autorizei a entrada.

— Pode entrar! A porta está destrancada. — Eu falei alto, com a voz saindo um pouco rouca e falha, sentindo minha garganta seca começando a ficar irritada.

A pessoa do outro lado por um momento me deu a impressão de estar com receio, pois levou um tempo para abrir a porta, no entanto, quando ela abriu eu desejei que ela tivesse desistido. Era a esposa de meu pai — Charlotte ­— quem estava batendo na porta e agora parada no batente dela olhando para mim com um sorriso meigo nos lábios. Eu estava pronto para pular da janela do terceiro andar caso ela desse mais um passo adiante.

Não que eu tivesse grandes motivos para isso.

Charlotte era uma típica mulher norte-americana, jovem e bonita. Ela era alta e tinha a pele caramelo com os cabelos pretos. Poucos anos mais velha do que eu. Enquanto eu estava para completar meus vinte de dois anos, ela estava com vinte e cinco. Sua personalidade extremamente agradável foi o que me deixou com receio dela. Essa mulher sempre me passou um ar de duas caras e, minhas desconfianças se intensificaram ainda mais quando ela começou a me apoiar em todas as minhas atitudes e desejos, ousando passar por cima da autoridade da minha figura paterna.

Meu pai de fato tem uma longa lista de ex-esposas e se bem me lembro nenhuma delas gostava muito de mim. Para todas elas eu era apenas alguém que atrapalhava seus planos de receberem suas heranças quando meu pai falecesse, no entanto, Charlotte era diferente. As outras sempre procuravam um jeito de me afastar de casa e me queimavam para o meu pai inventando mentiras, Charlotte, por outro lado, dava a impressão de gostar mais de mim do que de meu progenitor.

O que para mim tornava tudo irritante e inconveniente.

Eu não precisava de uma mulher criando rivalidade entre meu pai e eu. Sozinhos nós já nos odiávamos o suficiente. E aquele velho era — e provavelmente continua sendo — um imbecil e possessivo. Ter a simpatia de uma mulher que ele considerava como propriedade dele só me traria problemas. E trouxe.

Naquele dia só de ter ela batendo na minha porta era um presságio de problema e, assim que ela caminhou alguns passos para dentro do meu quarto parando no centro dele e, sorrindo, com o sorriso perfeito e com dos dentes alinhados, eu sentia o presságio de problema. Quando seus lábios se partiram para dar lugar as palavras, eu percebi que meu dia não terminaria de forma satisfatória.

— Seu pai saiu para trabalhar. — Ela anunciou olhando para mim com expectativa. — O que você acha de ir tomar o café da manhã comigo?

Por um momento eu fiquei estático observando-a começando a demonstrar sinais de ansiedade pela demora das minhas respostas. Eu não pude evitar de pensar no que ela queria com aquilo. Charlotte e meu pai estavam juntos há dois anos. E em nenhum dia nesses dois anos nós nos aproximamos o suficiente para tomar café juntos. O máximo de nossas interações eram trocas de cumprimentos cordiais.

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⏰ Última atualização: Jul 18, 2020 ⏰

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