Ainda Não Gosto de Sapatos

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— Dante, já não estamos muito velhos para isso?

— Ari, são só sapatos, ninguém vai sentir falta.

— Eu aposto que sua mãe sim – disse entre risos.

     Estávamos no parque e eu estava usando meu sapato como frisbee para Perninha. Hoje iríamos ver ternos para os bailes, mas quase todas as manhãs íamos correr no parque, gostava da nossa rotina.

— Eu estava pensando sobre as cores dos nossos ternos, você quer ir combinando? – disse sentando entre as pernas de Ari que estava escorado em uma árvore.

— Você que sabe, é nítido que tem intenções maiores que as minhas de ir aos bailes – nesse instante recebi um beijo na nuca, não havia muitas pessoas por perto naquela manhã, me arrepiei todo.

— Então iremos combinando, pelo menos nos tons. – virei para lhe dar um beijo que foi muito bem retribuído.

Gostava de me sentar assim com ele, me sentia protegido, não posso dizer que ninguém nunca mais mexeu comigo depois de Julian e seus amigos, mas com certeza não da mesma maneira. Na escola as vezes me chamavam de bicha e outros nomes pejorativos, ter Alex e Harry comigo era uma salvação. Harry não ligava para comentários, nem quando insinuavam que ele era gay por minha causa, ele é a definição de "viva o foda-se". Alex é a garota mais durona que eu conheço, ela é bissexual e diz que temos que tacar fogo em homofóbicos, ela já bateu em alguns. Ela me chamou para ir na Parada Gay com ela, e eu achei um máximo.

     Ari lida bem com os preconceituosos, na verdade ele tem um olhar mortal que assusta a maioria que tenta falar algo com ele. Ele é um amor, doce e extremamente carinhoso, eu não saberia isso se não namorássemos. Ele é carinhoso com poucos.

Hoje o almoço foi com a família Mendoza, e as irmãs de Ari estavam lá, elas gostam de mim, e isso é muito bom. Espero que Eddie do futuro goste do meu namorado, o de agora adora.

— Você está com medo de não entrarmos na mesma faculdade?

— Não. Tenho certeza que iremos pro mesmo lugar, Dante.

— Você tem certeza? – isso não saia da minha cabeça — estou com medo de nos separarmos, 4 anos é um tempo muito longo, Ari.

Estamos sentados em sua cama, meu olhar carregado de tristeza e aflição. Sua mão deslizando entre a minha para tentar transmitir um conforto. Então me joguei para um abraço. Cada dia que se passava mais perto estávamos das cartas das universidades, isso me deixava em pânico.

— Vamos aproveitar cada minuto do nosso verão juntos, Dante. – o beijo no topo da minha cabeça era algo tão confortável — Eu posso estar do outro lado do mundo que ainda serei completamente apaixonado por você.

— Mesmo? – minha voz saiu abafada pela sua camiseta.

— Me apaixonei no primeiro momento que te vi, me joguei na frente de um carro para te salvar, esperei um ano para te ver e te beijar, gastei um verão inteiro tentando entender meus sentimentos por você. – ele puxou meu rosto para cima para me olhar nos olhos — Te beijei com toda paixão que tinha, e hoje te beijo com bem mais.

     Aristóteles não era muito de longos discursos, então eu sempre admirava suas declarações. Quando ele me beijou provando sua fala, minhas borboletas provaram ser iguais da primeira vez e da segunda principalmente. Eu o amava, e não tinha dúvidas. Nossas línguas dançavam em sintonia, me sentei em seu colo, como eu gostava do nosso encaixe, gostava como nossos corpos reagiam aos beijos.

