Antigamente, lá em meados do século XIX, o Nordeste ainda sofria com ataques grosseiros de homens de alma fria que, em bando, viviam e andavam por aí atrás de cidades para saquear, de pessoas para roubar e de matar qualquer um que tentasse atrapalhar. Vagavam pelas terras secas como se nem houvessem porteiras para impedi-los de invadir e matar, eram monstros de roupa de couro, montados em cavalos ferozes e armados até os dentes; prontos para terem moedas brilhantes em suas mãos. Porém, nem todos eram assim, existia uma cangaceira solitária, que conseguia saquear sozinha e botava terror nas terras em que passava, todos até lembravam do nome "Cecília Antonieta do Carmo", conhecida também como " Dona Carcará", entretanto, não era esperado que ela iria conhecer uma sensação diferente do sentimento de poder graças ao temor alheio.
Num dia tranquilo, longe de qualquer cidade, Cecília cavalgava devagar com seu cavalo negro por uma das matas de muitas que havia nos anos de 1850, até que a fome chegou a ela. Verificou sua bolsa e viu que não tinha mais nada para saciar sua fome, então resmungou descendo do cavalo:
— Não sobrou um pão, agora o que peste vou fazer numa mata dessa?
Após o resmungar, saiu uma raposa da grama alta e se aproximou de um açude para satisfazer a sede, quando o viu, a cangaceira pegou sua carabina e mirou bem na cabeça do animal. Entretanto, ela foi acertada por um galho que estava acima da cabeça dela e não foi qualquer batida leve, foi ao nível de apagá-la, afinal, o galho também era bem grosso.
Após alguns minutos, Cecília conseguiu acordar, todavia estava presa em uma árvore de siriguela com cordas feitas de folhas prendendo suas mãos, ao seu redor tinha raposas-do-sol rosnando para a cangaceira, mas elas se acalmaram quando uma cabloca apareceu, ela vestia uma bela camiseta colorida; uma calça verde com rosas nas dobras e havia flores dos diversos tipos em pontos diferentes de seus negros e lisos cabelos. Logo, a dama se aproximou da Dona Carcará e perguntou:
— O que peste faz aqui, diabo arretado? Já não cansou de vir caçar os bicho, não?
Ela tirou o chapéu e viu o rosto delicado, mas cheio de cicatrizes, e até que se surpreendeu, era raro ter mulheres cangaceiras em tal época. Cecília respondeu com grosseria:
— Diabo arretado é o senhor teu pai!
— Óie a língua! Nem sabe com quem fala!
— Num é um dos homem, então não devo nada! Mas agora pergunto; o que peste me apagou hein?
— Eu apaguei, você tentou matar um dos bichinho de Comadre Fulôzinha e acha que vai sair livre dessa? Pode tirar o cavalinho da chuva!
— Comadre Fulôzinha? Parece não passar de uma cabloca de blusa cheguei. Aliás, cadê meu cavalo?
Fulôzinha apontou pro açude onde estava lá o cavalo bebendo água tranquilamente, o que faz Cecília se sentir aliviada. Todavia, o cavalo ergueu a cabeça e mostrou a crina toda trançada, fazendo ela se irritar:
— Trançou a crina do meu cavalo?! Por acaso é filha de Saci?
— Isso que dá ter a ideia de mexer com a mata.
— Tá bom, não farei isso de novo, agora dá pra agilizar e tirar essas cordas fileiras dos meus pulsos?
— Vou tirar, mas deixe eu dar um bizu a você; nunca mais mexa com um bicho ou uma árvore dessa mata, visse?
— Tá certo, só tire logo.
A Comadre foi para trás do pé de siriguela e começou a desatar os nós que fez, mas Cecília estava bem agitada, doida para sair.
— Te aquete, mulher!— Exclamou a cabloca já terminando de tirar os nós.
Com os pulsos soltos, Cecília se levantou, pegou seu chapéu e foi atrás de seu cavalo para sair dali, mas logo a chuva começou e o cavalo saiu correndo do açude para se esconder embaixo de alguma árvore, fazendo assim a mulher ficar sem opções e preferiu se esconder também, pois sabia que seu cavalo não ia sair tão cedo. Com pena, Comadre Fulôzinha se aproximou dela com uma cesta de frutas e ofereceu a ela:
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Ao encontro da lenda
RomanceA muito tempo atrás, quando os cangaceiros ainda vagavam pelas terras nordestinas espalhando o caos, as lendas já estavam se popularizando, criaturas diferentes e curiosas andavam por diferentes ambientes e só se ouviam relatos de aparições, nunca f...