Amor de cinema (extra)

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Victor estava nervoso naquele dia. Iria finalmente chamar Eduardo para sair.

Depois de vários encontros casuais na biblioteca após o dia em que finalmente se falaram pela primeira vez, Victor sentiu que estava pronto para "seguir em frente com a relação".
Na verdade, já estava pronto há séculos, mas Eduardo nunca parecia dar o primeiro passo, então ele decidiu fazer isso por si só.

Ele não entendi aquele garoto, sinceramente. Tinha vergonha na cara o suficiente para flertar com ele, mas não para chamá-lo para um encontro. Não se fazem mais gays como antigamente.

Empurrou a porta do café onde geralmente se encontravam – sempre no mesmo dia e horário, e ouviu o reconfortante sino em cima da porta soar. 

"Mas eles não se encontravam na biblioteca?", vocês devem estar se perguntando. Pois é. Mas após serem expulsos de lá, depois de ocasiões envolvendo as risadas altas e descontroladas de Victor, eles tiveram que mudar o ponto de encontro.

Eduardo desviou os olhos do livro que estava lendo quando Victor se apoiou na mesa, ao invés de sentar com ele, como normalmente fazia.

– Você não vai sentar? – Ele perguntou.

– Na verdade não. Eu meio que estava esperando que poderíamos ir pra outro lugar hoje. – Respondeu, tentando soar casual e nada ansioso como estava realmente se sentindo.

– Que tipo de lugar? – Ele fechou o livro, levantando uma sobrancelha.

– Algum lugar tipo o shopping... – Victor tirou algo do bolso, sorrindo confiante. – Só pelo caso de, sei lá, eu ter ingressos pra "Turma da Mônica - Laços"

– Victor... – Edu parecia pronto para argumentar, mas desistiu balançando a cabeça. Ele não poderia lutar contra Turma da Mônica. Não mesmo. – Ok. Você venceu. – Victor sorriu, comemorando mentalmente.

Eles andaram até o ponto de ônibus. Ele estava esperando que fosse um dia perfeito ao lado de seu crush. Mal sabia ele o que lhe esperava.

♡♡♡

Assim que entraram no ônibus, os problemas começaram.

A calça de Victor tinha um fio solto que ele não havia percebido e que, de alguma forma, havia se enroscado em um dos pregos da roleta. Ele forçou a calça, tentando se livrar e Edu fez uma careta.

- É melhor você não puxar tão forte, se não pode... – O barulho foi alto e claro. Victor olhou para trás desesperado quando sentiu o vento bater em uma de suas pernas e Edu se encolheu ao ver o rasgo abrindo caminho pela costura. – Rasgar.

Victor teve que respirar muito fundo pra não ter um surto ali mesmo. Enquanto eles iam se sentar, ele seguiu pelo corredor tentando ignorar as risadas dos outros passageiros, o rubor em suas bochechas, sua perna aparecendo pela calça e a cara de riso contido de Eduardo. Era muita coisa pra lidar. 

Eduardo sempre tinha uma blusa de frio na mochila, mas justo naquele dia ele havia tirado, pois estava quente demais, então não havia nada para cobrir o grande estrago em sua calça.
Edu tentou conversar, em uma tentativa quase falha de distraí-lo durante o caminho, mas Victor só queria se jogar pela janela do ônibus e nunca mais olhar na cara dele. 

"Isso é o que acontece quando você tenta sair da sua zona de conforto", pensou.

♡♡♡

Quando enfim chegaram no shopping, a primeira coisa que fizeram foi entrar em uma loja de roupas para Victor poder comprar uma calça nova. Ele pegou qualquer uma na pressa, sem nem olhar cor ou formato e se enfiou no provador.

Foi quando, ao tentar subir a calça pelas coxas, percebeu que era um número menor do que ele usava. Ele quase chorou no provador.

– Você só pode estar de brincadeira. – Reclamou para ninguém em específico e forçou a calça para cima. Péssima escolha. O botão da calça voou, batendo no espelho e em seguida em sua canela. Todos os palavrões que conhecia saíram de sua boca naquele momento. 