Isso me lembrou da nossa primeira vez, com nenhuma experiência e muito amor e desejo. Foi no deserto, no nosso lugar. A caçamba da picape com um colchão e muitas almofadas e cobertores virou o cenário perfeito combinado com o céu estrelado. Nossos corpos pareciam saber o que fazer mais que a gente. Lembro-me da boca de Ari me tocando nos mais diversos lugares. Lembro-me do seu sabor. O calor dos corpos combinados com o desejo, e quando ele entrou em mim achei saber dizer quantas estrelas havia no céu. O movimento como uma dança, os sons que saíam de seus lábios que em um momento estavam no meu ouvido e no outro em meu pescoço. Que som bonito foi pronunciar seu nome no meio do êxtase e da adrenalina, já havia me masturbado, mas gozar daquele jeito foi surreal.

Não nego que meus hormônios as vezes me traem, estar sentado no colo de Ari enquanto ele beija meu pescoço me deixa excitado. Sabemos que a casa está cheia de suas irmãs e sobrinhos, mas parece tão difícil parar quando se sente algo duro no meio das pernas dele. Em seus olhos vejo desejo, e juro por Deus ou qualquer entidade do universo, se não tivesse outros presentes tão perto, eu abaixaria suas calças agora. O ruim desses momentos é que não dá pra continuar, mas não é tão simples disfarçar, o de Ari então... sempre me surpreendo.

— Ficarei feliz o dia que morarmos apenas nós. – Aristóteles riu de meu comentário e fez uma careta como se concordasse.

— Não sei, acho que será mais difícil controlar as vontades sem ninguém para impedi-las.

— Talvez devêssemos evitar os quartos...

— Acha mesmo? Pois eu aluguei um quarto no hotel Palace para depois do baile – ele estava sorrindo e levantando uma sobrancelha como se me questionasse — devo cancelar a reserva?

— NÃO! Só temos dois bailes para ir, quero ter algo totalmente adolescente para me lembrar do fim do ensino médio – eu não podia esconder meu sorriso de orelha a orelha, ele então me puxou para deitar com ele, agora sem malícia... infelizmente.

No começo do ano letivo disse-lhe que queria fazer tudo que os jovens fazem, coisas que não fiz em Chicago queria tentar aqui. Ele me apoiou e disse que faria comigo, e fez. Fomos a festas, ficamos muito bebados, demos um beijo triplo com a Alex, invadimos a escola para um rolê, fomos aos jogos escolares, fizemos trilha no Parque Estadual das Montanhas Franklin, ficamos bebados e perdidos enquanto acampávamos com nossos amigos, e demos uma festa na minha casa. Foi um ano divertido.

Escolhemos 4 universidades juntos, uma delas é a Universidade do Texas de El Paso mesmo, também mandamos para Universidade da Califórnia de Berkeley, para Stanford e para Universidade do Texas de Dallas. Ao mesmo tempo que queremos muito ficar também queremos ir embora, seria incrível começarmos nossa própria vida juntos. Isso me lembra o medo de não passarmos para a mesma universidade, essa aflição está acabando comigo. Já posso dizer que toda excitação foi embora.

A tarde fomos as comprar, encontramos nossos amigos no centro, e foi uma tarde super divertida. Eram tantas cores e padrões de vestuário diferentes, não tinha uma única roupa que ficasse feia em Aristóteles, parecia tudo tão perfeito nele, deu mais trabalho para achar algo que combinasse e ficasse bem em mim do que em qualquer outro do grupo. No final achamos a roupa perfeita, elas combinavam e nos deixávamos extremamente elegantes. Devo confessar que pensei em como seria divertido tirá-la de Ari depois do baile.

Eu não sei se é normal em todos os garotos de 17, quase 18, os desejos sexuais serem tão aflorados, as vezes penso em perguntar aos meus pais, mas isso seria estranho. Ari e eu não temos uma vida sexual tão ativa, moramos com nossos pais e fica difícil, as vezes quando vamos ao deserto queremos só conversar sobre o que aconteceu durante a semana, e na maioria das vezes que nossa excitação é maior nós usamos a boca. Como eu gosto da boca dele. As vezes quando lembro desses momentos preciso dar um pulo ao banheiro, isso é normal? Eu espero que seja, porque é muito bom, acho que com o tempo vou aprender a controlar isso.

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