Ainda sentada dentro do carro, Lauren encosta a cabeça no banco e solta um suspiro. É um suspiro levemente denso, que ameaça a embaçar o vidro do carro. O verão acabou, a massa de ar fria se aproxima do continente e tira o sol do céu para aquela tarde. Mas não era um problema, o sol de inverno chegaria em pouco tempo.
É um dia nublado, meio solitário, meio azulado. Os pinheiros não se balançam, suas folhas, neste caso, não têm aquela oleosidade que as árvores litorâneas têm. Lauren saiu da cidade cosmopolita que fazia divisa com o mar - o ar salgado, também chamado de maresia, costuma deixar tudo oleoso. As janelas das casas rangem, tudo oxida mais rápido. Como deixou aquela zona, após fechar seu escritório horas atrás, estava livre daquele ar salgado carregado.
Passou o dedo médio pelo volante, contornando-o. Virou de leve a cabeça e fitou a casa daquela distância. Era uma casa de madeira, não muito grande, não muito pequena. Não era noite, mas a luz de fora da casa estava acesa por causa das nuvens escuras. Haviam algumas vacas adiante dos hectares e, mais ao fundo, tinha um açude. Lauren deu uma boa olhada nele, sabendo que em breve ele se encheria e transbordaria.
Lauren se assustou com um barulho alto. Era Max. O vira-lata veio correndo em direção ao carro, passando pelo gramado. Ela se desvencilhou do cinto e abriu a porta do carro. O cachorro não latiu, mas abanava o rabo. Ficou em pé e encostou as patas no corpo da mulher. Lauren deixou escapar um sorriso, estava em casa.
O sorriso foi perdendo a força, no entanto. Viu seu pai Michael. Fechou a porta do carro e caminhou até ele, sendo rodeada por Max.
- Eu tinha um pressentimento que tu ia vir. - Disse ele.
Lauren não se aproximou o suficiente para dar um abraço, e Michael também não fez questão de se aproximar. Embora a tensão, isso não o impediu de analisar Lauren e concluir que ela estava mais alta.
- Já tá crescida. Ou eu que encolhi.
- Você que encolheu.
Ele passou as mãos nas calças e foi até o carro de Lauren para pegar a mala. A morena foi até a área da casa e deixou correr os olhos pelo chão, procurando alguma coisa.
- O que foi?
- Aquelas botas ali são tuas? - Perguntou Lauren, apontando para um par de botas preto.
Michael foi até ela e largou a mala no chão. - São minhas botas pra sair.
Lauren torceu um pouco a cara.
- Vou ter que ir comprar um par então.
- Compra amanhã, hoje o dia já deu.
- Eu não disse que ia comprar hoje.
Michael soltou a respiração e entrou pra dentro de casa, meio amargurado. Lauren estava do mesmo jeito. Era um pouco complicado, Michael era um pai muito autoritário e Lauren era uma filha teimosa. Por motivos assim, tentavam não ficar um no caminho do outro. Essa era a razão para Lauren dar um tempo do trabalho, ela sabia que podia ir para casa e ter um tempo descansada, claro, desde que os dois não conversassem.
Michael adentrou a casa e Lauren saiu dali pra caminhar em volta do sítio.
O gramado-mato vai se afundando à medida que vai caminhando. A grama estava fofa e um pouco alta, mas nada de alarmante para se preocupar com cobras. O sítio era cercado de pés de mandarins e Lauren não pode deixar de sorrir ao se lembrar do gosto da fruta, especialmente no inverno. Gostava de pegar uma, logo cedo pela manhã, descascar e comer caminhando sob o sol fraco de estação.
Lauren parou no meio do campo e olhou em volta. Viu a cerca mais adiante que determinava o limite do terreno. Ela sabia que dali, se pulasse a cerca e fosse caminhando toda vida, chegaria numa lagoa. Eram quinze minutos de passadas normais até lá e, enquanto não visse as águas, tudo era grama, como um tapete verde. Mas nada adianta ir até a lagoa com aquele tempo nublado, seria uma tragédia. Para se caminhar no campo, precisa ter sol - não muito forte, não muito fraco - um céu azul com ou sem nuvens e uns mandarins na mão.
Sabendo que tinha que esperar pelo dia perfeito, Lauren deu um suspiro frustrado e decidiu dar meia volta.
Sentiu alguns pingos de água sob sua cabeça. Depois veio mais alguns, um atrás do outro, e ali soube que tinha que aumentar os passos se quisesse chegar até o carro e checar se os vidros estavam fechados.
- Onde tu vai?!
- Fechar as janelas! - Gritou Lauren, correndo levemente curvada. A chuva se intensificou rapidamente.
Viu que os vidros estavam fechados, mas Lauren entrou nele do mesmo jeito. Manobrou o carro para baixo de uma grande árvore, alguns metros dali, onde estava estacionada a caminhonete de seu pai.
[...]
- Eu tava pensando em fazer um galpão.
Disse Lauren, ao entrar dentro de casa. Michael recém tinha se sentado no sofá, e Max estava do seu lado. - Não gosto do carro exposto ali fora. Não dá pra deixar ele ali em dia de vento, é pedir pra ter um galho em cima do capô.
- Carro de cidade não aguenta vento. A caminhonete tá muito tranquila ali.
Lauren revirou os olhos. Seu pai conseguia achar defeito em tudo.
- Não implica com o meu carro! - Resmungou. Michael deu uma risadinha. Lauren se jogou no sofá e esticou a mão pra fazer carinho no cachorro. - Quero fazer o galpão de qualquer jeito. Tu não pode deixar as coisas espalhadas, tem que arrumar um lugar pra botar os bicho, as vacas não podem ficar soltas em dia de chuva, pai!
Michael disse num tom indiferente: - Não preciso me preocupar com os bicho.
Lauren mordeu a bochecha, mas não segurou a língua
- Nunca vi pessoa tão sem coração quanto tu, Michael.
A morena se levantou, sem esperar a resposta de seu pai e foi em direção ao seu quarto.
Jogou-se na cama e suspirou, sabendo que seriam dias complicados.
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Meet Me On The Meadow
FanfictionApós meses de projetos do trabalho, Lauren se sente esgotada. Ela volta às origens, para a fazenda de seu pai. O relacionamento entre os dois se estreita após uma descoberta.