Capítulo Um - Cafetaria

489 17 15
                                    

- Olha bem para ti, Melissa. Estás um caco! Estiveste a chorar a noite inteira? A drogar-te? - disse-me Yara quando me encontrou sentada no banco do campus da escola, a fumar o meu cigarro matinal.

Yara era uma das melhores pessoas que tinha comigo. Era uma rapariga bastante bonita, café com leite, com um sorriso enorme e branco que sobressaía no seu tom de pele. Preocupava-se mais comigo do que devia, devo-lhe muito.

- Passei a noite a olhar para o céu como de costume, talvez seja mesmo essa a minha droga. - disse em tom sarcástico e pensativo.

- Ainda é por causa dele? Mel, ele foi-se embora há um ano! É mais que hora de seguires em frente! - a sua testa franziu e notei que estava mesmo a falar a sério e que mais uma vez tinha mais do que razão no que dizia.

- Sabes perfeitamente que não é tão fácil como parece, quem está de fora nunca consegue ver isso. Não entendes o que estou a sentir, a revolta que mora dentro de mim. Chega de falar sobre isto, a sério. - declarei com o rosto corado de raiva e vergonha ao mesmo tempo.

- Quem me dera puder ajudar-te, juro que sim. Mas como o posso fazer se nem os próprios pais sabem o paradeiro dele, Mel? Ninguém sabe, ninguém pode adivinhar. Foi decisão dele pegar na mala às costas e deixar tudo para trás. Se ele te ama tanto como dizia, ele volta, isso te garanto. - os olhos negros dela brilhavam e no rosto dela notei sinceridade e compaixão.

- Eu aguento, não te preocupes. - menti.

Não consegui estar atenta a nenhuma aula, mesmo depois de levar o sermão habitual dos professores. Eles diziam que eu me estava a perder. O que eles não sabiam é que eu já estava perdida. Foram três anos. Três longos anos passados ao lado da minha pessoa favorita, habituei-me a ele mais do que devia. Como não podia eu estar perdida? O meu maior erro foi amá-lo loucamente, cada dia mais. Dei-lhe tudo de mim, tudo. As minhas notas desceram surrealmente, sendo que este é o meu último ano do secundário... Não era suposto isto nada disto acontecer! Eu devia estar a aproveitar ao máximo e estou completamente na merda! Bolas!

Os meus pensamentos bloquearam de repente quando senti um grande impacto. Alguém tinha ido contra mim. Merda. Sou sempre a mesma desvairada.

- Vê por onde andas miúda. - disse uma voz grossa estranhamente harmoniosa.

Era o rapaz mais bonito da outra turma do último ano. Tinha os olhos mais verdes que eu jamais tinha visto e um tom de pele agradavelmente moreno. Seguiu o caminho dele sem sequer me olhar. Se isto fosse como nos livros ou nos filmes, certamente era amor à primeira vista. Ou talvez não, visto que me tiraram a capacidade de amar mais alguém e não consigo pensar em ter mais alguma coisa seja com quem for. Ah, e fosse eu atraente o suficiente para ele.

No caminho para casa vim sozinha. Hoje evitei o máximo de pessoas possíveis, visto que é mesmo "aquele dia". A cabeça pesa-me, preciso de um café.

Dirigi-me à cafetaria mais próxima que encontrei e sentei-me numa mesa situada num canto. Noto um rapaz de estatura média, olhos castanhos chocolate e cabelo castanho-claro sentado na mesa à minha frente. Não descola o olhar de mim e sinto-me constrangida. Bebo o café normalmente e tento desviar o olhar. Tem um olhar tão misterioso, tão observador. Tão... sobrenatural.

- Dás-me a honra de me sentar ao teu lado? - diz com um sorriso confiante.

- Faz como entenderes. - tento parecer indiferente.

- Hum... Já vi que hoje não deves estar nos teus dias. Bem, chamo-me Jake. - disse mais uma vez a sorrir. Aquele sorriso... Fazia-me tanto lembrar o Caleb.

- Sou a Melissa. Qual foi o teu interesse em vires-te sentar a meu lado? - interroguei talvez um pouco árdua demais, com uma sobrancelha franzida.

- Sou um avaliador muito bom de pessoas sabias? Especialmente de olhares, mesmo distantes. Noto que algo de uma imensidade enorme te preocupa e como te vi tão sozinha, pensei que podia ajudar. Faço-o porque gostava que fizessem o mesmo comigo. - responde com a testa franzida e um rosto mais sério, porém descontraído na mesma. Noto sinceridade na voz dele.

- Talvez até tenhas razão. - disse com voz distante.

Desde que a minha avó morreu, há seis meses atrás, não consegui falar abertamente dos meus problemas com mais ninguém. Não encontrava aquele abraço caloroso e aquela proteção em mais pessoa nenhuma no mundo. Em nenhum dos meus poucos amigos, nem sequer do meus distantes pais. Foi ela que fez de mim o que sou hoje, e de certeza que não se ia orgulhar de me ver nesta bagunça. Gostava que Caleb estivesse estado presente num dos momentos mais difíceis da minha vida, o falecimento da minha avó. Mas resolveu partir sem aviso prévio... Foi tudo ao mesmo tempo, foi um dominó constante de sofrimento.

- Melissa? O que se passa? Estás vidrada a olhar para o horizonte! - acordo com a melodia da voz de Jake. Era uma voz tão calorosa e fazia-me vibrar e vibrar...

Noites ao LuarOnde histórias criam vida. Descubra agora