Uma carta para você.

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Não sei o que está passando pela sua cabeça agora, talvez você esteja se imaginado me socando bastante... Eu penso que você pensou nisso quando viu meu nome no papel. Bom, a minha tá a mil, e tem sido assim faz um tempo. Não sei sequer se vai ler isso, mas enfim... Queria poder dizer que sou boa com palavras, mas nós sabemos que isso não é verdade. Isso vai soar muito como se eu estivesse conversando com você (que é, aliás, o que eu mais queria no momento). Eu só senti vontade de te escrever e parece que é o que tô fazendo agora. São quatro e cinco da manhã. Certo, esse não é um bom jeito de começar uma carta.

Já faz um tempo... Meses eu acho. Perdi total noção do tempo. Tá tudo tão diferente. Eu nem sei por onde começar... Senti tanto medo depois que parti, completamente sozinha, naquele dia. Eu não queria, mas senti. Em todos os momentos desejei que estivesse ali comigo, e de certa forma, pensar em você ajudou a me sentir menos sozinha. Eu... Não sei nem o que expressar sobre o que fiz com você e com JJ por causa dessa droga toda. A verdade é que eu só continuei com aquilo porque me sentia culpada. Culpada por ter perdido o Joel sem ter perdoado ele. Culpada por não ter tido uma conversa de verdade com ele. Culpada por ter perdido ele sem que ele soubesse que era importante pra mim, como um pai que eu nunca teria tido se nossos caminhos não tivessem se cruzado naquele dia esquisito (é a primeira vez que admito isso, até para mim mesma). Falando no Joel... Depois que JJ entrou nas nossas vidas acho que entendi melhor o que Joel fez por mim naquele hospital. Acho que finalmente entendi porque ele fez aquilo. E eu, sinceramente, agora faria o mesmo se fosse o JJ no meu lugar. É estranho pensar assim agora... Ainda estou usando o bracelete que me deu, aliás. Eu nunca tiro ele. Me traz sorte... 

Certo, foco Ellie.

Foi um caminho bem intenso até chegar onde Abby estava. Eu fiquei bem ferrada, e quando digo ferrada, eu não estou exagerando, você teria detestado me ver no estado que voltei. Eu pensei em mil coisas no caminho, inclusive quis voltar mil vezes também. Mas eu não o fiz (e talvez tenha sido melhor assim).

Eu tô viva ao menos, e você tá bem e protegida com nosso bebê. Isso já é o suficiente pra mim. Fiquei feliz em pensar que você está vivendo uma vida mais calma como queria. E, bom, se eu por acaso tivesse morrido, tudo que mais desejaria (tipo meu último desejo) seria que fosse feliz. E você está feliz (ao menos espero que esteja).

Eu sei o que deve estar pensando, sei que ainda provavelmente sente raiva, e eu não estou escrevendo isso pra pedir pelo seu perdão... Até porque, pra fazer isso, quero que seja olhando nos seus olhos, cara a cara com você (e eu sei que mesmo assim não vai ser suficiente para que me perdoe).

Eu deixei nossa família em segundo plano, e eu me arrependo disso. Tudo que mais queria (e ainda quero) é ver o JJ crescer e se tornar alguém corajoso e forte (exatamente como você e o Jesse). Falhei na minha responsabilidade como mãe(?) dele e como sua “esposa” também. Mas eu precisava terminar aquilo que comecei.

As coisas não foram como eu pensei que seriam, se é que isso importa a você saber. Abby foi embora com o garoto. Eu os deixei ir. Joel veio na minha mente naquele instante, a imagem serena dele tocando violão... Sinto falta dele. E tenho certeza agora que ele não ia querer me ver fazer o que eu quase fiz.

Ah, Dina, não tem sido nada fácil, com você tudo ficava mais leve, e agora, sem você, tudo parece um caos.

Voltei tem alguns meses já... Fui direto pra Jackson (no fundo sabia que não estariam mais na nossa casa, você e JJ). Maria me deixou voltar pra minha casa, mas eu estranhamente não vejo mais esse lugar como um lar... Inclusive, voltei na nossa fazenda tem um tempo, logo depois de uns dias de já ter voltado. Acabei deixando tudo lá do mesmo jeito (aquelas tralhas me trazem lembranças, não me sinto pronta ainda).

Desde que parti não escrevi mais no meu diário também, e acho que isso me fez muita falta, principalmente pra desabafar e surtar um pouquinho. Acho que perdi a prática... minha mão está até tremendo enquanto escrevo isso, não sei se pelo frio da madrugada ou se pela ansiedade que toma conta de mim só em pensar você lendo isso. Certo... Eu já dei muitas voltas nessa carta, você deve estar me achando idiota agora (como sempre).

Eu te amo. Amo o JJ... E como eu amo esse garotinho. É um sentimento estranho, algo tão intenso que nunca imaginei sentir. Acho que eu me apeguei até demais à ideia de dividir a responsabilidade de cuidar dele junto a você... Eu... Sinto sua falta também. Falta de absolutamente tudo de você, dos seus beijos aos abraços, de ouvir sua voz, sua risada, de ver seu sorriso e ser o motivo dele, sinto falta do seu cheiro, de te sentir. Mas principalmente, sinto falta de quando brincávamos com o JJ. Nosso garotinho ria bastante, e eu consequentemente junto (precisei e desejei por todos aqueles dias sem fim poder ouvir o som da risada do nosso garotinho de novo). Isso me fez lembrar de nossos momentos na varanda, quando ficávamos até quase amanhecer, eu tocando violão e vocês dois só me deixando com vergonha enquanto me olhavam com toda atenção do mundo. Você ainda se lembra disso?

 Enfim, tá na hora de terminar isso... Caso esteja se perguntando, Maria me disse onde você estava assim que cheguei de volta, foi a primeira coisa que eu quis saber, inclusive aproveitei disso e pedi pra que ela fosse até aí e deixasse isso embaixo da porta, para que você pudesse talvez ler, mas fique tranquila, não irei atrás de vocês, não se você não quiser que eu vá.

Eu te amo, Dina. Pra sempre.

Ellie.

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⏰ Última atualização: Jul 15, 2020 ⏰

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