(2) cinco fases

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Maria afundou a cabeça na água gelada da banheira, não queria pensar, não queria se lembrar, mas sua cabeça girava em torno do corpo jogado na sala de estar.

O seu eu psicológico diria que ela estaria passando por um momento de culpa, pela cinco fases da aceitação.

Negação, insistia em acreditar que aquilo não estava acontecendo, e provavelmente quanto mais se afogasse na banheira gelada, mais rápido acordava daquele pesadelo.

Raiva, queria entender o motivo pelo qual aquilo aconteceria justamente com ela, de tantos membros podres da família, ou caras estúpidos da faculdade, aquilo tinha que acontecer, tinha que ser ela.

Negociação, de fato, não era uma pessoa religiosa, não acreditava em um Deus que faria suas atitudes e atos mudarem de uma noite pro dia, mas, em uma fração de segundos ela pensou "E se a gente fizer uma troca, você me leva e ele fica." Porém, seu lado lógico batia mais forte na tecla.

Depressão, Sua mente novamente voltou a cena do crime, novamente para o momento em que segurou tão forte o troféu, que olhou nos olhos do homem que um dia dizia "Sim, eu quero dividir as melhores das minhas conquistas com você." Que ouviu os gritos de desespero, que sentiu as mãos fortes se debatendo contra si, tentando de alguma forma se livrar daquilo, que sentiu o sangue no rosto quando na quarta vez o troféu foi de encontro com o crânio e só parou quando sentiu o mesmo batendo no chão.

Aceitação, e por sua vez, entendia que não havia como voltar atrás, que se aquilo realmente tivesse acontecido, era pra acontecer, e que por mais que ela não aceitasse, a culpa não era dela, seu mecanismo de defesa naquele momento era apenas se proteger só isso.

Seu eu nem um pouco lógico, gritava e se afogava em uma única verdade, ela era uma assassina, uma doente, uma psicopata.

Se quer notou os sons que se faziam do lado de fora do banho, não se importava. Julgava a si mesma por nunca conseguir entender a cabeça de um suicida mas naquele momento entendia, qualquer realidade que não fosse àquela, era mais prazerosa, mas não era a real.

— Dá pra parar de se matar? – Nathalia gritou ao abrir a porta do banheiro com pressa e se ajoelhar ao lado da banheira cara, puxando a amiga de volta para a superfície. – Você tá louca, droga?

— Estava tão bom lá em baixo.. – Maria não se importou em se cobrir, estendeu o braço na direção a pia puxando um roupão amorratado, possivelmente do marido. — Onde está seus modos? Entrar no banheiro sem bater?

— Meu modos estão mortos igual o cadáver lá na sala. – Ajudou a amiga a se levantar, saindo do banheiro juntas, encontrando com Ana no corredor.

— Troca de roupa, a gente te espera aqui fora. – Nathalia a abraçou, Maria sabia que a mesma estava zangada, notou isso no aperto forte demais que recebeu, mas não disse nada. – Se pular da varanda, eu te mato.

Nathalia havia se formado como enfermeira a um bom tempo, odiava a profissão, admitia que adorava ver as pessoas chegando ao hospital com braços amputados, todos ensanguentados e gritando de dor. Maria insistia que aquilo eram traços de psicopatia e que ela deveria se tratar, mas Nathalia se achava boa demais pra qualquer psicólogo, e como garantia pra si mesma que toda aquela obsessão era nada mais que o tédio do emprego, buscou por uma área que se indentificava mais.

Quando informou para as amigas que o desejo dela até o momento era necropsia, não recebeu julgamentos como esperava, na realidade apenas confirmações de que ela se daria bem. O que de fato ocorreu. Nunca achou o emprego uma coisa fácil, nunca pensou que veria casos de crianças, bebês e jurava por tudo que não desistiria, se ela estava ali, é porquê conseguiria.

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⏰ Última atualização: Jul 17, 2020 ⏰

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