Noites escuras 02

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ANO 2036

A luz tremeluzia dentro do pequeno casebre, lá fora o vento seguia seu curso fazendo leves assobios, um belo chiado que era agradável e até relaxante mas  havia uma prenuncia de tempestade para o anoitecer carregado nas assas do vento e com o passar do tempo o que era calmo e sutil se tornava mais forte lançando os galhos e as copas das árvores de um lado para o outro esparramando folhas e gramas pelo quintal. 

Conforme o vento ficava mais forte o pequeno barracão rangia a cada vendaval que colidia contra as tabuas de madeira deixando as luzes tremeluzirem dentro do comodo que era apertado para o movimento que ocorria dentro da casa de Lara e Max.                                               

 Max olhava horrorizado para sua esposa que suava e gritava dores de parto ao lado de uma parteira de meia idade que devia estar com uns 40 anos, mas não aparentava ser tão velha. Ele não entendia por que uma "açougueira" fazia o parto de seu filho dado os grandes hospitais que eram de graça disponibilizados pelo governo que o NOVO MUNDO oferecia contendo obstetras apropriadas devidamente formadas, instalações limpas e seguras com um tratamento adequado não só para as futuras mães como para os bebês que necessitam de cuidados certos ao nascer e isso tudo era disponibilizado até mesmo para pessoas como eles: pobres e proletariados. 

Mas isso era algo que Lara havia decidido, tanto o parto como o pré natal foi feito as cegas, ele não entendia nada daquilo e por mais que acha-se sua esposa precipitada aceitou, afinal ela era estudada e ele não.

Lara gritou mais umas três vezes colocando toda sua força para empurrar o bebe de seu ventre como a parteira aconselhava, aquela cena era assustadora para Max, suas pernas tremiam de medo e sua feição demonstravam o medo e a ansiedade que percorria seu corpo eletrizando seus movimentos que as vezes era brusco demais e outras ele se continha com medo de passar insegurança para a sua esposa.

"Mary, nós ajude..." pensou aflito.

Após muito esforço a parteira correu para os pés de trás da cama trazendo uma toalha nas mãos pronta para assegurar de embrulhar a criança assim que ela saísse do ventre de Lara. Um segundo, dois segundos e então o vento que assobiava lá fora do recinto foi silenciado pelo choro da criança que ecoou pelo pequeno comodo inundando assim os ouvidos de Max que logo em seguida tirou sua expressão apreensiva de seu rosto deixando um leve sorriso torto e bobo cair no rosto, á parteira também sorriu com a criança já no colo.

_É um lindo menino! Nasceu forte como o pai.

Disse olhando para Max e logo em seguida se ergueu caminhando em direção a Lara para lhe entregar seu precioso filho. Max a observava um pouco indignado

Ela era ruiva e  poderia até ser linda se sua beleza não fosse uma grande mentira em plasticada, nas mãos se podia ver as rugas que a mulher carregava mesmo sob a luz baixa das lâmpadas do quarto "... Uma humana tentando ser uma fada?... " Pensou com sarcasmo, a juventude não era algo que um humano poderia tocar sem efeitos colaterais, somente as verdadeiras fadas podiam tocar na imortalidade e alguém que fazia plasticas e utilizava da ciência para tentar ser imortal era desprezível. 

O choro da criança era uma verdadeira sinfonia da vida, vida que preenchia o pequeno cubículo e trazia a felicidade de uma família.

Max começou á chorar diante de sua esposa, aquela cena de seu filho e de sua esposa apagava seu preconceito em relação a parteira o levando a um estado paternal e frágil de felicidade entre outras emoções que sentia de uma só vez. 

Lara já não tinha lágrimas, estava pálida e olhava para o teto com uma expressão apática na face, onde se podia ver os danos ocorrido do parto.

_ Amor..._ Sussurrou Max.

A parteira correu com a criança enrolada em um lençol nos braços e levou junto à mãe, está pegou a criança e o silencio ensurdecedor tornou a tomar conta do ambiente rustico e caipira, uma lagrima rolou de seu rosto e depois outra, caindo na testa do bebê.

_ Amor... Você está bem?_ Tornou a repetir, mas sem resposta _Diga o nome do nosso pequeno... Disse com calma, o medo o tomava e em sua cabeça já pensava nas varias possibilidades de como culpar a parteira se houvesse alguma sequela em sua esposa.

_ Sete!_ Sua voz emergiu de sua garganta, suas palavras eram fortes e com autoridade, mas a intensidade era fraca.

_Sete!..._ Repetiu ainda com o olhar vagando pelo teto.

A luz tremeluziu enquanto lá fora as copas das arvores balançavam e pequenos redemoinhos se formavam pela floresta esparramando as folhas secas do outono pelo quintal.

_Sete?_ Perguntou atônito.

Sua esposa era mais sábia e estudada, mas ele conhecia um pouco de lendas e historias do passado onde o povo numerava seus filhos para amaldiçoar ou abençoar, se não lhe faltava a memoria era mais comum na mitologia do povo hebreu e judaico e isso era uma grande bobagem que os povos antigos seguiram e justamente por terem costumes tão bobos eles  se destruíram por pertencerem a facções de diferentes ideologias.  

_ Sete dores... Sete mortes... SETE MALDIÇÕES_ Lara proferia as palavras que saiam pesadas como chumbo até mesmo para ela, sabia que condenava seu filho sem mesmo um pecado ele ter cometido, mas julgava necessário para satisfazer seu próprio ego e seu ultimo feito, afinal ela escondia coisas que até mesmo seu marido não sabia.

_ Está doida mulher?_ Max correu a beira da cama tomando seu filho das mãos  de sua esposa que agora tentava sufoca o bebê que berrava com os movimentos bruscos, Lara soluçava e se debatia contra o travesseiro em um ataque frenéticos e avassalador, seu corpo tremia como se estivesse sofrendo um ataque epilético, sua cabeça ia e voltava de encontro com a cabeceira da cama enquanto sangue jorrava em uma fina cascata pela madeira que sustentava a cama, a parteira em desespero tentava em vão segurar a cabeça de Lara na tentativa de não deixa-la se debater ainda mais contra o móvel.

_ Eu amaldiçoo meu filho... o filho que sugou a minha vida.

Falou levantando-se  para então logo cair e nunca mais voltar.

Max corria para fora com lagrimas nos olhos deixando o bebe com a parteira ele corria desesperado com o corpo de sua esposa no colo em busca de ajuda profissional, ele sabia que desde o principio aquele não era um trabalho para uma senhora qualquer e ele se culpava pelo que estava acontecendo. Como não havia notado a depressão que assolava sua esposa durante os últimos meses de gestação? A culpa era toda dele... Por não ter vistos os sinais, por não perceber que aquele sorriso era triste, uma mascará.

Gotas de chuva caiam em seu corpo enquanto um rastro de sangue era deixado no caminho até seu carro "... me perdoa! Por favor abra os olhos, eu te amo... eu te amo não me deixe..." 

Naquela noite a vida havia nascido naquele pequeno recinto, mas junto dela a morte aguardava ansiosa para roubar mais um folego de vida, nascia à esperança de uma família completa e morria a alegria de uma família completa... No final nada foi completo, somente a doce desilusão.

NASCEU... MORREU... TODOS NASCEM... TODOS MORREM... TODOS DEVEM MORRER. NINGUÉM É PARA SEMPRE!

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⏰ Última atualização: Jul 02, 2020 ⏰

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