página 1 - enxergar.

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Eu enxergo a vida de um jeito diferente. Diferente de todas as outras pessoas. Você pode ser a pessoa mas sensível e curiosa, pode ter uma boa visão, mas você sempre vai acabar não percebendo, não prestando atenção, em coisas que eu provavelmente vou prestar. Como o canto dos pássaros, o cheiro das coisas, ou o toque das pessoas que amamos...

Perdi a visão com dez anos de idade, e não é tão ruim quanto você deve estar pensando. E por favor não tenha pena de mim, porque sou grata. Grata pela minha vida! No mesmo dia em que perdi a visão, também perdi a minha irmã. Ela estava dirigindo e atendeu uma ligação do namorado - péssima ideia - Ele queria terminando o relacionamento. Ela "desabou", na mesma hora derrubou o celular e perdeu o controle. Eles se amavam, bom, ela o amava. Batemos em outro carro e o nosso capotou. Eliza - minha irmã - morreu na mesma hora. Eu bati a cabeça na janela do carro, e os vidros perfuraram os meus olhos. Tive "sorte" de não ter morrido. Desde aquele dia não enxerguei mais nada, já tentamos vários procedimentos, mas nada deu certo - já desisti.

Quando eu era pequena, costumava pegar os cadernos e livros da Eliza e escrever: ASHLEY STEWART ESTEVE AQUI! Ela brigava comigo, e os meus pais me colocavam de castigo. Mas mesmo com os castigos, eu continuava fazendo isso, era o meu jeito de chamar a atenção dela. Sua voz ainda ecoa na minha cabeça. As lembranças ainda estão vivas. Apesar de já ter passado sete anos, ainda tenho saudade dela.

Se a minha vida fosse um livro, seria com um passado trágico, um presente monótono e sem um final feliz. Os livros começam com os personagens sofrendo, e no final sendo felizes e provavelmente encontrando o amor de suas vidas. Mas na vida real nem sempre é assim.

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