1. Bem-vindo à minha (não) vida

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Sou um mero estudante de Psicologia, quer dizer, atualmente sou um mero estudante. Já tive a época a qual eu fui um dos mais populares da escola - no ensino médio - mas foi a pior época da minha vida.

Já sei, você deve estar se perguntando: "Como a época em que ele foi popular pode ter sido a pior época da vida dele?". Pois é. Com o tempo você vai entender o porquê eu considero essa, a pior fase da minha vida.

Eu morava em Curitiba com a minha mãe. Eu nasci lá e morei dezessete anos naquela cidade sendo livre e muito feliz, mas a vida - minha mãe - fez com que eu me mudasse às forças para a grande cidade de São Paulo.

E é aqui, em São Paulo, que eu pude "recomeçar" minha vida medíocre. Ou pelo menos pensar em recomeçar.

- Hey, Lins! Em qual grupo de estágio você vai entrar? - Me assusto com o grito de Victor que ecoa do outro lado da sala. Ele caminha até mim e passa um de seus braços por cima de meus ombros.

Por mais que hoje eu não seja popular, as pessoas insistem em se aproximar de mim, mesmo eu não falando um "A" com ninguém. O Victor, por exemplo... Nunca falo com ele, principalmente porque ele é daquele tipo de garoto comandado por outros mais populares - o que, óbvio, também o torna um dos mais populares do terceiro ano de Psicologia.

- Ainda não sei. - Tiro seu braço de cima de mim.

- Ah, qual é?! Vem para o grupo de pesquisa! - Tenta me convencer com um sorriso meia boca, mas ignoro, voltando a fazer anotações sobre a matéria.

Assim que volto a olhar para as questões projetadas no quadro branco, vejo cinco professores entrando na sala e se enfileirando em frente à ele. Eu agora luto para enxergar e conseguir copiar as escritas que estão atrás deles, até que os professores começam a falar e atrapalhar o meu raciocínio.

- Bom dia turma, viemos apresentar os grupos de estágio deste semestre. - Um dos professores falou, fazendo Victor voltar para o seu lugar. Ufa. - Bom... Como vocês sabem, entrar em um grupo de estágio é obrigatório para vocês obterem a prática em campo e para complementar as notas do semestre. Então vou começar a apresentar o meu tema e depois os professores apresentarão os temas de cada um deles. - Eu sou o professor Antony e o tema do meu estágio é 'Pesquisa epidemiológica', onde trabalharemos realizando pesquisas quantitativas sobre comorbidades. Quem se interessar em participar do meu grupo de estágio, eu estarei na sala duzentos e três o restante do dia. Vocês podem ir lá para se inscrever.

E assim foram as apresentações dos estágios. Área de pesquisa, área do esporte, psicoterapia emergencial e psicoterapia habitual.

- Alguém gostaria de se inscrever para algum grupo de estágio agora? - Nosso professor pergunta e colo minhas costas no encosto da cadeira, aguardando a gritaria, que parece a de um ensino fundamental, acabar.

- Lins! - Guilherme vem até mim. Ele é um dos que comandam o Victor. - Falei para o Victor pegar uma ficha do grupo de pesquisa para você fazer com a gente.

- Não, muito obrigado. - Suspiro e guardo meu material na mochila, aguardando dar o horário do intervalo.

A questão do Guilherme me procurar, sendo que nós nunca nos falamos, é porque a sala inteira sabe quem tem as notas mais altas da turma. E esse sou eu. É... Puro interesse.

- Você vai deixar esse estágio super fácil! - Victor me entrega uma ficha e ignoro, dando as costas para eles.

É engraçado porque eles insistem em me chamar para a maioria do trabalhos passados, os quais eu sempre faço sozinho quando os professores autorizam, coisa que eu não entendo. Por que temos que fazer trabalhos em grupos se cada um aqui busca e paga apenas pelo seu próprio diploma? Todos os trabalhos deveriam ser individuais, cada um com a sua competência em se formar, certo? Mas enfim...

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