AMICUS AD ARAS • woosan.

1 ― Essa festa virou um enterro.

"Don't walk in front of me... I may not follow.

Don't walk behind me... I may not lead.Walk beside me... just be my friend."

― Albert Camus.

1 ― ESSA FESTA VIROU UM ENTERRO.

Choi San e Jung Wooyoung são amigos – não, não amigos, melhores amigos. Mas as coisas, ao contrário do que pode parecer, nem sempre foram assim. Há cerca de dez ou onze meses, logo durante o início do ano letivo, quem os via trocando olhares pelos corredores aglomerados da universidade saberia de pronto que o sentimento compartilhado por ambos estava longe de ser amigável. San era só indiferença, incapaz de nutrir sentimentos negativos, mas a dose exacerbada de raiva e desgosto que Wooyoung carregava em seus olhos acastanhados estava explícita o bastante para quem quer que se interessasse em ver. E é claro que havia motivos o suficiente para justificar tal comportamento - ao menos era isso que o jovem gostava de pensar, para se sentir melhor consigo mesmo.

Jung Wooyoung tinha toda sua rotina planejada, ditada por uma série de regras que só eram quebradas em ocasiões extra-especiais (e todas essas envolviam projetos sociais ou melhores amigos em situações de risco, e nada mais). Ainda que sua melhor qualidade fosse a de ser um aluno nota dez (acreditava ele), odiava acordar cedo, e por isso todas as aulas nas quais estava matriculado começavam depois das dez. Seu corpo agradecia, mas sua grade horária bagunçada nem tanto. Mas era por este motivo que o despertador, insistente, tocava sempre às oito e cinquenta da manhã, para logo em seguida ecoar às nove, e por fim às nove e dez, hora em que ele, metodicamente, saltava para fora da cama. A coisa funcionava muito bem assim.

Também não gostava de café, e por isso optava por sucos naturais e chás doces. Você sabe quanto tempo aquelas cápsulas plásticas de café demoram pra se desfazer na natureza!? É um verdadeiro crime! Ah, é claro! É também importante ressaltar uma de suas melhores competências: era o aluno mais aplicado do grupo de ativistas da universidade Konkuk, composto em sua maioria por estudantes que, assim como ele, cursavam biologia. Yeosang, na época seu melhor amigo, já estava acostumado com todos os projetos nos quais o colega se enfiava, numa tentativa desesperada de usar suas poucas horas vagas em prol do meio ambiente e de causas desprezadas pela maioria. Não adiantava tentar fazê-lo mudar de ideia. Jung Wooyoung, além de estudioso e ativista, era também um cara teimoso. Teimoso, reservado, e que não suportava injustiças e os caras babacas dos grupos desportivos da faculdade, que tomavam banhos demorados e deixavam as torneiras abertas enquanto escovavam os dentes. Era um verdadeiro milagre não ter matado alguém até então. Yeosang, que havia escolhido o curso de direito para fazer parte de sua vida, sempre se pergunta se seu destino seria ter Wooyoung como seu primeiro cliente. Não era algo agradável de se pensar.

Choi San, por outro lado, não se apegava a calendários ou horas marcadas. Regras? Bom, ele não conseguia mesmo se lembrar da última vez em que havia se policiado para seguir alguma. San podia não ser o melhor aluno de sua turma, mas ainda assim se esforçava tanto quanto era possível para manter suas notas altas e para não reprovar em nenhuma de suas muitas matérias (o curso de design gráfico era mesmo complicado, ao contrário do que pensava). O problema de San, na realidade, era ser obrigado pela rotação da Terra a viver em um dia que durava apenas vinte e quatro horas. Gostava de correr pela manhã, assim que os primeiros raios de sol começavam a rasgar o céu, e de tomar um banho quente e demorado quando voltava para seu dormitório. Depois disso, após uma xícara generosa de café feito em sua cafeteira dolce gusto, – Deus salve a tecnologia e suas invenções incríveis! – dedicava as horas restante da manhã para frequentar suas aulas e fazer seus trabalhos.