Noites Escuras.

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Relâmpagos cinzas se via de relance pela floresta negra e densa, bufadas e mais chicotes, um trotar avassalador e assustador marcava a noite escura com lindos fleches de luz... Quem via por mais impressionado que ficasse corria e se trancava em pequenos casebres a beira do córrego, quanto mais o barulho ficava perto, mais luzes e lamparinas eram apagadas das humildes casinhas, todos já sabiam o que estava acontecendo e todos temiam o que poderia NÃO acontecer.

A noite estava linda, ao contrario dos costumes de noites estreladas a dona lua vestia seu véu negro com pequenas pedras preciosas adornando-a que reinava friamente, estava mais que linda, pois aquela não era uma noite qualquer! Era noite de caçada!

Eu corri sem rumo, estava assustado, em pânico... Foi quando ouvi mais disparos, senti minha espinha congelar. A escuridão da noite me impedia que eu olhasse para onde correr, os galhos secos das arvores batiam em meu rosto... Tudo estava errado... Então mais disparos, senti meu braço esquerdo ser rasgado, a dor era insuportável, mas continuei correndo... Meu braço agora estava sem vida caída ao meu lado como o de uma marionete esperando alguém puxa as cordas e dar lhe vida. Outro disparo e então o que eu mais temia aconteceu, uivos de lobos ecoaram pela noite calando a floresta instantaneamente deixando apenas o silêncio mortal... Cães malditos... Pensei e logo em seguida desequilibrei-me caindo sobre o chão úmido da floresta, mais uivos de lobos ecoaram, só que desta vez perto o suficiente para sentir o mau odor que exalavam de suas bocas. Não havia como fugir, me virei deitando de costas para o chão levando a mão direita aos olhos para enxugar as lagrimas que até então eu não havia percebido, o céu mostrava a lua em sua forma plena e radiante me virei olhando para os lados e ali era um bom lugar para morrer... Poderiam me enterrar vivo..., mas sabia que meu destino seria muito pior e pior que engolir terra sendo enterrado vivo ou ser dilacerado por lobos era a tortura que iria sofrer, já imaginava os gritos que iriam ecoar pela minha garganta e então iriam preservar  meu corpo e minha sanidade para fazer todo tipo de experimento possível até se enjoarem do brinquedinho e descartar meu corpo em uma vala qualquer.

As batidas de cascos raspando contra o cascalho do chão provocava fagulhas que de nada adiantava para iluminar o breu da floresta, mas dava a sensação de poder ao cavaleiro que montava belamente sobre a luz da lua que resplandecia sobre sua armadura negra. Mais perto que os barulhos da cavalgada era o som das bestas da noite que se aproximavam rugindo e uivando a senhora lua, dona da noite.

Levei minha mão ao bolso da calça alcançando um canivete velho e gasto que carregava comigo, por mais que eu fosse fraco e pequeno eu não me entregaria fácil, minha morte não seria em vão e no fim eu levaria um comigo ou deixaria graves lesões em dois ou mais. As moitas se remexeram, não tinha vento que soprasse naquela hora da noite me levando a um estado de alerta assim me agachei sentando em cima das pernas pronto para pular caso necessário fosse, dois olhos cintilantes apareceram entre uma moita, eram avermelhados e em seu centro era fendida por um negro intenso que era adornado por paredes escarlates, ficou ali por cinco segundos ou mais me observando e eu sabia que estava prescrutando meu corpo... eu sentia seus olhos penetrarem minha jugular mesmo de longe.                                                                                Era uma sede assassina que me fazia tremer e suar, afinal a qualquer momento aquelas presas poderiam saltar da moita e cair em meu corpo.

O tempo passava, mas ele continuava me encarando, mesmo de longe eu podia ver que havia medo ali no meio daqueles olhos pedradores... Medo?... Medo!... Estava com medo de mim?... Todos sentiam... Droga!

Algo colidiu contra minhas costas, minha guarda estava baixa e meus olhos estavam voltados para o lobo a minha frente na moita com aqueles olhos frios e intensos que me esqueci de prestar atenção em minha volta. A colisão me arremessou contra o chão e então patas enormes cravaram em minhas costas, gotas de saliva caiam em minhas feridas aberta de onde meu sangue jorrava manchando o pedaço de trapo bege que usava como roupa, outro lobo saiu do mato tão veloz quanto o primeiro agarrando minha perna direita enquanto o pequeno lobo de olhos cintilantes avançava sobre minha mão esquerda arrancando-a de vez, a dor de ter os tendões sendo rasgados foi imensa... Minha visão oscilava entre o turvo e ao que de fato ocorria ao meu redor, os zunidos em meus tímpanos me deixava zonzo e eu gritava em desespero... meus gritos se podia ouvir por todo local, mas eu era um garoto condenado e eu não sabia o que fazer ou para onde correr, as vezes tudo que eu precisava fazer era aceitar a dor e então não sofrer em vão tentando viver... sim eu queria morrer, mas não daquele jeito.

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