Uma chance

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Os passos apressados foram convertidos para alguns mais brandos. O rapaz baixinho respirou profundamente e soprou o ar com certa força. Havia uma veia grossa e saltada em seu pescoço que lhe denunciava. Quem lhe conhecia bem sabia que era um dos pequenos sinais do seu estado irritadiço naquele momento.

Ele não gostava de ser vigiado, muito menos seguido. Era como se estivesse preso, devendo algo. E era praticamente o que acontecia enquanto era seguido. Era bem simples. Era algo que Theo vinha praticando á dias: lhe perseguir mental e fisicamente.

Aquilo era algo particularmente irritante. E o pior de tudo o rapaz não fazia a menor questão de disfarçar. Vez ou outra quando Liam se virava ele estava lá com a maior cara de sonso, e ainda acenava na maior cara de pau. Nem ao menos parou para sentar por ali, num dos bancos da braço, pois era bem capaz do seu perseguidor sentar ali também. Aquilo tinha que parar, uma vez que já começava a afetar sua rotina.  

Ignorando o sol poente que esquentava sua nuca, decidido a por um ponto final naquela situação, Liam girou nos calcanhares. E viu a poucos metros de si, caminhando com as mãos enfiadas no casaco, a silhueta que esperava encontrar.

— EI! PAROU!

O baixinho bradou erguendo o queixo. Chamando a de quem por ali passava, ou fazia o seu lazer, assustando a sua sombra não oficial, Theo Raeken. Que viu-se mirado pela fúria ocular do mais baixo.

— Hã, oi? — Theo murmurou, aproximando-se com um passo vacilante. Encarando a face rígida do outro, aquilo parecia lhe gritar CUIDADO.  

— você está me seguindo. — O Dunbar acusou-o. Com o peito estufado. — Por que?

— Não estou. — O louro mais alto afirmou, coçando a nuca. Mas seu semblante culpado dizia outra coisa.

— vai ter a cara de pau de negar? — Liam bufou com descrença. Era muito cara de pau mesmo. A única coisa que ele queria naquele momento era que o Raeken lhe deixasse em paz, ou ao menos fosse direto ao ponto. E parasse com aquela palhaçada. Pois já começava a imaginar o rapaz aparecendo em sua casa.

Theo suspirou encarando a feição zangado do Dunbar, ele ficava perigosamente adorável daquele jeito, mas não era bom abusar. Os metros que os distanciavam rapidamente se tornaram centímetros, o suficiente para desviar de um soco.

— tudo bem, eu estou te seguindo. — esboçou um sorriso faceiro e fez uma pequena correção — Na verdade acompanhando você até em casa.

Liam fez uma careta, era algo simplesmente indescritível.

— Sabe como isso é estranho?

— O que posso fazer? Eu gosto de você!

Theo disparou, as palavras lhe vieram como uma seta que ele não podia simplesmente segura-las. Viu os olhos azulados do baixinho saltarem e sentiu suas maçãs aquecerem quando percebeu que dizer algo assim, do nada, em público, para outro cara poderia ser um pouco constrangedor. De qualquer forma. Ele nunca foi de enrolar num assunto e aquele havia se estendido mais do que ele desejava.

Os olhos de Liam se aquietaram e ele fitou o outro rapaz de cima para baixo.

— Você? Você gosta de mim? — Ele perguntou. Um sorrisinho de descrença surgiu em seus lábios comprimidos.

— É, bem, sim gosto! — Theo afirmou com altivez. Já havia falado em alto e bom som, falar outra não o mataria. — Mais do que um cara deveria sentir por outro, normalmente.

Ele murmurou, dessa vez baixo, para que só Liam o escutasse. Era estranho para si se expor tanto, se abrir, declarar-se para outro; uma vez que até então não havia sentido a necessidade de fazer. Seu coração dava solavancos em sua caixa torácica e ele quase previa um ou dois mini-infartos. O que aconteceria caso fosse rejeitado.

Do jeito certoOnde histórias criam vida. Descubra agora