O beijo que eu pedi

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Os sete minutos que eu levava para percorrer da minha casa até o colégio sempre seriam os mais longos de toda a minha vida por três motivos: um, eu era obrigado a servir de castiçal para Jihoon e o namoradinho hamster dele durante todo o percurso porque – infelizmente – fazíamos o mesmo trajeto todos os dias (maldito seja o dia que resolvi ajudar o Lee a conquistar o garoto do jornal). Dois, era uma subida infernal até os portões do colégio e minha alma sedentária de oitenta e dois anos nunca esteve em boa forma para isso. E três, as duas anteriores.

Eu não odiava a escola, não que fosse o maior adorador dela, apenas me conformei de que era uma fase na minha vida que seria obrigado a passar se quisesse, algum dia, entrar em uma faculdade – ou o que quer que as pessoas fizessem depois que terminavam o ensino médio.

Reclamar dos sete minutos de tortura também fazia parte do meu drama matinal porque eles não eram tão ruins, me davam a chance de questionar se valia mesmo a pena ir para a escola naquele dia ou se eu deveria desviar meu caminho até o parque na quadra ao lado e esperar meus pais saírem de casa para que eu pudesse voltar e dormir pelo resto do dia todo. Não que eu tivesse coragem de fazer algo assim. Era mais a cara de Jihoon fazer essas coisas.

Mas, se tinha uma coisa que fazia tudo isso valer a pena – e quando eu digo tudo isso me refiro ao ensino médio em si – era minha inspiração de vida, minha luz, a estrela mais brilhante da minha galáxia que deixava o sol caído de inveja. Era o modelo da revista do colégio também conhecido como amor da minha vida, mas as pessoas insistiam em chama-lo de Jeonghan.

- Ainda não tivemos a síndrome JH hoje? – Jihoon, cumprindo seu papel de pior amigo do mundo, me cutucou com seu cotovelo tão gentilmente quanto uma bola de basquete girando pela quadra, apenas para caçoar, como todos os dias desde que o conheci, das minhas escolhas de crush.

- Ainda não, aparentemente. – Soonyoung (aquele que eu chamei de hamster pouco tempo atrás) adorava entrar na onda do namorado e me infernizar. Acho que esse era o propósito de vida daquele casal. – Mas pode ser a qualquer momento, temos que estar preparados para correr e fingir que nunca o conhecemos.

- Podem parar agora mesmo com isso, não existe essa síndrome idiota, eu sou uma pessoa madura demais para isso.

- Não adianta tentar interromper a síndrome JH. Aceite, ela já é um fato na sua vida. – Jihoon não parecia nem um pouco abalado com o olhar mortal que eu o lançava implorando mentalmente para ele calar a boca.

- Eu nem mesmo sei do que você está falando, baixinho. – usei do meu maior argumento para abalar Jihoon, mas ele nem mesmo se mexeu, acredito eu que foi porque estava recebendo cafuné do namorado. Morro, mas nunca admito que senti uma pontada de inveja (da boa).

- Oh, aquele é o Jeonghan? Ele pintou o cabelo de rosa de novo? – numa interpretação fiel da garota do Exorcista, minha cabeça se virou para trás na direção que o Lee apontava para poder conferir esse momento glorioso no qual Jeonghan estaria (mais uma vez) com a melhor cor de cabelo que ele já teve.

No momento que meus olhos percorreram o corredor que estava se esvaziando aos poucos, percebi que Jihoon havia cutucado meu ponto fraco como vingança e que não existia Jeonghan nenhum – muito menos de cabelo rosa.

Completamente irritado e com uma leve dor no pescoço por causa do movimento exagerado, olhei para a pessoa que ainda insistia em chamar de melhor amigo que estava em cólicas de tanto rir acompanhado de seu namoradinho fofinho demais para conseguir odiar.

Maldita barraca do beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora