zero.

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POR FAVOR, LEIAM AS NOTAS NO FINAL.





A Sra. Cole gostava de cantar. Muitas pessoas gostavam, é claro. Mais do que isso, a Sra. Cole costumava ser uma boa cantora.

Talvez, em um mundo mais bondoso onde guerra era apenas um conceito em livros e seu nascimento não ditava sua morte, ela teria ganhado fama e dinheiro com sua voz. Ela poderia até ter aparecido na rádio. Feito grandes shows, onde iria ter encontrando um marido rico e bonito que proveria para ela. Ela tinha tido o talento para isso.

Tinha tido. Em sua juventude.

Anos fumando e bebendo e gritando com crianças rapidamente mudaram as coisas.

A voz dela, uma vez delicada e suave, tinha se tornado muito áspera e grossa através dos anos. Ela não podia atingir as notas mais, sem o fôlego necessário para tal ação, e era muito comum que ela desafinasse só enquanto falava, quem diria enquanto cantava. Martha tinha que lhe fazer chás constantemente, para a ajudar a diminuir um pouco a dor de garganta que ela sentia de tanto berrar, apesar dela insistir que um pouco de uísque e uma tragada do seu cigarro poderiam resolver qualquer problema.

Apesar disso tudo, toda vez que as bombas caiam e eles se escondiam em bunkers como ratos assustados correndo em direção aos bueiros, a Sra. Cole cantava para as crianças menores, para tentar abafar o som das explosões mesmo que todos soubessem que ela ia falhar antes mesmo dela começar.

A voz dela não era boa, não mais, e as músicas que ela cantava eram canções de ninar com letras quase tão sombrias quanto a realidade que eles estavam vivendo, mas, nos seus momentos mais fracos, Tom se deixava prestar atenção nela, ao menos se para poder ignorar os outros meninos mais velhos.

Se ela não tivesse tido nenhum álcool aquele dia, ela ia até fazer cafuné na criança mais perto dela. Era extremamente irritante. Ninguém naquele orfanato nunca tinha tocado em Tom daquela maneira, tão delicadamente, sem um toque de medo.

Ninguém a sua vida inteira, na verdade.

E a Sra. Cole iria cantar, então.

(é que quando os meninos mais velhos tentavam chamar a atenção de Tom, era puxando o seu cabelo, e eles sempre o diziam que ele era pobre e um ladrão, sempre diziam que ele tinha menos do que todos os outros órfãos, que eles todos sabiam que ele tinha que roubar para ao menos manter o seu quarto um pouco menos vazio e patético)

A Sra. Cole iria passar suas mãos pelo cabelo de um dos órfãos, mais delicada agora do que em qualquer outro momento, e Martha iria estar rezando atrás dela, apertando seu rosário ao mesmo tempo que abraçava as crianças mais novas enquanto elas choravam, e a Sra. Cole iria cantar mais alto como se isso fosse parar tudo.

(eles diziam que ninguém o amava, que sua mãe preferiu morrer a ter que o criar e que ele tinha sido expulso de todas casas pelo qual passou e a Sra. Cole não podia se livrar dele, então ela tinha começado a beber para poder o aguentar)

Martha ia beijar a sua cruz enquanto uma explosão fazia o teto tremer e um dos meninos iria empurrar o ombro de Tom com força, sussurrando com seus amigos e rindo, e Tom ia pensar que eles provavelmente estavam no inferno mesmo, e que o padre provavelmente estava certo quando o bateu com uma cruz depois do exorcismo que não deu certo e disse que Tom era o anticristo.

riddles of life,   TOM RIDDLEOnde histórias criam vida. Descubra agora