Harrbill: Veneno

1. Caixas.

O último ano foi intenso, até que enfim me formei. Mas o lado ruim é que tô sem rumo.

A verdade é que minha perspectiva de vida e vontade de viver foram para a cova, junto com minha mãe.

— Harry, o que vai fazer agora?

— Conhecer o campus, eu acho. - só  de ver as caixas e malas esperando para serem organizadas me dá cansaço.

— Vai ser bom pra você, prometo! Agora arruma essa bagunça, eu tenho que ir!

É incrível como as palavras de Violet sempre soam como uma ordem, uma ordem que deve ser seguida imediatamente. Deve ser coisa de irmã mais velha.

Violet se despediu orgulhosa pela minha decisão de ir para a faculdade, isso por si só me deixa alegre, apesar de estar aqui apenas para agradar as pessoas ao meu redor.

Depois de Violet ir embora me deparei com esse quarto, sem vida, úmido, escuro e sem graça, por incrível que pareça, eu e este quarto temos muito em comum.

Observando as pessoas pela janela, me perdi em pensamentos. Eu não queria estar aqui, não queria nem sequer ter levantado da cama.

— Pega isso aqui! - ordena uma voz grave e aveludada.

Quando viro-me em direção a porta, vejo ele. Seus olhos verdes me causaram um frescor imediato e o jeito com que se movia naquele sobretudo preto exalava confiança. Ele estende um estojo de guitarra em minha direção.

— Rápido! - o cigarro em sua boca atrapalha a fala.

Sem saber como reagir vou até a porta e pego o estojo, que era mais pesado do que imaginei.

Ele percebe meu fraquejo e sorri de um jeito debochado. Ele não tem cara de Trey.

— Se puder dar uma força com as caixas, seria muito útil! - aqueles olhos verdes me encaravam e eu sabia que faria o que eles pedissem.

Quando peguei as caixas do lado de fora do dormitório, avisto ele avançando no corredor.

— Ei! E as suas caixas? - grito.

— Tenho certeza que você se vira. - diz ele virando se para mim e caminhando de costas.

— Filho da mãe! - uma raiva abrasada cresce em mim.

— Foi mal por isso, o Bill costuma ser sacana. - diz um garoto atrás de mim.

Largo as caixas no chão. — Você deve ser o Trey.

— É Troye! - ele corrige. — Pode me ajudar com as caixas? - ele coça o topo da cabeça deixando os cabelos vermelhos ainda mais bagunçados.

Depois de ajudar com as caixas, Troye me convidou para sair, haveria uma festa de todas as irmandades juntas, ele me disse que era obrigatório ir, pois depois disso as irmandades passariam a organizar suas festas separadamente. Obviamente não quis ir. Não tenho curiosidade alguma de saber como são as tão faladas festas de irmandades.

— Harry! Você está ai! Por que não me avisou que chegou no campos? Se não fosse a Violet nem saberia que você já tinha chegado. - toda vez que Zayn fala o nome da minha irmã eu estômago embrulha.

— Zayn, eu disse que chegaria hoje.

— Mas não disse que horas. - ele rebate. — A gente tem que ir nessa festa, tem tanta mina gata! - diz esfregando a palma das mãos.

— Eu tô bem aqui. - sentado na cama, cruzo as pernas e abro um livro.

— Harry o livro tá de cabeça para baixo. - ele revira os olhos. — Se você não vir, vou trazer uma companhia pra você! - ele dá uma piscadela.

— Eu vou! Mas só se você prometer que vamos pra casa a hora que eu quiser.

Ele dá de ombros. — Não me parece justo mas, se dizer sim vai fazer você sair desse quarto então... Sim.

Conheço Zayn desde o segundo ano da escola, ele é falante e as vezes pode ser bem irritante. Não somos exatamente melhores amigos, Zayn tem um estilo de vida muito diferente do meu, curte festas e bagunça, assim como a maioria. E eu, só sou um cara que não vê mais graça em tudo isso.