As Apostas de Um Ladrão

Como Chegamos Aqui ?

  "Eu não sei bem como tudo tomou essas proporções e tampouco sei como as coisas vão seguir daqui, apenas espero que consiga ver o mundo mais uma vez"

   Wimbledon era conhecido no seu bairro como um garoto sagaz mas pouco estimado, foi criado por seus tios em uma cidade grande. Seu tio era um lutador na juventude e sua tia era uma doutora, isso era tudo que Wimbledon sabia do passado de seus tios e também era tudo o que lhe diziam quando o rapaz perguntava.
  Quando se mudou tinha uns 8 ou 9 anos (nem mesmo ele sabe), no início seu tio o obrigava a treinar com ele não importando se o garoto queria ou não, alguns anos seguindo essa rotina tornou o garoto em um rebelde aos poucos, conforme os tempos se passaram, Wimbledon começava a roubar de alguns estabelecimentos e quase sempre o furto era tão bem aplicado que os donos mal percebiam, enquanto outras vezes o garoto tinha que fazer o que sabia, fugir e lutar, não importando os resultados, o garoto sempre acabava repreendido por seus responsáveis, que o davam uma certa... Punição, nada de mais já que o garoto sempre ia bem na escola e dificilmente deixava a desejar.
  Todos esses fatores o levaram para um "curso de boas maneiras", onde Wimbledon acabou conhecendo Brain, um rapaz alto e de aparência bem máscula, tinha cabelos cinzentos e uma cicatriz na bochecha.
   -Você é o garoto novo, né ?
   Disse Brain puxando uma cadeira e se sentando ao lado da mesa de Wimbledon, que por sua vez apenas deu uma olhada de canto para o rapaz.
   -Sabe... - Falou entre um sussurro no ouvido de Wimbledon - Eu fiquei sabendo de algumas coisas suas e tal... Queria saber se topa fazer um roubo comigo.
   Imediatamente a cabeça do jovem rapaz recuou enquanto seus olhos, cautelosos, vasculharam a face de Brain, não conhecia nada do mesmo e ainda assim ele sabia tanto sobre Wim.
   -Quem é você ?!
   A voz quase saiu tão alta quanto seus pensamentos, fazendo alguns colegas passarem os olhos desconfiados para esses dois, mas logo voltaram a copiar a matéria.
   -Sou só alguém como você, um cara querendo um dinheiro, vai querer ou não ?
  -Eu não roubo por dinheiro e nem por fama, apenas faço o que quero, beleza ?!
   Um sorriso animado se formou na face de Brain, como um pescador que conseguiu fazer o peixe morder a isca, este começou a mover seus dedos pela mesa como se sua mão estivesse andando sobre o indicador e o médio, os dedos foram subindo lentamente na mão de Wim e logo formou-se um "positivo" na mão de Brain.
  -Qual é ? Meu contato disse que vai ser algo muito interessante e que pode trazer coisas que sequer imaginamos. Não é por nada, mas este contato é bem confiável, sabe ?
   Por fim os olhos de Wim se reviraram e este suspirou, não custava nada dar uma olhada, em último caso só precisaria dar uma surra em um carinha de cabelo branco mesmo e então a aula seguiu, no fim da aula o rapaz enfim se apresentou e falou do lugar, Wimbledon foi pra casa se arrumar, como esperado os tios estavam dormindo, colocou uma máscara, algo que parecia uma manopla metálica e por fim saiu de casa. Ao chegar no lugar, que era bem no centro da cidade mas ainda sim muito estranho já que nunca viu ou ouviu falar daquele prédio, pouco perto dali estava um rapaz com roupas totalmente negras, uma máscara totalmente escura e com um design estranhamente parecido com a de Wim, que era a de um oni, foi possível reconhecer Brain pelo seu cabelo cinzento e pela pouca sutileza do rapaz ao acenar.
   -Cê tem algum problema, né cara ?
  Falou Wim enquanto negava com a cabeça em um tom levemente decepcionado, Brain riu de forma suave mas logo levou seu olhar ao prédio, era quase um arranha-céu mas todo fechado, algumas janelas aqui e acolá, mas somente uma porta, era muito conveniente um prédio daqueles ter somente uma porta. "Como algo desse gosto tá no centro da cidade ?" Esses e outros pensamentos zanzavam pela mente de Wimbledon, que olhou desconfiado para Brain.
   -Relaxa - Falou o cinzento - O que nós vamos roubar é um pouco diferente do que você espera...
  Com um breve suspiro, ambos entraram pela porta da frente, sequer um vislumbre do que iria acontecer passou pela cabeça de Wim, assim que entraram e fecharam a porta, se viram numa sala iluminada, de um lado se tinha um quadro que parecia ser feito de lã e do lado oposto pareciam haver diversos "buracos" que formulavam uma porta na parede, no centro da sala estava um garoto e uma garota, ambos tendo um quê de góticos e pareciam esperar por nossa presença.
  -Hey, vejo que trouxe mais um "sacrifício" para apostar, não ?
  Disse a garota com os lábios esboçando um sorriso, Wim arqueou a sobrancelha e olhou para Brain, que se manteve quieto.
  -Enfim, caso queiram participar das apostas, o garoto tem que achar a entrada por conta própria.
  Dessa vez falou o gótico com ambas as mãos nos bolsos, ambos falavam e agiam com desdém em relação aos dois "ladrões" em suas frentes. Wimbledon então entendeu que deveria encontrar a "entrada" para seja lá o que era aquilo, primeiro empurrou a suposta porta e viu uma sala ampla com um complexo sistema de alavancas, nas paredes, no teto e no chão, era como se cada uma fosse colocada de maneira totalmente aleatória. Imediatamente o rapaz recuou alguns passos, perplexo com tantas alavancas diferentes.
  -O que significa isso ? - Falou com a voz meio falha e gaguejando - Isso é algum puzzle que preciso resolver ou o que ?!
  -Ah, isso ? - O gótico se aproximou de Wimbledon e apontando para a sala - Isso é algo que ninguém ao certo sabe para que serve, provavelmente já estava no prédio quando chegamos.
  Nem é preciso mencionar que Wim estranhou completamente quando viu um sorriso zombeteiro estampado na face, então por fim o rapaz se moveu até o quadro, tirou ele de lá e viu diversas roupas presas em cabides no buraco por trás do quadro, então ao ignorar as roupas e empurrar a parte de trás daquele "guarda-roupa" o rapaz imediatamente se viu sugado para dentro daquela parede falsa, dando em um corredor, ao fundo escutava alguns gritos de empolgação mas ainda se sentia meio tonto e sem saber o porquê, logo atrás vinha Brain, porém não estava deitado no chão e nem com ânsia de vômito.
  -Vamos cara, se levante !
  Disse ele cutucando Wim com o pé, imediatamente a sensação do rapaz sumiu e ele estava já de pé revitalizado.
  -Que porra de lugar é esse ?! - Resmungou o rapaz que ainda enfatizou o palavrão
  -Esse é o lugar onde pessoas de todo o multiverso vêm para apostar e colocam suas vidas em jogo para isso.
  Por algum motivo aquilo tudo ainda conseguia fazer o mínimo de sentido para Wimbledon, parecia que sua mente encaixou as peças por si só.
  -E isso que está sentindo - Completou Brain - É o efeito da travessia para este lugar, é comum para as pessoas que vêm para esse lugar aceitarem facilmente o que ele é. Talvez seja o efeito "multi" que esse lugar dá, vem que depois explico mais.
  Então começou a puxar Wim pelo corredor e finalmente eles terminaram em uma grande arena, com as arquibancadas cheias, felizmente era onde eles estavam, podendo ver daquele ponto uma batalha feroz de duas criaturas que Wimbledon sequer poderia descrever em palavras.
  -Aqui você aposta o que quiser de seu mundo, então pode lutar por isso, parece que cada universo tem suas próprias leis e regras, todos vivem de uma forma diferente e todos eles...
   -Espera ! - Interrompeu Wimbledon impaciente - Por que tá me contando tudo isso ?
  -Bem, porque você vai se tornar um apostador, oras ! Ninguém do seu... - Parou imediatamente de falar e olhou para a arena, um dos desafiantes simplesmente partiu o outro ao meio de forma cruel e bestial - Ninguém do nosso universo participou deste torneio antes, por isso que não temos um poder como aquele ali.
  -Espera ! Quer dizer que poderia ser possível para um mero humano fazer aquilo ?
  -Humano ? É, talvez você ainda se chamasse de humano depois de mudar o funcionamento do próprio universo, apesar de que outras pessoas o chamariam de deus.
  Naquele instante os olhos de Wimbledon brilharam enquanto ele pensava no prestígio que era portar tal título.
  -Então eu vou apostar ! - Falou o ladrão enfim.