Estava parada no meu quarto, sabendo da minha próxima visita. Era alguém que eu não esperava encontrar novamente tão cedo, mas que infelizmente, vinha de uma forma rápida em minha direção. Pude ouvir as batidas moderadas em minha porta, indicando a chegada de Dona Escuridão. Permiti sua entrada sentindo o local mais frio do que antes. Seus longos braços rapidamente me abraçaram por trás enquanto uma de suas mãos, fazia um leve carinho em meus cabelos, seduzindo-me. Seus dedos passavam por entre meus fios azuis desbotados. Escuridão veio a minha frente me encarando fixamente, um fino lamentar escorreu por meus olhos ao sentir minha mão ser entrelaçada na sua. Olhei para baixo, tendo apenas a visão de seu grande vestido tingido de preto.
_ Oh, pobre pequena. Não tenha medo, eu já estive aqui antes. - sua destra foi de encontro ao meu rosto, acariciando-o.
Ela sorriu enquanto cantarolava uma melodia antiga. Juntou nossas testas, e em meio ao meus prantos, tive a certeza de que ela havia vindo para ficar. Suas duas mãos, agora, puxavam minha cabeça para perto da sua, e de um jeito estranhamente lento, juntou nossos lábios que sussurravam em sincronia, fazendo com que nos tornássemos apenas uma. Senti o peso de Escuridão em meu peito, fazendo com que minhas pernas enfraquecessem, para logo em seguida, cair sobre meus calcanhares.
Escuridão e eu éramos amigas já faziam tempos. Ambas perdidas nos seus próprios sofrimentos silênciosos. Acabamos por nos assimilar uma com a outra, trazendo Escuridão para perto de mim, ela não nunca mais quis se afastar, até o dia em que decidiu ficar para sempre.
Lágrimas gordas decoravam meu rosto ao mesmo tempo em que meu choro desesperado ecoava no pequeno cômodo, que agora pesava tanto quanto minha conciência. As quatro paredes ofuscavam os meus sons angustiantes. Tentava esconder-me entre meus dedos pela vergonha da derrota. Minhas lágrimas começaram a inundar meu quarto. Senti Escuridão gargalhar em meu interior por ter me conssumido. Flutuava conforme o mar salgado se erguia, minha cabeça raspava o teto, até o momento em que suguei o ar, e afundei. Minhas lágrimas agora eram camufladas no meu rio de angústia feito exclusivamente de Escuridão, para ninguém mais e ninguém menos que, eu.
══════ஜΐą 𝓂𝑜𝓇𝓉 ɴ'ɛʂ† ʙɛΐΐɛ qʋɛ qʋąɴɗ ѳɴ ΐɛ 𝓋𝑒𝓊𝓉 ...ஜ══════
Abri meus olhos sentindo a iluminação clara do local me incomodando. Pisquei algumas vezes tentando me acostumar, minha cabeça estava pesada, mas não doía. Senti falta do peso de Escuridão em mim. Me levantei, só aí, percebendo o cenário onde me encontrava. Ao meu redor, tudo era branco. Sem exeções. Na verdade, não havia nada alí, além do nada. Andei para a minha frente, mas a sensação que tive foi de permanecer no mesmo lugar. Andei mais cinco passos no mesmo caminho e nada mudava. Comecei a correr logo entranto em desespero. Me sentia presa. A cláustrofobia corruía meus órgãos, me deixando nervosa. A falta de ar fez-me parar de correr. Senti uma leve brisa colidindo com minhas costas fazendo meus fios curtos se balançarem. Pequenas folhas voaram junto do vento. Elas eram um tom azul que vacilava para o violeta. Olhei para trás vendo uma grande árvore aonde eu estava, a poucos, deitada.
Parei em frente a planta que, diferente do comum, tinha seu tronco branco, assim como seus galhos. Pude perceber que alguns nomes apareciam nela, enquanto outros já alí estavam. Na superior direita de onde minha mão estava, pude ler meu nome cravado na letra curssiva, a minha predileta. Logo, o chão foi criando sua grama, suas bosboletas, seus pássaros.
Fiquei um tempo ainda observando aquele grande monumento, até que senti falta dos raios quentes do Sol contra a minha pele. Virei-me, vendo uma árvore velha, sem folhas e desgastada. Nomes também estavam por toda a sua parte, decorando-a. Senti mais um ar gelado adentrar meus pulmões, machucando-os.
Ao longe escutei uma risada suave e ao virar-me, pude ver uma garota de vestidos brancos, seus cabelos longos dividiam a mesmo cor das vestimentas e sua pele pálida, deixava-a especial, dando-a uma jeito único. Aquela era Dona Luz.
Fui ter com ela, ao mesmo tempo em que ela se aproximava de mim. Abracei-a sentindo seus braços gélidos rodearem minha cintura. Pude ter certeza de que seu perfume doce penetrava em minha roupa, do mesmo jeito que adrentrava meu nariz atiçando meu olfato. A paz de estar com Luz era tanta que senti meus olhos arderem mostrando minhas primeiras lágrimas. Essas que desceram gritando em súplicas de ajuda.
_ Eu sei que se sentes triste e confusa. Mas não culpe Escuridão, e muito menos, a você mesma. Ambas estavam só, e apoiaram-se no sofrimento alheio, apenas trazendo desgraças para si próprias. - disse Luz contra o meu pescoço, causando-me arrepios involuntários. Sob nossas cabeças, senti os prantos dos céus molharem nossos cabelos transformando-os em escorridos. - Chore. Sinta-se a vontade para se aliviar da angústia que a Vida lhe causou por todos esses anos. Sei que irá sentir saudades dela, mas agora, o único caminho é seguir para frente, e não voltar.
Olhei nos olhos dela, deixando com que lágrimas novas e mornas dançacem em sincronia em meu rosto. E em um rápido selar, senti o ar dos meus pulmões se esvaírem em total desta vez, pois eu sabia que Luz iria me levar com ela.
❝𝐸𝒾, 𝑜𝓁𝒽𝒶 𝒶 𝒻𝓊𝓂𝒶ç𝒶,
𝒸𝑜𝓂 𝑒𝓁𝒶, 𝓋ã, 𝓈𝑒 𝒹𝒾𝓈𝓈𝒾𝓅𝒶,
𝓅𝒶𝓇𝑒𝒸𝑒 𝒸𝑜𝓂 𝒶 𝓋𝒾𝒹𝒶.
𝒩𝑜 𝒸é𝓊 𝒷𝓇𝒾𝓁𝒽𝒶 𝒶 𝓁𝓊𝒶;
𝒸𝑜𝓇 𝓋𝒾𝓋𝒶, 𝒻𝒾𝑔𝓊𝓇𝒶 𝒶𝓁𝓉𝒾𝓋𝒶.
𝑅𝑒𝒸𝑜𝓇𝒹𝒶çã𝑜 𝓈𝓊𝒶..❞
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Quanto tempo eu não posto nada, ksksks. Bom, essa estória foi feita num dia chato em que assisti um vídeo que me fez ter essa idéia.
Para quem não conseguiu entender do mesmo jeito em que eu tentei explicar, tudo não passa de uma metáfora. Luz e Escuridão são apenas sentimentos sentidos pela protagonista da estória. Igualmente Gris, onde as cores representam seus sentimentos, pensamentos entre outros. Cada um tem o direito de interpretar da forma que quiser, mas foi isso que, eu pelo menos, tentei passar.
A frase escrita no meio do conto significa: a morte só é bela quando a queremos.
*Eu não revisei, então pode ter algo errado.
Obrigada por quem leu.
⇝ Aviso: esta obra foi inspirada e apenas inspirada no jogo Gris.
Bye~
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Dona Luz e Dona Escuridão.
RandomPorque entre altos e baixos, a luz e a esuridão rodeiam a mesma pessoa. ⋆✦ ﹃ ➣ Onegameshot | essa história foi inspirada em Gris. ﹄ ✦⋆