Capítulo 1

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Coloquei os meus óculos escuros e voltei a prestar atenção na estrada enquanto mamãe brigava com a minha irmã mais nova e mais irritante, Clara, por ela ter colocado tantas malas no bando de trás do carro. Por que ela precisa de tantas roupas para uma viagem que vai durar apenas um mês? Não é como se aquela casa de praia não tivesse uma lavanderia ou pias. Sem contra que muito provavelmente essa pirralha vai querer passar mais tempo de biquini do que outra coisa.

Vir nessa viagem foi definitivamente a pior ideias que a minha família de gente doida já teve na vida! Eles acham que o meu pai é um cara maravilhoso apesar de ele ter traído a minha mãe com uma mulher qualquer de vinte e três anos que agora torra todo o dinheiro dele com roupas de marca e viagens idiotas para lugares idiotas com pessoas idiotas (incluindo a minha irmã). Não sou nem um pouco fã de praia! Sempre fico queimada com o sol e não consigo deixar de lado essa impressão de estar comendo terra o tempo todo.

Geralmente as viagens em "família" são feitas na Europa, NYC ou qualquer outro lugar cheio de lojas da Prada e restaurantes chiques onde se paga uma fortuna para sair de lá com fome porque os pratos são muito pequenos. Eu preferia mil vezes ter ficado em casa com o meu cachorro, assistindo filmes de terror na Netflix e combinando de ir em festas Rave com os meus amigos da faculdade de Letras. Mas, como ainda vivi em baixo do teto deles e toda a minha renda vem de seus bolsos, o jeito é aceitar. Não que eu não seja grata por ter tantos privilégios. Mas seria bom fazer alguma coisa que eu realmente gosto nas férias de julho.

Aumentei o volume do som no carro e ignorei as reclamações da Clara. A gente pode até ser irmã, mas ela não tem nada de parecido comigo. Sou descontraída demais para ser minimamente comparada com uma patricinha de treze anos que chora se ouvir um "não" da mamãe e do papai. Princesinha coisa nenhuma! Ela é uma mimada, isso sim!

‒ Mãe, manda a Aria diminuir o volume! Desse jeito vou ficar com dor de cabeça. ‒ Clara reclamou. Mamãe pensou em desligar o aparelho de som do carro, mas acabou não fazendo isso. Ela sabe que o meu mal humor é muito pior do que as reclamações da outra filha dela!

‒ Clara, já estamos quase chegando. Tenta ignorar o som.

‒ Ei, isso não é justo!

O que essa pirralha sabe sobre justiça? É ela quem sempre ganha as melhores coisas! Sem falar na chantagem emocional rúcula que sou obrigada a presenciar toda vez que a bonitona quer sair com os amigos para aqueles eventos de gente chata. Os meus pais estão estragando essas meninas e eles nem se dão conta disso. Quando ela começar a dar trabalho, vamos ver quem vai rir.

‒ Eu acho que você precisa arrumar um namorado. Quem sabe assim você não fica menos idiota. ‒ Clara provocou. Não preciso de um namorado. E se eu quisesse, poderia ter um. Não é como se os garotos não gostassem de mim. Sou eu quem não gosta deles!

‒ A sua irmã não precisa de um namorado dona, Clara. ‒ nossa mãe a repreendeu, fazendo Clara gargalhar. Ela também acha que a mãe precisa de um home bonito, rico e lega na vida dela. Provavelmente para tirar onde de "tenho um padrasto maneiro" na rodinha das amigas dela.

‒ Na concepção da Clara estamos encalhadas. ‒ brinquei.

‒ Bom, eu estou mesmo. Mas a senhorita ainda vai conhecer o seu príncipe encantado. Tenho certeza disso.

‒ Príncipe encantado? E isso lá existe? ‒ dei risada.

Nunca fui muito fã dos filmes da Disney onde as garotas precisam esperar por um cara bonitão em cima de um cavalo branco com uma espalda na mão e um escudo na outra. Chega da vontade de gritar "irmã, vai resolver a tua vida!".

Férias de JulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora