Parasita

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Dedicada a @IronPrincess uwu.

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Como qualquer criança sonhadora, eu sempre quis ser como os adultos fortes e incríveis que derrotam vilões de forma heróica e arrebatadora. Poder ajudar as pessoas com o benefício de uma individualidade, uma quirk, que 80% da população tinha o privilégio de possuir. Sim, eu queria me tornar um herói profissional.

Aos meus quatro anos, a tensão na família era imensa. Era com essa idade que grande parte das pessoas descobria a sua quirk. Meus pais – e eu, principalmente – estavam ansiosos para saber qual seria meu dom. Ficaram do meu lado 24 horas por dia durante a semana que se passou, mas nada veio.

Aparentemente, eu era um dos 20% “sortudos” que nasceram com a nomenclatura quirkless.

Não despertei um resquício de individualidade sequer até meus seis anos de idade. Nesse ponto, meus pais perderam toda e qualquer esperança de seu filho ter uma quirk forte e poderosa que pudesse tirar nossa família da miséria. Eu teria que conviver com o peso da culpa de ser um qualquer, um fraco que estaria a mercê da vilania local. Precisaria da ajuda dos heróis profissionais, os que realmente tinham poder e status, para sobreviver.

Esse sentimento de fracasso me destruía por dentro.

Meu pai recebeu o último salário do ano antes de ser despedido por insuficiência – no caso, encontraram alguém com uma quirk mais útil do que a dele. Fomos aproveitar até a última cédula de dinheiro e fizemos as compras; ouvi meus pais cochichando que, se conseguissem regrar a comida, teríamos alimento o suficiente para uma semana. O que viria depois desses sete dias certamente era um mistério.

Saímos do mercado com grandes sacolas – tivemos sorte de virmos justamente em um dia de liquidação. No caminho, acabei esbarrando em um velhinho que olhava distraidamente para o chão; o que veio a seguir foi estranho.

Eu literalmente comecei a expelir água para fora dos meus dedos. Larguei as sacolas com tudo no chão – por que me deram logo os ovos para carregar? –, assustado e sem reação para nada além de espanto. Nunca tinha sentido aquilo antes, por que só agora? Por que minha quirk demorou tanto para aparecer?

Meus pais, ao contrário de mim, fizeram festa. Não que ter uma quirk de água seja algo incrível ou extraordinário, era um poder dos mais comuns, mas eu pelo menos teria chance de me profissionalizar como herói e até de me aliar ao corpo de bombeiros. Era pouco, porém o suficiente para ajudar minha família; isso me deixou feliz.

No dia seguinte, eu já não conseguia mais usar a tal quirk de água. Pensei que poderia ser alguma consequência pela falta de treinamento ou por ter despertado meu poder de forma tardia. Fui levado ao analista mais próximo e fiz uma penca de exames; esperava, muito, que não fosse algo grave.

Lembro-me até hoje de suas palavras.

"O garoto não tem nenhum indício de quirk de água, mas ele não apresenta a parte do corpo que comprove que ele seja um quirkless. De acordo com seus relatos, acredito que só possa ser uma coisa…"

O médico me pediu para tocar em seu braço; relutantemente, o fiz. Pensei no que ele ganharia com aquilo, por que tinha que tocá-lo? No instante em que minha tez alcançou a manga de seu jaleco branco, meus olhos arderam. Pisquei, abismado; estava vendo através de seu corpo. Via seus órgãos, sua circulação sanguínea, seu coração batendo… tudo.

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