Desde bebê eu já frequentava a igreja e cá entre nós, eu adorava, era um lugar agradável no qual eu já havia me acostumado a frequentar, porém atualmente acho que eu adorava mesmo o que a igreja podia me proporcionar momentaneamente, paz. Palavra simples más que estava tão distante da minha casa, na igreja eu conseguia encontrar, era pouco tempo de culto, eu sabia que ia acabar rapidinho e que quando eu chegasse em casa, eu já não teria mais, o motivo para isso é que em casa eu tinha uma pessoa que eu amava, más que eu sabia que estaria melhor, sem. Parece contraditório dizer que eu amava uma pessoa que não me fazia bem, más era exatamente assim, durante toda a minha infância eu procurei qualidades nessa pessoa e se em algum momento ela me fazia sorrir, valia por mil momentos em que ela me fazia chorar. As vezes o que te destrói por dentro não é necessariamente uma pessoa te fazer mal, é essa mesma pessoa fazer mal a alguém que você ama. Para começar, o casamento dos meus pais foi por impulso e rebeldia, minha mãe era extremamente religiosa e não sabia que servir a Deus não significa ter que servir uma doutrina imposta pelos servos dele. Ela frequentava uma igreja com regras seguidas ao "pé da letra" , não se podia fazer coisas simples como: alisar o cabelo, usar qualquer outro tipo de roupa que não fosse saia abaixo dos joelhos ou vestidos, cortar o cabelo, usar maquiagem, pintar as unhas, tomar anticoncepcionais e etc. Essa última regrinha que citei fez com que eu estivesse aqui,pelo fato da minha mãe não poder se prevenir ela acabou gerando 5 filhos,3 meninos e duas meninas. Atualmente minha mãe diz que não queria ter tido se quer um filho, más parece que foi da vontade de Deus. Antes de se casar, já com um filho ,ela consultou uma mulher dentro da igreja e ao que parece a resposta não foi o que ela gostaria de ouvir, afinal quem é que gosta de escutar que está prestes a se casar com a pessoa errada? O fato é que ao longo dos anos ela sofreu as consequências desse casamento, meu pai,que antes era um "homem de Deus" missionário, se tornou o pior marido possível, alcoólatra, fumante, usuário de drogas, agressor e abusivo. Descrever um pai com essas palavras é algo difícil, más estou o descrevendo primeiro como marido. Presenciei inúmeras agressões, as verbais ocorriam todos os dias em que eles se encontravam em casa, más de fato as físicas eram as piores ,eu entrava no meio e pedia aos gritos para que parassem, más se quer era ouvida. Com 5/6 anos me lembro das vezes em que tivemos que nos esconder na casa de outras pessoas, ele sempre nos achava. Me lembro das vezes em que eu era obrigada a escolher entre um dos dois e de quando ele só deixava a minha mãe ir para a igreja se ela não levasse nenhum de nós com ela. O fato é que um relacionamento abusivo afeta não só você, más também todas as pessoas que estão ao seu redor. Quando meu pai agredia a minha mãe na nossa frente, ele causava dentro dela um trauma que duraria por anos e esse mesmo trauma era causado em nós, naquele tempo o sentimento era de dúvida, "horrível ele agredir a minha mãe hoje más será que amanhã ele vai me trazer doces? " , Ele dizia que eu era a princesinha dele, más nunca tratou a minha mãe como uma , contraditório escrever que eu o amava más que também amo o fato dele estar morto? Meu pai morreu quando eu tinha em média 8 anos de idade, na época, me lembro de mesmo sendo uma criança, já questionar a Deus, por que ele não pôde simplesmente fazer uma mudança radical na vida do meu pai? Por que ele não pôde separar o meu pai da minha mãe, deixando-o vivo? Fiz várias perguntas, algumas só foram respondidas recentemente, aos meus 19 anos.
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Mesmo sem entender
Non-FictionTalvez eu não consiga descrever esse livro, talvez ele me descreva e possa até descrever você.