《001》

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Kang Seo Min

2 anos atrás...

— Argh! Sua... — Rosé balança a cabeça, negando, remoendo o assunto que lhe consome a alma, a cor das bochechas passeando do alaranjado para o vermelho vivo. — Você não pode ter controle sobre tudo, Seo Min! Ninguém pode!
— Quer apostar? — digo, implicando um pouco mais antes de abrir um sorrisinho cretino, o arremate perfeito para uma piscadela marota.

Quero ver de que cor seu rosto pode ficar. Sinto um ligeiro aperto no peito. Sentirei falta disso...

— Cabeça-dura! A vida ainda vai te mostrar e... — Vejo a resposta atrevida dançar em seus lábios, cambalear no ar e ser levada pelo vento.

Rosé olha para cima de repente, distraída pelas pinceladas de luz que fazem desenhos sinistros no céu, e acelera em direção ao parque de diversões de segunda categoria.

— Quando eu disse “uma noite de despedida” não era para ter levado ao pé da letra, Roseanne. — Faço uma careta de pavor assim que ultrapassamos o decrépito arco de boas-vindas, uma guirlanda de letras desbotadas, bordas corroídas pela ferrugem, pendendo perigosamente sobre nossas cabeças. Se a entrada já está assim...
— Ouvi ótimos comentários sobre este parque.
— Onde? No obituário da cidade? Dá uma olhadinha no ótimo — faço aspas com os dedos — estado da roda-gigante e do carrossel. Olha! Só sobraram os esqueletos dos pobres cavalinhos. E a montanha-russa então? É,
no mínimo, da época dos faraós!

Rosé revira os olhos, ignora minhas piadinhas e aperta o passo pelas fileiras de barracas de algodão doce, tiro ao alvo e pescaria. Tento parecer imune, mas o ambiente decadente me gera um estranho mal-estar. Os rangidos do velho maquinário parecem uivos aflitos de correntes sendo arrastadas, e estão por toda parte. Sombras ganham vida, engolem as luzes às minhas costas, crescem no canto do olho e, sorrateiras, desaparecem em meio às pinturas descascadas e ao crepitar dos brinquedos. Um ruído estridente, de dor, emerge do galpão do trem fantasma e arranha meus tímpanos e nervos.

Um arrepio percorre meu corpo inteiro.

— Deve ser aqui por perto — matuta ela, afastando os cabelos do rosto.

Folhas secas rodopiam num balé mal coordenado ao nosso redor e são levadas para longe pelas incessantes rajadas de vento.

— Não tem nada aqui por perto além deste palhaço aí nos encarando com um sorriso psicopata. — Mostro o banner pendurado no poste à nossa frente.
— Ele é a cara daquele boneco assassino. Qual era mesmo o nome...? Ah, sim... Chucky!
— Quer parar com isso? — reclama Rosé. — Vou perguntar a alguém.
— Na boa, amiga… Tá todo mundo indo embora. Até os vendedores
ambulantes já se mandaram. Vai cair um temporal! — Confesso meu desejo colocando a culpa no céu carregado de nuvens pesadas. — Por que não voltamos outro dia? Mais cedo, de preferência.
— Não! — retruca ela, mais enfática do que nunca. — É a última noite do
parque na cidade. Preciso encont... Ah! Achei! — Rosé vibra ao se virar para o kamikaze.
— Ah, não. Se não cairmos espatifadas lá de cima, na certa morreremos de tétano — resmungo com os olhos arregalados ao avistar o brinquedo onde meia dúzia de corajosos (ou loucos de pedra!) berra e camufla o ruído pavoroso da casa de máquinas.
— Não é nada disso, sua tonta! É ali. — Há algo travesso em seu olhar quando levanta o queixo e indica uma tenda amarela atrás do kamikaze.
— Madame Nadeje? — Se estou com a testa franzida, não é porque tenho que forçar a vista para ler o letreiro em péssimo estado. — Uma cartomante? Você me trouxe aqui por causa... disso?
— Kim afirmou que a vidente é um assombro, que acertou absolutamente tudo e nos mínimos detalhes. A mulher falou sobre coisas íntimas e que...

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⏰ Última atualização: Jul 15, 2020 ⏰

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