Raízes

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As mãos estão sempre sendo passadas pelo cabelo, na tentativa de nunca deixá-lo desarrumado.

Ela é uma senhora vaidosa, mas, quando fala de si, recrimina-se por não ser "mais branca". A pele negra que ostenta não podia ser mais linda, ela reluz: é feita de prata, mas ela não enxerga isso.

Passou toda a sua vida acreditando que era feia, que seu cabelo "duro" não tinha mais jeito, que sua pele escura nada mais era do que um fardo que deveria carregar pelo resto da vida.

A idade pesa nos ombros, ela sorri, está feliz, sim, ela parece ser feliz, mas a mente, essa sim é a sua prisão. Carrega tudo aquilo que lhe foi ensinado e vê aquilo como uma verdade absoluta. Ela não pode mudar, não conseguiria. Tudo aquilo já faz parte de quem ela é.

Trata a qualquer homem branco como "senhor", não importa a idade. Ela é uma mulher livre, mas, ainda assim, está presa. "Preta fedida", "nega do cabelo duro", tão pejorativo, mas, uma parte dela; cresceu ouvindo aquilo ouviu tanto que passou a acreditar.

As raízes já haviam sido fincadas, não há mais nada que se possa fazer. Não importa se, legalmente, a escravidão foi abolida, se ainda hoje perdura, fazendo senhorinhas felizes, manterem a si mesmas presas em senzalas da mente.

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