_Tem certeza que não quer ir lá pra casa? - disse, se ajustando no banco e soltando o cinto de segurança.
_Tá de boa! Não quero te meter em encrenca. - retruca Cebola desligando o motor, tirando a chave da ignição e o lançando na direção de Cascão _ Falei mais cedo com ele, tá tranquilo. - era mentira.
_ Mais não vai ser, tipo, bizarro? - sua voz abaixa um tom. _ O que cê vai fazer sobre aquilo? - seus olhos se estreitaram de modo insinuativo.
_ Quê? Do que você tá falando?
_ Vai continuar fingindo é? Vô refrescar a sua memória, então - disse, sentando-se de lado, para encara-lo nós olhos. _ Cebola, cê saiu pra mim, tipo, há meses. E mano, tu tem andado estranho pra caralho. Ah, mas não me leve a mal, num tô te julgando... de jeito nenhum... o Do Contra é daora, tá aprovado... e... na sinceridade, é até mais fácil de resolver que a coisa da faculdade.
_ Caralho! Você não vai esquecer disso nunca, não? Eu tava chapado! - subitamente salta para fora do carro, na defensiva.
_ Cê tá com medo das zoações dos caras, né? - seu olhar é de raiva contida e pena. _ Pô, cê esses arrombandos virem com gracinhas, eu mesmu...
_ Não fode. A - aquilo foi mentira! Eu tava zoando com a tua cara, seu boboca. Esquece isso!
_ Nananinanão, de jeito nenhum! Bêbado ou não, cê foi sincero. - disse, ao sair, contornando o carro e ocupando o banco do motorista. _ Aceita, Cebola, não tem nada de mais. Aposto que a Mô não teria nenhum problema com isso... cêis já namora mesmu, não mudaria muita coisa.
_ Fecha essa matlaca, Cascão! E vaza logo daqui , se não a Dona Lurdinha vai te enterrar vivo, e eu vô ajudar!
_ Não se esqueça, Cebola: Amor é amor.
E de seu modo naturalmente brincalhão deu partida e saio cantando pneu.
_ Vai te catar! - Cebola grita para o carro em movimento. _ E vê se cuida bem do Popó! - referia-se ao carro.
Respirando fundo, Cebola ajeita a máscara no rosto e atravessa a rua de mão única com passos largos. Para em frente a portaria do prédio de Do Contra.
Pega o celular no bolso e efetua quatro chamadas, mas todas param na caixa postal.
"Você ainda pode desistir." - fala a voizinha de sua cabeça, que, curiosamente corresponde a voz de sua namorada, Mônica. Ela é seu grilo falante, sua consciência.
Mas, não, não o faria. Afinal, ele não estava lá por isso.
Mesmo tentado a fugir, aciona o interfone e espera.
Do Contra fora de área não era novidade.
Principalmente agora.
_ Quem diabos se muda para onde Judas perdeu as bolas?! - resmunga para ninguém em particular.
O apartamento que Do Contra compartilhava com Nimbus era herança de seu falecido avô, um homem adoentado que vivera seus últimos anos recluso num um bairro rico de classe média, no Brasil.
Óbvio que os irmãos não hesitaram em conquistar o próprio espaço, mesmo que para isso tivessem como vizinhos, zumbis, e um cemitério a perder de vista.
Até então Cebola só havia ido visitá-los um par de vezes, sempre acompanhado de Mônica.
Com impaciência voltou a pressionar o interfone.
Não pode evitar, porém, olhar os arredores com certa ansiedade. A madrugada sombria e a paisagem fúnebre o fazia se sentir num filme de terror de quinta categoria.
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Enfim Namorados
RandomApós anos de brigas, términos e reatar namoros, Mônica, Cebola e Do Contra enfim arranjam um meio para que todos sejam felizes: Uma relação poliamorosa. Una-se nessa nova jornada de descobertas, sentimentos e muita treta!