COMEÇANDO PELO (QUASE) FIM.

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                      Prologo:

Amélia:

Andava de um lado para o outro no consultório de doutor Fernando. Estava tão ansiosa que torcida as mãos. O médico ria da minha ansiedade.

- Calma Amélia para que tanta agonia? Chin-Mae está de alta e logo irão para casa.

Olhei para aquele senhor e sorri. Doutor Fernando já estava nos altos dos seus setenta anos e ainda exercia a profissão com força e vigor. Dando um banho em muito jovenzinho por aí. Ele trabalha com amor e afinco, passando a sua experiência a quem estivesse disposto a aprender. Ele exercia a profissão por amor e levava a sério o juramento de Hipócrates que dizia ajudar os doentes conforme a minha habilidade ou capacidade. Ele ajudou. Ajudou muito. Se não fosse por ele talvez eu e meu filho não estivéssemos aqui para contar a história.
Mas, graças primeiramente a Deus que está a cima de tudo e de todos. A doutor Fernando e toda a equipe do hospital e maternidade Therezinha de Jesus, hoje posso ir para casa levando comigo meu precioso filho.
Fui levada para lá depois de um atropelamento que sofri. Cheguei um pouco machucada, mas, isso não era nada em vista da perca eminente do meu menino. Aliás, meu meu filho foi a única coisa boa que me aconteceu nesses meses de agonia e desilusão. Parece que uma avalanche caiu sob a minha cabeça. Uma avalanche de merda. Era tanta bosta que dava para encher um container. Para começar a derrocada da minha vida, que já não era lá essas coisas, me apaixonei e me envolvi com um homem casado. E como tudo que começa errado não pode dar certo, acabei por ser abandonada pelo homem que me jurou amor eterno. Logo eu, que nunca acreditei nessas coisas fui cair no conto do vigário mais antigo do mundo. Se Letícia estivesse aqui estaria rolando de rir da minha cara, porque ela sempre dizia que um dia eu ia encontrar um homem que sacudiria meu mundo e aí num instante, eu acabaria com essa pose de mulher indiferente a sexo e a homens. Quando ela me dizia isso, eu só fazia rir e dizer que isso NUNCA aconteceria comigo. Pois é meus amigos. NUNCA digam NUNCA. E se você é dessas mulheres que como eu que acha que nunca vai se apaixonar, nunca irá se render a um homem. Espere só até você encontrar um Dae-Soeng e seu fantástico pau coreano. Bom, voltando a minha triste história, me vi perdidamente apaixonada e abandonando pelo homem que amava. E se fosse só isso já seria ruim, mas não, aquele demônio, filho de um cão, além de me largar a própria sorte, ainda me caluniou e rechaçou na imprensa, fazendo de mim uma suja destruidora de lares e enquanto ele saia como um pobre homem arrependido que se deixou seduzir por uma desavergonhada puta ocidental. Tudo isso para tirar o dele da reta e limpar sua boa imagem de homem público. Envergonhada, julgada e condenada por todos os lados eu não tive escolha a não ser sair da Coreia aonde fui com uma mala na mão e o coração cheio de esperança em tentar uma vida nova, e voltar para o Brasil rezando para que ninguém soubesse da minha vergonha.
Pois é, e quando eu pensei que todo o castigo para gorda e burra era pouco; e que minha vida estava uma merda o suficiente para adubar um terreno inteiro; um belo dia, me caio dura de madura em plena Avenida Otacílio de Lima. A minha sorte foi o sinal fechado evitando um possível atropelamento e a solidariedade de alguns transeuntes que preocupados chamaram uma ambulância para me socorrer. E mau acordei o piripaque que tive na rua, quase tenho outro quando o médico me joga nas fuças uma gravidez.
"Agora sim!", pensei, "Como se não bastasse a foda dolorida e sem vaselina que estou levando, ainda vem mais essa pra arregaçar tudo mesmo". Sozinha e agora grávida. Como? Eu me pergunto como? Todas as desgraças do mundo podem acontecer a uma pessoa só? Olha, eu devo ter sido muito filha da puta em uma vida passada. Eu devo ter sido uma daquelas pessoas que na crucificação de Jesus gritavam: "Mata!!! Mata!!!". E agora ele estava indo as forras. Jogando toda a merda do mundo em cima de mim.
A situação era: estava carregando no bucho o filho de um homem que cagava pra mim. E Que morava em outro país. E que além de rico e poderoso era influente e quando digo influente é de nível presidencial, e não no país dele não, é no nosso. Que fodeu não só a minha prexeca, mas a minha vida, me deixando mais rasteira que o chão. Nem processar esse filho da puta eu posso, porque com a influência que ele tem é capaz do processo nem chegar ao juiz.
E foi assim que sai do hospital. Pensando na merda em que estava e o que faria a seguir. E a primeira coisa que veio a cabeça foi um aborto. É gente, um aborto! Sei que muita gente irá torcer o nariz pra mim, mas pensem na minha situação; estou sozinha, falida e sem ter aonde morar, já que vendi a minha casa para me aventurar nessa empreitada na Coréia. Agora vivo num quarto e sala poupando cada centavo para não parar na rua. Agora me digam, como poderia trazer uma criança a esse mundo? Como iria cuidar dela, se no momento não estou podendo cuidar nem de mim? Eu não via outra alternativa senão essa. Decida sobre o que era melhor a fazer, decidir ir em busca de uma clínica que fizesse esse procedimento, embora não tivesse muito dinheiro para gastar, isso ainda seria melhor que cuidar de uma criança a longo prazo sem ter condições para tal. Mas eu sabia que encontrar um lugar assim não seria fácil. Um serviço como esse não se encontra em uma página na internet, e eu não poderia sair por aí perguntando, ainda mais eu, que não posso contar com amigos e família para dividir essas coisas. E aí um fato me ocorreu e uma luz se acendeu no meu cérebro e junto com ela uma lembrança. A lembrança de Silvia uma amiga de Letícia que já tinha feito um aborto. E que talvez ela ainda tivesse o contato da clínica em que fez o procedimento. Munida de coragem e cara de pau liguei para Silvia rezando para que ela ainda se lembrasse de mim. E no segundo toque ela atendeu:

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