página 4 - rotina.

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Meu despertador toca, me arrancando do meu sono profundo. Levanto ainda um pouco sonolenta, pego a minha bengala e vou escovar os dentes. Já me acostumei a escovar os dentes sem enxergar, mas ainda é difícil não poder me ver no espelho.

Desço as escadas, e como sempre estou sozinha em casa. Minha mãe e o namorado dela, foram trabalhar, e o Ethan está no curso de espanhol. A pior coisa é o silêncio, não gosto de ficar sozinha.

Continuo bebendo o meu suco de uva, até que escuto, uns latidos vindo na minha direção. É o Bob!

"Oi! Meu bebê!!" Os cachorros devem achar que os humanos tem algum parafuso solto. Por que quando vamos falar com bebês ou cachorros fazemos esse tipo de vozinha de criança?

Ele continua latindo sem parar, e já sei o que ele quer. "Vem amigão, vamos dar umas voltas" digo e pego a coleira. É um pouco difícil colocar com ele pulando, mas eu consigo.


CÃO GUIA

Eu ganhei o Bob uns meses após o acidente. Quando ele chegou, eu insiste para que ninguém me falasse como ele era. Queria imaginar cada detalhe dele. Eu dizia que ele era rosa, e o super poder dele era me guiar, como se fosse um mestre sábio.

No começo eu não sabia, para que servia um cão guia. Aos poucos fui entendendo que é um tipo de cão de assistência. É um animal adestrado para guiar pessoas cegas ou com deficiência visual grave.

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Continuamos andando, e deixo o Bob me guiar, ele conhece essas ruas melhor que qualquer um.

De repente o Bob começa a ficar acelerado e latir para alguma coisa, que não faço ideia do que é. "Calma!!" Grito tentando fazer ele parar, mas obviamente isso não funciona, e ele continua latindo bem alto.

"Tudo bem?" Uma voz grave - com certeza de um garoto - me pergunta, e fico por um momento tentando ter certeza de que está falando comigo.

"Meu cachorro não se acalma" digo, e me agacho devagar, para tentar fazer o Bob se acalmar, mas ele continua pulando.

"Culpa do gato" o garoto diz em um tom de diversão - não sei porque, mas estou um pouco envergonhada com a presença dele.

"Tinha que ser" É a única coisa que eu consigo disser. O Bob aos poucos vai parando de latir, acho que o gato foi embora.

"Você precisa de alguma coisa?" Ele pergunta de um jeito insistente, e eu respondo que não, mas eu queria mesmo era saber o nome dele. Antes que eu tome coragem de perguntar, ele sai andando.

No caminho de volta para casa, só consigo pensar no tal garoto. E no quanto o meu coração acelerou só de ouvir a voz dele. Tento não pensar nisso o resto do dia, mas fica quase impossível, quanto mais eu tento, mais eu penso.

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