4-Voe

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Eu queria ser tudo
Eu queria ser nada
Eu queria correr e gritar
Eu queria ficar estagnada

—Rafa?

Abro os meus olhos e ele está bem ali, sorrindo, com um olhar terno sobre mim

—Rodolffo?–ele balança a cabeça e eu corro até ele, sem pensar, o abraçando fortemente

—Você me perdoa? Por favor...

—Eu não tenho o que perdoar, só não vai embora outra vez

—Eu sinto muito por tudo isso, eu te amo de qualquer forma, por favor, seja feliz.– a imagem foi se tornando só um borrão

Eu não queria voltar
Eu precisava ficar!

Abri os olhos lentamente, logo reconhecendo o quarto de hóspedes do apartamento da Bianca, minha vista ficou embaçada outra vez e eu não quis me mover, fiquei parada enquanto sentia lágrimas se formar e correr por meu rosto

Ontem depois da praia não tinha um motivo para dormir com a Bia, apesar de ter certa vontade de inventar qualquer um não o fiz, e isso foi um erro

Ouvi a porta sendo aberta devagarzinho depois de algum tempo e o lado oposto em minha cama se afundando

—Senti que precisava de mim, eu sei que pode parecer louco, mas eu precisava ver se eu estava certa, e infelizmente sim...

Não respondi de imediato, continuei olhando para o teto enquanto muitas lágrimas caiam, molhando todo o travesseiro, ela entendeu e apenas se deitou, esperando o meu momento, respeitosa como sempre

—Eu sonhei com ele...

—Com o meu irmão?– me virei de lado, olhando para o seu rosto, gostava de ver como ela reagia, sempre tão expressiva

—Sim, com ele!

—A vovó diria que isso é um sinal–seus olhos se encheram de lágrimas e ela sorriu, parecia estar vagando por alguma lembrança —Como ele estava? Estava de azul? Era a cor favorita dele quando criança...Seu sorriso estava iluminado como costumava ser?

—Ele estava de preto, e sim, o sorriso dele estava bonito, me deu vontade de sorrir o vendo...e ele me pediu desculpas

—O Rodolffo era um grande cabeça de vento e errava sempre, mas eu sempre soube que ele errava tentando acertar, não era culpa dele na maioria

Eu me enfiei mais na coberta, até só meus olhos ficarem de fora e nós ficamos caladas novamente, o silêncio já era algo normal entre a gente, não precisávamos falar sempre, a gente se entendia

—Tô com fome–ela disse passando a mão por sua barriga, como se fosse uma criancinha incrivelmente fofa

Ficamos mais algum tempo enroladas em cobertas mas logo fomos para a cozinha

—O que cê quer fazer hoje, Rafaella?–ela disse enquanto começava a preparar alguma coisa

—A gente pode assistir alguma coisa?Estou cansada

—Vai arrumando as coisas, eu termino aqui sozinha e a gente come enquanto assiste

E foi o que eu fiz, escolhi uma comédia romântica qualquer e esperei pacientemente Bianca trazer nossa comida pacientemente, o que não tardou a acontecer

Me encolhi um pouco, em uma tentativa falha de amenizar o frio e ela reparou nisso

—Ta com frio?Vem, eu te esquento

Abraçar a Bia era uma sensação única, coloquei meu rosto em seu ombro e respirei lentamente o perfume dela, vendo ela se arrepiar

Aquilo era divertido, ver ela reagindo a pequenas coisas, por um momento se passou por minha mente uma pergunta boba

Que sabor a pele dela teria?

Aquilo parecia tão atraente pra mim naquele momento, eu não quis pensar, coloquei meus lábios em seu pescoço e provei, dando um leve chupão ali enquanto ouvia ela suspirar

—Rafa o que você tá fazendo?–ela disse com a voz falha

Tirei minha boca dali e fui me afastando levemente, até ficar de frente com seu rosto

Seu olhar estava fixo no meu, mas depois ela o desviou para minha boca, então só fechei os olhos e esperei ansiosamente seus lábios encontrarem os meus

Era só um encostar de lábios, nada sexual, mas Bianca se atreveu a iniciar algo além disso, e eu jamais negaria algo a ela, e quando as nossas línguas se encontraram foi como se houvesse uma pequena explosão dentro de mim.

As borboletas do meu estômago finalmente alcançaram o vôo.

Lentamente ela se movia e lentamente eu retribuía, lentamente nós mostramos uma para a outra a intensidade de todos os sentimentos e concluímos que precisávamos parar, ela finalizou o beijo e se afastou, eu tinha certeza que estava me olhando, mas não tive coragem de abrir os olhos e conferir

—Rafa?

—Isso é errado– eu disse ainda sem abrir os olhos ou me mover, minha cabeça girava e girava, eu não sabia o que estava acontecendo ali

—A gente pode não falar sobre isso? Não agora– usando toda coragem que eu tinha abri meus olhos, e vi sua mão esquerda se levantando e alcançando minha bochecha que agora estava gelada

—Mas a gente precisa, Bia...

—Só não vai embora...–ela me olhou triste e eu desisti de qualquer coisa que eu iria fazer, ir embora tinha sido a primeira opção que tinha se passado por minha cabeça, eu estava com muito medo

Medo das borboletas voarem muito alto.

Eu jamais conseguiria sair do chão depois de outra queda.

***
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⏰ Última atualização: Jul 02, 2020 ⏰

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