Ele empurrou a calça de volta para baixo, mas agora ela estava entalada em suas pernas e, lutando para se livrar, ele acabou chutando o banco do provador e teve que reprimir um grito de dor quando bateu o dedinho. Porque aquelas coisas só aconteciam com ele? Era algum tipo de karma?

– Victor? – Chamou Edu, do lado do lado de fora do provador, ao ouvir um resmungo. – Tudo bem por aí?

– Hmmm, sim. Quase. – Ele fechou os olhos, batendo a cabeça de leve no espelho pela própria estupidez. Engolindo em seco e juntando o resto de coragem que ainda tinha, enfiou a cara pela cortina e sorriu amarelo pro garoto que o esperava em um dos bancos que haviam ali. – Na verdade... Você se importa de pegar outra calça pra mim? Essa aqui não serviu.

Victor pensou que ele fosse rir de sua cara (não seria a primeira vez, afinal), mas ao invés disso ele apenas sorriu e concordou, indo pegar o número certo.

Devidamente vestido, depois de muito sufoco, diga-se de passagem, eles seguiram a caminho do cinema. Victor jogou a calça rasgada em uma das lixeiras enquanto Edu ia pegar as pipocas.

A sessão ia começar em alguns minutos e Eduardo o deixou falar sobre o fracasso que era "Pequenos incêndios por toda parte" para distraí-lo da vergonha que Victor havia passado mais cedo. Mas honestamente, poderia ouvi-lo falar sobre qualquer coisa que não iria se cansar.

Eles eram os próximos da fila e quando a moça da bilheteria os chamou, Victor enfiou no bolso para pegar os ingressos.

Os ingressos. Puta merda!

Ele tinha quase certeza de que eles estavam ali.

Tateou todos os bolsos, desesperado, até perceber que havia os jogado fora junto com a calça antiga. Merda, merda, merda. Como ele era estúpido!

Olhou sem graça pela milésima vez naquele dia para Eduardo, que segurou a risada também pela milésima vez e se ofereceu para comprar novos ingressos.

A sessão estava quase vazia quando eles entraram e Victor se jogou na poltrona se sentindo um fracassado. Tantas coisas ruins haviam acontecido em um dia só que ele sentia vontade de chorar. E tudo porque só queria passar um dia bom com o seu crush e lhe proporcionar momentos felizes.

– O que foi agora? – Perguntou Edu cutucando o rosto dele de leve, que tinha uma carranca se formando.

– Eu sou uma fraude! – Reclamou e Eduardo riu alto daquela vez. – Passei tanto tempo tentando fazer as coisas darem certo que literalmente tudo o que podia dar errado hoje, deu. – Respondeu com sinceridade, o encarando envergonhado.

– Ei. – Ele colocou a mão sobre a sua, que descansava sobre o braço da poltrona que dividia uma da outra. – Você passou tanto tempo se preocupando com tudo o que estava acontecendo que mal percebeu como eu diverti hoje.

– Se divertiu rindo da minha cara, isso sim. – Ele revirou os olhos e Eduardo riu mais uma vez.

– Também. Mas não deixou de ser divertido do mesmo jeito. - Ele inclinou a cabeça, daquela forma que o fazia parecer um filhotinho. – Você é um cara legal, Victor. Mesmo se tivesse perdido a calça inteira naquela catraca, eu ainda sairia com você. – Victor revirou os olhos, mas estava sorrindo.

Ele mal percebeu quando Eduardo se inclinou levemente em sua direção e só se tocou de como estavam próximos quando seus lábios já estavam quase tocando os dele. E quando eles finalmente se tocaram, Victor sentiu que poderia derreter naquela cadeira.

Era uma sensação inexplicável.

Ele sempre tinha acreditado nesse lance de "alma gêmea". Parte dele sempre acreditou que, quando duas pessoas estão destinadas a ficarem juntas, uma espera pela outra até o momento de se encontrarem. Mas aquilo sempre foi apenas fruto de sua cabeça, até aquele momento, quando Eduardo apartou o beijo, as bochechas vermelhas de vergonha, e sorriu. 

Sim, naquele exato momento, quando seus dedos se entrelaçaram e os olhos se encontraram, qualquer outra coisa perdeu a importância e só existiu aquele momento.

E no fundo eu soube que, de todas as outras almas, e de todas as outras metades, ele era a sua.

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