Capítulo Três - Gelo

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Nota: Desde já quero agradecer a quem acompanha esta minha primeira história. É muito imporante ter a motivação dos leitores para continuar, assim como ouvir opiniões e críticas construtivas! Este capítulo está um bocado grande, mas garanto que vale a pena lerem até ao fim! Algo inesperado acontecerá! Boa leitura. ♡

Passei o resto do fim da tarde/início da noite com a cabeça na lua. Até os meus pais, as pessoas mais despreocupadas que conheço, me perguntaram a razão do meu olhar tão apático. Como sempre disse que não se passava nada e eles encolheram os ombros com aquela expressão de "tanto faz" estampada na cara de ambos.

A noite caiu e uma bela lua cheia formou-se no céu. Peguei no meu maço de tabaco, no isqueiro que Caleb me tinha oferecido e dirigi-me para o telhado. Estava uma noite tão fria que o telhado estava coberto de gelo. O fumo do tabaco aquecia-me os pulmões e acalmava-me os nervos. Não paro de pensar em Jake, no sorriso dele, na voz, no olhar... Tiro o telemóvel do bolso e começo a olhar para o contato dele. Tenho um impulso enorme para lhe ligar, para vir ter comigo neste momento. Sinto-me tão sozinha, preciso tanto de alguém.

Que se dane, vou-lhe ligar.

Carrego na opção "telefonar" sem hesitar. Atendeu ao primeiro toque.

"Quem é?" - Era a voz dele. Harmoniosa como sempre.

"Sou a Melissa. Dá para vires ter comigo agora ao Richmond Park?" - Tentei que a minha voz parecesse descontraída.

"Estarei lá por volta de quinze minutos. Até já!" - Desligou. Notei felicidade na voz dele.

O parque era a cinco minutos de minha casa, portanto ainda tinha tempo de lavar a cara e arranjar o cabelo. Não me costumo aprontar muito, não ligo a nada disso, mas desta vez senti uma necessidade de estar minimamente apresentável. Passei rímel nos olhos, um batom rosa clarinho e eyeliner. Costumava arranjar-me assim quando namorava com Caleb, gostava de me sentir bonita à beira dele. Desde que ele desapareceu foram raras as vezes que me voltei a maquilhar ou a preocupar-me com a minha aparência sequer. Merda, preciso de tirá-lo do pensamento.

Passaram-se os quinze minutos. Saí de casa sem os meus pais se aperceberem e andei até ao parque. Avistei Jake ao longe. Reconheci-o porque decorei a roupa que trazia vestida, estava uma noite escura e as luzes do parque eram fracas. Aproximei-me dele, nervosa. A lua iluminava-lhe o rosto, favorecendo-lhe a cor dos olhos.

- Esperei ansiosamente por esta chamada, Mel. - Disse ele com um sorriso carinhoso no rosto.

Suspirei por dentro. Que sorriso do caraças.

- Não precisas de te preocupar tanto comigo. Preciso de companhia só isso. Senti-me sozinha. - Fui sincera e talvez um bocado rude. Porque é que eu era assim?

- Não há problema. Sabes que me podes ligar quando quiseres. - Sorriu novamente.

Senti as pernas cansadas e a tremer de frio por isso sentei-me num banco que estava situado à nossa frente. Jake sentou-se ao meu lado, talvez mais próximo do que devia.

- Tens frio? Estás a tremer. - Vi preocupação no rosto de Jake. Fazia-me realmente confusão ele mal me conhecer e preocupar-se tanto comigo.

- Não Jake, estou ótima. - Menti.

Ele despiu o casaco e colocou-o à minha volta. O meu coração acelerou com a atitude dele. Senti-me protegida como não me sentia há tanto tempo. Embora o meu corpo estivesse frio, fiquei quente por dentro. As minhas faces coraram.

- Obrigado, mas não precisavas. Veste-o tu, que aposto que tens tanto frio como eu. - Sorri-lhe. Um sorriso verdadeiro.

- Não, eu estou bem. Ter-te por perto aquece-me o coração, sabias? - O meu coração começou a bater a mil à hora, mais uma vez. Isto estava mesmo a acontecer? Tão rápido?

Fiquei calada sem saber o que dizer.

- Desculpa estar a ser assim, sei que nos conhecemos há pouco tempo, embora eu sinta que te conheço há anos. Sou uma pessoa reservada, tenho poucos amigos e não falo com quase ninguém. Foi um impulso enorme ter ido ter contigo hoje na cafetaria. Aposto que sentiste esse mesmo impulso quando me ligas-te, certo? - Olhou-me profundamente nos olhos e as suas faces começaram a ficar avermelhadas. - Pareces-me tão reservada quanto eu.

- Tens razão, sou bastante reservada, especialmente depois de tudo que tem acontecido. Senti um impulso muito forte para te ligar, se não podes ter a certeza que não te ligaria tão cedo.

- Ainda bem que o fizeste. Olha eu... - O telemóvel dele tocou interrompendo-lhe o que ia dizer. Tirou-o do bolso e olhou com a testa franzida para a chamada que estava a receber. - Desculpa, vou ter mesmo que atender.

A chamada foi rápida. Acenou com a cabeça uma vez e soltou um "vou já para aí" rápido e preocupado. Ficou com uma cara séria, cuja eu não conhecia. Era a primeira vez que o via assim, tão pouco descontraído.

- É uma emergência de trabalho, vou ter mesmo que ir. Desculpa. Quando me ligas-te fiquei com o teu número, em breve ligo-te de volta para compensar a pouca companhia que hoje te fiz. - Deu-me um beijo rápido na testa. - Prometo. - Olhou-me nos olhos e foi a correr até ao carro.

Fiquei com o casaco dele, merda. Levantei-me do banco, tirei um cigarro, acendi-o e caminhei até casa. Uma emergência de trabalho... Que idade é que será que ele tinha? Eu sou uma miúda de apenas dezassete anos. Não lhe dava mais que dezoito! Inalei o cheiro dele entranhado no casaco. Era um cheiro masculino porém doce, floral.

Abri a porta de casa com cuidado para não ter que ser questionada pelos meus pais. Afinal trazia um casaco de homem e não queria ter o trabalho de lhes dar justificações sobre a minha vida.

Tinha a cabeça repleta de pensamentos e questões. Precisava de pôr tudo em ordem, por isso dirigi-me ao telhado para a luz da lua me invadir e dar um bocado de paz antes da minha noite de sono.

Subi distraída com os meus pensamentos e não me deparo com a presença de alguém sentado a cinco metros de mim enquanto brinco com o isqueiro.

- Pelos vistos ainda tens o isqueiro que eu te dei. - Eu reconhecia esta voz. O meu corpo gelou por completo e não, não era do frio.

- C.. Caleb? - Gaguejei completamente paralisada. Fiquei sem reação.

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