ódio

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rafael,

tudo começa naquele dia pavoroso, lembra? doze de junho, dia dos namorados. estava chovendo tanto que desistimos de sair pra jantar. eu adorei a ideia de ficar jogada no seu sofá assistindo filmes românticos e comendo pipoca doce. bem, você odiou. era compreensível, fez reservas com antecedência e queria que tudo fosse perfeito. fofo.

mas o ódio tornou-se tão presente que arruinou toda nossa noite romântica, mesmo que só a sua companhia me deixasse completa. esse é o principal sentimento do nosso relacionamento, acredito eu. começamos no ódio, lembra?

treze de outubro de dois mil e dezoito, eu te odiei. no grande evento de lançamento do jogo que ajudei a projetar, você estava lá. com sua arrogância e síndrome de grandioso. fez questão de criticar rudemente toda a proposta do jogo antes mesmo de jogá-lo. você estava morto pra mim antes mesmo d'eu te conhecer.

nas semanas seguintes, foram farpas e intrigas pelo twitter. até que você, finalmente, experienciou a minha obra prima. é óbvio que você voltou até mim com o rabinho entre as pernas e cheio de elogios ao jogo. e é mais óbvio ainda que você me conquistaria com esse jeitinho de gamer triste. 

vinte de dezembro de dois mil e dezoito, você me fez chorar e eu te odiei por isso. eu estava louca e perdidamente apaixonada, você sabe. foram três horas de ligação e muita angústia, estávamos apaixonados e não queríamos admitir. nunca entendi o que fez ser tão difícil assumir, mas aconteceu. às quatro da manhã, através do celular, você disse que me amava. foi um alivio tão grande e eu, finalmente, pude dizer: eu também amo você, rafael. 

e já que estou falando do tão conhecido ódio, é melhor contar do dia que mais te odiei em toda a minha vida.

o acidente. eu lhe disse que era uma péssima ideia, mas você tinha que subir naquela maldita moto com seu amigo idiota que mal conseguia se manter de pé. mas, é claro, você não me escutou. te ver naquela cama de hospital todo machucado acabou comigo. só soube chorar e pedir a todos os deuses que tudo ficasse bem - meu peito aperta só de lembrar desse momento - mas você acordou e ainda riu do meu choro, se esticou mesmo dolorido e buscou pela minha mão. prometeu que tudo ficaria bem e, realmente, ficou. 

foi a primeira vez que eu senti medo de te perder.  

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