Abri uma fenda no Atlântico e segurei as mãos de um rímel.

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Nos primeiros cinco dias de viagem, eu chorava toda vez que os brutamontes não estavam olhando. Isso porque percebi que não havia nada que pudesse ser feito para fugir. Infelizmente, não sou uma sereia, e estávamos, literalmente, no meio do mar.

Quando eles perceberam que eu não comia desde minha chegada, passaram a não me deixar sozinha até que comesse pelo menos metade dos pratos de comida, ou uma fruta. Até que Armário um e Armário dois, que não eram muito espertos, diga-se de passagem, perceberam que eu vomitava tudo quando eles saíam.

Eu não sabia para onde estava indo. Não sabia o por quê aqueles caras eram tão grandes, o por quê de seus olhos serem tão peculiares, ou o por quê suas tatuagens brilhavam. E eles não me forneciam muita informação além de "Você verá".

A partir do oitavo dia de viagem, recebi o "privilégio" de ir até o deck do barco. "Privilégio" este que fora confiscado, pois eu tentei me jogar para fora do barco.

Não entendo. Será que eles vão fazer algum tipo de tráfico comigo? Por isso estamos indo tão longe?

Haviam outras pessoas no barco, mas elas não pareciam estar lá a força. Era homens e mulheres tranquilos, que cheiravam a alecrim e canela. Uma mistura, no mínimo, esquisita.

Eu não viveria como escrava de ninguém. Acharia um jeito de morrer, se assim fosse necessário.

Os primeiros dias foram extremamente conturbados quando falamos de clima também. O curioso, é que não importava o quanto chovia lá fora; o deck do barco não ficava molhado. Os raios nunca caiam sob nós, somente a nossa volta. Toda a tripulação parecia completamente alheia e destemida em relação às horrendas tempestades que chacoalhavam o oceano.

No décimo dia, Afon veio, sozinho, aos meus aposentos. Ele carregava um pratinho com algumas frutas, e um copo d'água. Como de costume, sentou-se há poucos metros de mim, e cruzou os braços e pernas.

Eu bufei, sabendo que não valia a pena lutar. Comi uma maçã, metade de uma manga e de um abacate. Todos já cortados, aliás, já que aparentemente, eu era a convidada de honra.

— Quando que você vai poder me dizer onde está me levando? — perguntei, enquanto bebia um pouco de água. Eu sabia que os tripulantes não podiam me dizer. Até porque, quando tentavam, algo horrendo acontecia. Eles começavam a tremer e vomitar água. Parecia que algo havia enfeitiçado eles.

Enfeitiçado? Ok, Avalon, você definitivamente enlouqueceu. Talvez seja um truque de hipnose.

— Logo. Estamos mais perto. É que é meio relativo... Meio difícil de encontrar, senhorita Avalon. Eu realmente sinto muito. — ele respondeu. — Posso te garantir que não vamos machucá-la. Não se preocupe. Você vai ficar bem conosco.

— Acho que você não entende, Afon. Estou indo para um lugar desconhecido, contra a minha vontade. Independentemente do que eu vá fazer lá, algo em mim sempre vai relutar. — expliquei. Senti lágrimas brotarem em meus olhos e olhei para cima, para evitá-las.

Afon suspirou e tirou algo de seu bolso de couro. Um papel.

— Eu tenho uma família, sabe? Tenho uma filha. — ele me estendeu o papel. Na foto, havia uma garotinha, de cabelos vermelhos, não ruivos, vermelhos, e pele cor de amêndoa. Seus olhos eram de cores diferentes; um era verde esmeralda, e outro rosa bebê. Eles brilhavam, e ela sorria com seus dentinhos tortos, atrás de um lugar multicolor, com um castelo ao fundo.

— Ela é linda. — devolvi a foto. — Qual o nome dela?

— Avon. — ele sorriu e eu segurei um riso. Avon como em maquiagem?

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⏰ Última atualização: Jul 07, 2020 ⏰

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